Por que as lojas da Apple (iTunes) e Google (Google Play) têm tanta dificuldade em vender músicas, livros e vídeos no Brasil? Você já deve ter se perguntado, não é mesmo? A resposta está nas leis brasileiras e na maneira como a venda se concretiza por aqui, pois nos EUA e Europa, tudo é muito mais simples. Como funciona no “resto” do mundo: Para se vender conteúdo online é necessário ter contratos com estúdios e gravadoras. Entre estas últimas, as principais são Sony, EMI, Universal e Warner. Conhecidas no meio como Majors (as maiores, em inglês), é com elas que esta grande parte do acervo mundial. Assinado o contrato, vamos supor o seguinte cenário: um Artista A lança um novo álbum com 10 músicas. Como já existe um contrato com a gravadora, o vendedor acessa o servidor FTP dela, baixa o álbum e coloca à disposição no seu site para venda ou streaming (transmissão sob demanda). Todo mês é gerado um relatório com as vendas e/ou consumo (streaming, rádios online, etc) e o seu site paga diretamente à gravadora. A gravadora então faz o acerto com todos que tem direito sobre a música (músicos, compositores, etc).
Explicando um pouco mais: vamos supor que no álbum acima cada música pode ser cantada por mais de 1 pessoa, escrita por mais de uma pessoa, e para complicar ainda mais, a faixa pode ser um pot-pourri (que é a união de diversas músicas em uma). E como fica isso? No mundo todo, a questão da divisão de valores e percentuais é responsabilidade destes estúdios e gravadoras. Afinal de contas, eles possuem as informações necessárias para decidir essa distribuição, que acontece não só com o conteúdo online, mas também para rádios, CDs, DVDs, Shows, etc, ficando mais fácil centralizar essa informação e repasse. Já no Brasil, as coisas são um pouco mais complicadas. Aqui, cada veículo tem uma maneira diferente de lidar com a questão, e obviamente, a internet. Do meu ponto de vista, conseguiu ser o pior cenário possível. Veja porque no exemplo abaixo: Vamos supor que cada música do álbum tenha 2 autores diferentes e apenas 1 cantor, para o álbum ser colocado à venda, será necessário pedir a autorização de publicação para nada menos que 20 pessoas diferentes e ter aprovação de pelo menos 51% dos autores. Não é necessária autorização do cantor, pois essa autorização é negociada com a gravadora (menos mal). O grande problema brasileiro reside no fato de que não existe um cadastro centralizado e atualizado com informações de contato destas pessoas, bem como não existe um padrão de comunicação ou documento. Noutras palavras, é o caos total: alguns autorizam por fax, outros email, e ainda existem alguns que confirmam sua autorização por carta (pois é!). O resultado é um alto custo operacional extra para que as lojas online funcionem como deveriam, o que dificulta muito a sobrevivência delas, pois as margens de lucro costumam ser muito baixas. E, ainda, esse não é o mesmo modelo para vendas de CD físico ou apresentações Ao Vivo. Por conta disso tivemos um atraso tão grande na chegada destas lojas online no Brasil. O iTunes da Apple já tem sua loja nacional. Enquanto isso, donos de Androids precisam torcer para que o Play, loja do Google, consiga ultrapassar essa selva burocrática, e assim, possa vender músicas, livros e filmes em solo nacional.