Essa lista, de certa forma, está bem diversa. Provavelmente você já deve ter ouvido falar de algumas produções que vão aparecer por aqui e, no caso de outras, acredito que conseguirão ao menos despertar a sua curiosidade. De qualquer forma, confira as melhores séries do ano — não necessariamente na ordem de importância, mas já aviso que costumo deixar meus preferidos para o final.
This is Going to Hurt
Baseado no livro autobiográfico de Adam Kay, “This is Going to Hurt” é uma série de comédia dramática britânica que acompanha uma equipe de médicos recém-formados na ala obstétrica de um hospital. A trama, estrelada por Ben Whishaw (Perfume – A História de um Assassino), consegue dosar bem o humor ácido com a crítica política em relação à precariedade dos hospitais. É interessante ver que o autor tinha como objetivo atingir apenas a comunidade britânica e os problemas que a cercam. Tanto que a série foi ao ar pela primeira vez no Reino Unido pela BBC. Mas sua acusação e apontamentos para um sistema médico falido acabou conversando com o público de uma forma universal. Claro que, por ser roteirizado, o seriado entra em questões emocionais e profissionais dos personagens para dar profundidade ao conteúdo, mas garanto que não fica maçante – muito pelo contrário, tudo acaba se interligando.
The Staircase
A partir do momento que Big Little Lies (2017-2019) se tornou uma minissérie de grande sucesso, a HBO começou a abrir caminhos e investir mais em dramas criminais de uma linha semelhante e igualmente maratonável. Assim como àquela série, The Staircase (distribuído como A Escada no Brasil) apresenta o mesmo combo poderoso: um elenco de primeira classe – contando com nomes como Colin Firth, Toni Collette, Sophie Turner e Juliette Binoche), uma narrativa baseada em fatos e a mão de Antonio Campos (O Diabo de Cada Dia), um diretor com o currículo repleto de produções vindas do drama e do suspense. Apesar de ser mais um caso que foi explorado muitas vezes pela mídia, a minissérie consegue prender por combinar sutileza, perspicácia e inteligência ao apresentar as nuances do caso. Para produzir essa série, foi utilizado como material de estudo a série documental homônima de Jean-Xavier de Lestrade, que acompanhou a equipe de defesa de Michael Peterson (interpretado por Colin Firth na minissérie da HBO Max), um escritor da Carolina do Norte que foi condenado por assassinar sua esposa (interpretada por Toni Collette) na escada de sua casa.
The Bear (O Urso)
Se você não entrou no hype de The Bear (O Urso, da FX), sinto lhe dizer que está perdendo uma baita produção que está entre as melhores séries do ano. Diretamente de Shameless para o mundo, Jeremy Allen White interpreta Carmen “Carmy” Berzatto, um jovem chefe de cozinha que herda o restaurante The Beef e tem como dever transformar esse lugar em um dos estabelecimentos mais bem sucedidos de Chicago. De fato, essa é uma série sobre um ambiente de trabalho específico com uma rotina caótica. Mas, isso tudo acaba servindo como um grande pano de fundo, afinal The Bear acaba sendo mais uma combinação que envolve dinâmica familiar, tradições, traumas, luto, gentrificação, cultura gastronômica e a batalha constante de um restaurante e seus funcionários na conquista da ascensão.
