Cientistas brasileiros descobriram uma maneira de conseguir prevenir e tratar a doença. O Alzheimer atua nos neurônios, degenerando as células na população mais velha. Ela não tem cura, mas o ponto principal para prevenir-se contra ela é o exercício físico. O estudo revelou que um hormônio produzido pelos músculos quando fazemos alguma atividade física – a irisina – protege o cérebro e restaura a memória afetada pela doença. A irisina era associada à queima de gordura, mas um grupo de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro descobriu que ela tinha mais potencial. Por atuar uma mensageira ao transmitir mensagens químicas da atividade física pelo corpo, ela ganhou o nome da deusa Íris, da mitologia grega, responsável por entregar mensagens assim como o deus Hermes. A substância foi descoberta em 2012 por um biólogo da Universidade de Harvard chamado Bruce Spiegelman. O exercício físico funciona para liberar a irisina, que vai para o tecido adiposo branco e o transforma em “bege”, ou seja, numa forma de gordura mais positiva para o corpo.
O que foi descoberto?
Esse grupo de cientistas chegou a conclusão de que é possível dizer que o exercício físico é, no momento, o maior fator para a prevenção da doença, mesmo que seja preciso continuar a estudar isso. Após analisar tecido cerebral, o grupo da UFRJ chegou a sua primeira descoberta: existe menos irisina no cérebro das pessoas com Alzheimer. Isso ainda foi confirmado, depois, no cérebro de camundongos, que foram geneticamente alterados para desenvolver a doença humana e, assim, serem usados como objeto de pesquisa dos cientistas. Depois, os cientistas continuaram a estudar os camundongos, nos quais foi possível observar que a concentração de irisina afeta a memória: quanto menor a quantidade dela, menor a capacidade de manter as memórias no cérebro. Assim que os camundongos com Alzheimer recebia a irisina, as memórias deles voltavam. O próximo passo dos cientistas foi mostrar que a irisina também é produzida pelo cérebro, não apenas pelos músculos, o que foi provado também com os camundongos: eles foram forçados a nadar uma hora por dia durante cinco semanas, o que aumentou a concentração de irisina e também fez com que os roedores se tornassem mais aptos a aprender novas habilidades. Para comprovar de vez, eles precisaram checar que se o ponto principal do exercício era a irisina e não outra substância. Os camundongos então foram alterados para não produzirem a irisina – o que fez com que a atividade física não fizesse efeito contra a doença. Em entrevista ao jornal O Globo, Fernanda de Felice, uma das coordenadoras do estudo conduzido na UFRJ, disse que ainda “não sabe a dose certa de exercício para esse efeito, mas que ele certamente é fundamental para o metabolismo do cérebro e das doenças provenientes do desequilíbrio deste, como o Alzheimer”. Mas qualquer tipo de exercício vale? Fernanda diz que sim: “Temos que caminhar, nadar, pedalar ou correr. O tipo de exercício não importa. O fundamental é se exercitar, sempre, tornar isso parte da vida, rotina. Não é fácil, mas compensa.“ Felice, que também é neurocientista da Queen’s University, no Canadá, começou suas pesquisas que resultaram neste estudo mais de 10 anos atrás. Na última década, ela começou a ter os primeiros indícios da relação do Alzheimer com a diabetes: acontece que os diabéticos, principalmente do tipo 2, possuem maior risco de desenvolver a doença neurodegenerativa. Essa pesquisa acabou se desdobrando no estudo sobre a irisina e como ela atua nos neurônios.
Existe outra coisa que pode ajudar?
Uma possibilidade é a de medicamentos feitos à base de irisina ou de seus mecanismos, mas para tratar apenas pessoas que estão com a doença ou que não podem fazer exercícios, como é o caso de deficientes físicos. Isso foi apontado pela Nature Medicine, uma das revistas científicas mais importantes do mundo. Nesse tipo de produto editoral, são publicadas pesquisas com algum tipo de comprovação. O tipo de medicamento mais recente conta a doença tem 15 anos, mas ele causa apenas efeitos a curto prazo, podendo ser usado por apenas um ano e meio. Com a descoberto do grupo de cientistas brasileiros, é possível desenvolver uma droga que seja, de fato, efetiva no tratamento.
Por que é tão importante descobrir uma cura contra o Alzheimer?
A doença é incurável e é a mais comum causa de demência para pessoas a cima de 75 anos. Entre suas reações, estão variações de humor, desorientação e delírios, além de causar perda de memória e da capacidade cognitiva dos doentes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 35 milhões de pessoas tem a doença no mundo. No Brasil, o número de afetados é de 1 milhão. O Alzheimer pode ser mortal: a doença leva até a morte em cerca de 8 a 10 anos, em média.