Derry Girls (3ª temporada)
Em meio aos conflitos políticos da Irlanda do Norte nos anos 1990, cinco estudantes enfrentam os desafios da adolescência. Essa premissa não entrega nem 1% da narrativa bem-humorada e cativante que se desenrola na trama, mas é um ponto de partida. Aliás, a série inteira é maravilhosa e cheia de sotaque carregadíssimo (bom demais), mas como a lista é sobre os destaques de 2022, vou dar o mérito para a terceira e última temporada de “Derry Girls”, da Netflix. Chega a ser raro ver uma sitcom atual que consiga manter o senso de humor do começo ao fim. Ainda que “Derry Girls” tenha sim uma carga dramática, a comédia e os comentários provocativos dos personagens nunca ficaram de lado. Em vez de seguir a fórmula dos adolescentes em crise e da incerteza da vida adulta, a despedida que a diretora Lisa McGee fez, na verdade, traz uma mensagem de esperança. A terceira e última temporada mostram as dificuldades enfrentadas na Irlanda e o impacto disso tudo na vida dos personagens Erin (Saoirse-Monica Jackson), Clare (Nicola Coughlan), Michelle (Jamie-Lee O’Donnell), Orla (Louisa Harland), James (Dylan Llewellyn) e suas famílias. Mas, da mesma forma que a família Quinn e os personagens centrais perseveraram apesar do caos que estava tomando o país, a série em momento algum esquece do núcleo central e das situações cotidianas.
Gaslit
A minissérie de oito episódios disponível no Lionsgate+ é protagonizada por ninguém menos que Julia Roberts e Sean Penn. Sendo mais uma produção baseada em fatos para a lista, Gaslit apresenta detalhes sobre o escândalo político de Watergate, que aconteceu em 1970. Mas em vez de seguir por vias clichês, a série opta por contar essa história pela perspectiva inédita de personalidades importantes que foram ignoradas na época. Nesse contexto, a narrativa se concentra em Martha Mitchell (Roberts),esposa do procurador geral da república, John Mitchell (Penn). Mitchell esteve neste cargo durante o mandato do republicano Richard Nixon. Em meio a esse processo, Martha foi uma das primeiras fontes a vazar informações sobre os esquemas de corrupção de Watergate, incluindo o envolvimento de Nixon no escândalo. Ao revisitar a invasão de Watergate em 1972 e o escândalo que se seguiu, o showrunner Robbie Pickering faz um ótimo trabalho, conseguindo conectar a podridão do Partido Republicano de Nixon com acontecimentos e personalidades norte-americanas atuais. Essa é uma série que mostra como as pessoas são capazes de moldar a narrativa por interesses pessoais e conseguem ir além da “pós-verdade”, ainda mais a que têm poder nas mãos. “Gaslit” é um termo atual, mas uma ação que acontece já não é de hoje.
High School
“High School”, uma das melhores séries deste ano, pertence às co-showrunners Laura Kittrell e Clea DuVall (que também dirige a produção) e é baseada no livro homônimo de memórias publicado em 2019 pelas cantoras gêmeas Tegan e Sara. Então, a história acompanha os protagonistas ainda adolescentes na jornada de encontrar a vocação em meio a dramas juvenis. Naturalmente, esse seriado leva bem a sério os desafios da adolescência, mas, ao mesmo tempo, consegue ser uma produção leve que ultrapassa o objetivo de apenas ser a história do surgimento da carreira musical de Tegan e Sara. Assim como “Derry Girls”, “High School” não pesa a mão no trágico e mostra que às vezes, o jovem está bem, sem entrelinhas para problemas maiores.
Mo
O comediante Mo Amer produz e protagoniza “Mo”, série criada junto com Ramy Youssef (Ramy) para a Netflix. Nela, Amer interpreta um refugiado palestino que vive em Houston, no Texas, e precisa conciliar trabalho, religião e família, além de se preocupar com seu pedido de asilo pendente. Com base na própria experiência de Amer, o status de refugiado de Mo acaba tendo impacto em todos os aspectos de sua vida. Assim, “Mo” consegue ser uma comédia familiar, um romance e, dependendo do ponto de vista, um drama policial – sem comprometer ou mudar o tom do objetivo principal.
Our Flag Means Death (Nossa Bandeira é a Morte)
Essa série tem o Taika Waititi, sabe… Isso já é um argumento e tanto para ser uma das melhores séries do ano. Brincadeiras a parte (nem tanto), Our Flag Means Death (divulgada no Brasil na tradução ‘Nossa Bandeira é a Morte’ pela HBO Max) acompanha um grupo de piratas amadores liderados por Stede Bonnet (Rhys Darby). Mais conhecido como Pirata Cavalheiro, Bonnet nasceu em uma família inglesa bem rica durante a colonização britânica, na Ilha de Barbados. Após herdar a fortuna dos pais (e falhar miseravelmente em administrar os ganhos), ele decide que quer entrar para o mundo do crime e unir uma tripulação de piratas para dominar o oceano. Até aqui já dá para sentir que muita coisa vai dar errado, né? Ainda mais que Bonnet não tem experiência nenhuma de navegação. Inclusive, quando ele acaba encontrando um dos piratas mais famosos, Barba Negra (Waititi), tudo fica muito mais interessante e engraçado.
Somebody, Somewhere (Alguém em Algum Lugar)
Inspirada na vida da comediante e cantora Bridget Everett, Somebody, Somewhere (distribuída no Brasil como Alguém em Algum Lugar, pela HBO Max) acompanha Sam (Everett) e sua luta para se encaixar aos moldes de Kansas, sua cidade natal. Enquanto tenta se adaptar, ao mesmo tempo, precisa encarar o luto diário de ter perdido sua irmã. Em meio a tanta dor, a protagonista acaba encontrando conforto no canto e acaba conhecendo um grupo de estranhos que também não se encaixam na cidade, mas têm toda a força para não desistirem. Dirigida por Hannah Bos e Paul Thureen, a trama, de fato, é composta em grande parte pela tragédia. Mas em contrapartida, os momentos em que a comédia é inserida acabam revertendo a situação e mostrando que a história na verdade é mais sobre lidar com a existência em geral e não só como lidar com perdas.
Tuca & Bertie (3ª temporada)
Mesmo fora da Netflix, a Adult Swim se comprometeu a fazer mais uma temporada de Tuca & Bertie e tudo que posso dizer é que valeu a pena. Inclusive, a segunda e a terceira temporadas hoje em dia estão disponíveis na HBO Max. A animação “Tuca & Bertie” explora com nuances e muita sagacidade os dilemas internos que geralmente os jovens adultos passam durante essa fase. Por exemplo, ainda que Tuca (Tiffany Haddish) ame seu estilo de vida e seja extremamente despreocupada, no fundo, ela teme não alcançar objetivos e tem medo de ficar estagnada para sempre, sem amadurecer. Já Bertie (Ali Wong) vê sua melhor amiga e seu namorado prosperando – o que faz ela se perguntar se está no caminho certo. Muitas camadas emocionais são exploradas, sim, mas não de um jeito denso que canse o público. A série é um prato cheio de comédia, piadas, referências culturais e paletas extremamente coloridas, tudo misturado numa grande cumbuca muito boa de consumir.
The Righteous Gemstones (2ª temporada)
Com um elenco muito talentoso, como Danny McBride (que também é o criador da série com Jody Hill), Adam Devine, Edi Patterson e John Goodman interpretando os personagens mais estranhos possíveis, “The Righteous Gemstones”, da HBO Max, é uma comédia sem fim. E a segunda temporada não foge disso. Com produção executiva de David Gordon Green e Jody Hill, houve bastante investimento nos cenários, em efeitos, figurinos e tudo que você possa imaginar. Essa dedicação faz muita diferença, uma vez que complementa as piadas irônicas e o humor ácido do roteiro. Na trama, Eli Gemstone (Goodman) é um poderoso pastor conhecido por suas técnicas de salvação um tanto quanto agressivas, missas internacionais e por seu programa de TV semanal. Como herdeiro desse legado dos Gemstone está Jesse (McBride), o filho mais velho do pastor. Já Kelvin (Adam Devine), o mais novo, decide se afastar da igreja por não concordar com os métodos do pai. E entre tudo isso, está Judy (Edi Patterson), que nem chance de escolha tem por ser mulher. O absurdo vai escalando tanto que é impossível parar de assistir.
Pachinko
Romances arrebatadores que envolvem conceitos sobre tempo e espaço podem ser um entretenimento básico testado e comprovado, mas raramente conseguem sustentar a intimidade e a sensação de descoberta constante que “Pachinko” proporciona. Adaptado do romance homônimo de Min Jin Lee de 2017, o drama da Apple TV+ acompanha Sunja Kim e três gerações de sua família. Um dos arcos começa na década de 1920, quando Sunja (interpretada por Minha Kim) conhece um jovem empresário (Lee Min-ho) que muda sua vida para sempre. Já o segundo enredo se passa na década de 1980, quando Sunja agora é avó (interpretada pela vencedora do Oscar Youn Yuh-jung). Seu filho (Soji Arai) dirige uma sala de pachinko para ajudar a família e seu neto, Solomon (Jin Ha), é um empresário com grandes ambições de sucesso no Ocidente. Quando conhecemos o jovem educado em Yale, ele perdeu uma promoção em Nova York e, desesperado para impressionar seus chefes preconceituosos, ele planeja voltar para o Japão para fechar um negócio que ele confia que só ele pode concluir. O retorno do jovem para casa acaba amarrando as linhas do tempo, uma vez que o reencontro com a avó e o pai o intrigam para entender melhor o passado familiar. Nisso, uma das melhores séries do ano, “Panchinko”, aborda perspectivas de como culturas são afetadas pelo colonialismo por meio das histórias de vida de cada um.
Hacks (2ª temporada)
Hacks, da HBO Max, é incrível. Sem entrar muito em spoilers, a comédia de Lucia Aniello, Jen Statsky e Paul W. Downs, vencedora do Emmy, encerra a segunda temporada de maneira bem satisfatória. Muitos dos personagens alcançam objetivos pessoais ou profissionais há muito almejados. Relacionamentos tensos são solidificados e parcerias importantes são dissolvidas. Estava tudo tão amarrado que os fãs levaram até um susto, achando que aquele seria o final da série. Mas para a felicidade da nação, Hacks foi renovada. Só fizeram um encerramento decente de temporada mesmo. A série de comédia dramática “Hacks” é construído em torno de Deborah Vance (Jean Smart), uma lendária comediante de Las Vegas que acaba se tornando mentora de Ava Daniels (Hannah Einbinder), uma mulher meio perdida na vida aos 25 anos. A insatisfação persistente compartilhada pela dupla protagonista torna claro que elas têm mais trabalho a fazer — uma com a outra e consigo mesmas.
The Good Fight (6ª temporada)
O spin-off de Robert e Michelle King para “The Good Wife” conseguiu engatar já nas primeiras temporadas e manteve o ritmo, ainda que tivesse sofrido algumas injustiças no meio do caminho. A série que era originalmente da CBS All Acess foi para a Paramount+ e está disponível na Apple TV+. Na história, um golpe econômico joga o nome de uma jovem advogada na lama e acaba com as economias de Diane Lockhart (Christine Baranski) , sua mentora. Depois de serem mandadas para o olho da rua, as duas entram para uma das empresas mais promissoras de Chicago, onde irão trabalhar ao lado de Lucca Quinn (Cush Jumbo).
Andor
Em meio a uma sequência de spin-offs, “sequels” e tudo o que as franquias têm direito (ou não), a nostalgia venceu apesar das dificuldades de Star Wars com a Disney. Andor, da Disney+, deixa de lado o mais do mesmo e estende a mão ao público para acompanhar rebeldes em crescimento nos cenários mais surreais e carregados de emoção. Cassian Andor (Diego Luna) já conquistou um espacinho por aqui. Novos rostos são apresentados junto de seus adereços rigorosamente elaborados, além de efeitos práticos que fundamentam a Rebelião em uma realidade impressionante – uma que fala de uma era ansiosa por sua própria revolução. “Andor” faz com que ”Star Wars” pareça relevante novamente. Mais sucessos de bilheteria devem seguir seu exemplo e mirar nas galáxias (assim esperamos).
Better Things (5ª temporada)
A comédia semi-autobiográfica, Better Things, narra a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz e mãe divorciada que cria suas três filhas sozinha. Apesar de ser atriz, a vida dela não é tão glamurosa quanto as pessoas esperam, até porque ela acaba vivendo para pagar as contas e cuidar das três: Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward). De qualquer forma, uma simples lista de eventos que acontecem na jornada de “Better Things” deve ser mais do que suficiente para trazer um sorriso ao seu rosto – mesmo para aqueles que ainda não apreciaram a ode cativante e empática de Pamela Adlon à maternidade, à família e a descoberta de momentos felizes na vida, muito além das obrigações que a rotina impõe.
Los Espookys (2ª temporada)
A primeira série de comédia da HBO em espanhol acompanha um grupo de amigos que transformam seu amor pelo terror em um negócio peculiar, levando o horror a quem precisa, em um país latino-americano sonhador, onde o estranho e o sinistro fazem parte da vida cotidiana. Em resumo, é uma série esquisita que pende para o lado ótimo. Apesar da sinopse que a primeira vista, pode dar a impressão de ser algo tosco. Criada por Ana Fabrega, Julio Torres e Fred Armisen, a sitcom de meia hora é um prato cheio que invoca altas risadas, tanto pelas situações absurdas quanto pelas sacadas astutas. Além de ser uma das criadoras da série, Fabrega interpreta Tati, que solta as falas mais absurdas com uma cara impossivelmente séria. Juntamente com o líder da equipe Renaldo (Bernardo Velasco) e a irmã responsável de Tati, Ursula (Cassandra Ciangherotti), cada episódio é repleto de frases emblemáticas.
Bad Sisters (Mal de Família)
Sharon Horgan e Malin-Sarah Gozin se propuseram a um desafio quase impossível quando o assunto foi criar “Bad Sisters”. Adaptado da série belga de 2012 “Clan”, o mistério cômico da Apple TV+ foi roteirizado com três propósitos principais: o primeiro estava relacionado a criar um antagonista masculino péssimo que conseguisse representar o pior de muitos homens; o segundo foi convencer o público a aceitar a narrativa do que levaria alguém a cometer um assassinato (não em um cenário hipotético, mas levando em conta a moral da pessoa e as consequências na sociedade); e por último e não menos importante, que as pessoas conseguissem se divertir com a série. Pelo balanço de tudo, conseguiram ultrapassar a meta com sucesso. Como a sinopse entrega, a série é uma combinação de suspense e comédia de humor ácido. Bad Sisters (Mal de Família) acompanha a vida das irmãs Garvey, unidas pela morte prematura de seus pais e a promessa de sempre se protegerem. A série é estrelada por Sharon Horgan, Anne-Marie Duff (“As Sufragistas” e “The Salisbury Poisonings”), Eva Birthistle (“Brooklyn” e “O Último Reino”), Sarah Greene (“Frank of Ireland” e “Dublin Murders”) e Eve Hewson (“Por Trás de Seus Olhos” e “The Luminaries”) como as irmãs Garvey.
Better Call Saul (6ª temporada)
Com “Better Call Saul”, da Netflix, o fim é apenas o começo. Desde o início, o “prequel” de “Breaking Bad”, de Peter Gould, Vince Gilligan e Moira Walley-Beckett tem acompanhado Jimmy McGill (Bob Odenkirk) no processo de transformação em Saul Goodman – o desprezível advogado utilizado por Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul ). O final magnífico de “Better Call Saul” leva em consideração o estudo do personagem através do passado e do futuro (que, mesmo depois de “Breaking Bad”, ainda é o passado). Comovente e emocionante, profunda e direta, a temporada final incorpora uma série que se tornou uma experiência essencial e única semana após semana.
Barry (3ª temporada)
A comédia sombria de Bill Hader e Alec Berg, disponível na HBO Max, gira em torno de uma questão particularmente difícil: quando você perde sua moralidade, é possível recuperá-la? E como? Bem, na terceira temporada, Barry (Hader) não encontra respostas fáceis. Jogado em um poço emocional após uma recaída na 2ª temporada (sem mais spoilers), Barry está jogado às traças. Ele desistiu de se barbear, não toma mais banho, muito menos procura uma saída. Ele aceitou que não há como se perdoar pelo que fez, e o resto do mundo também não deveria ser perdoado. Então, por que não matar alguns perdedores e ganhar um dinheiro extra? “Barry” desafia as expectativas da melhor maneira possível com seu humor ácido, o que casa bem com uma série que faz perguntas tão impossíveis de serem respondidas. Isso nos dá mais motivos para acreditar que uma resolução satisfatória está chegando, mesmo quando Barry não consiga enxergar isso.
Yellowjackets (2ª temporada)
A premissa pode parecer vagamente familiar pois ela narra a jornada de um time de futebol feminino que, durante o ensino médio, em 1990, sobreviveu a um acidente de avião no distante deserto de Ontário. Criada por Ashley Lyle e Bart Nickerson, Yellowjackets, disponível na Paramount+, mescla terror psicológico e drama em uma história de sobrevivência. Meio Lost, não? As semelhanças se limitam ao acidente. Isso porque Yellowjackets consegue construir uma identidade própria que, particularmente, incentiva o público a ver um episódio atrás do outro. Tanto que a maior parte do sucesso da série se dá pelo boca a boca dos fãs em redes sociais como o Twitter e o Reddit – nada melhor que uma boa panfletagem de fãs –. A torcida é para que a produção se torne cada vez mais popular e consiga estender mais temporadas como as que foram lançadas.
House of the Dragon (A Casa do Dragão)
Depois do final de Game of Thrones, o hype para House of the Dragon (A Casa do Dragão) estava beirando o nulo. Mas para a alegria de muitos, a série ambientada 200 antes dos eventos da série principal está sendo uma surpresa bem positiva. Os conflitos familiares e as intrigas diplomáticas que levaram ao colapso da dinastia Targaryen trouxeram a magia do universo de George R. R. Martin de volta para o jogo. Está sendo divertido acompanhar a disputa de poder, traições e luxúria dividindo as famílias principais em duas. Claro que os dragões estão deixando a desejar, mas todo puxão de tapete entre casas está compensando esse quesito. Ah e é válido uma menção honrosa para a atuação de Emma D’Arcy, simplesmente chef’s kiss.
Irma Vep
Adaptação da adaptação, a minissérie Irma Vep, da HBO Max, trouxe o melhor de Alicia Vikander para as telas do streaming e continuou o legado metalinguístico de Olivier Assayas – diretor francês que fez o filme de 1996, além da série atual. Definitivamente, uma das melhores séries do ano para quem curte as metalinguagens audiovisuais. Nessa versão, Mira (Vikander) é uma estrela do cinema americano que é convidada para liderar um remake de Les Vampires (1915 – 1916), a série de filmes mudos de Louis Feuillade. Na direção, está o histérico René Vidal (Vincent Macaigne). Conforme as filmagens caóticas prosseguem, a linha tênue entre ator e personagem acaba perigosamente borrada. Chega a ser uma sátira e um passeio pelos bastidores do cinema. Quem é fã do trabalho de Assayas vai se divertir muito com a série. Isso porque além de densa, traz muitas alusões à própria vida e obra do cineasta. Já para quem está caindo de paraquedas, ainda assim é uma produção que instiga o público a automaticamente abrir o Google e pesquisar absolutamente tudo sobre Irma Vep.
Undone (2ª temporada)
A primeira temporada do drama familiar animado por rotoscopia de Kate Purdy e Raphael Bob-Waksberg acompanha Alma (Rosa Salazar) enquanto mergulha no passado para descobrir a verdade sobre a morte do pai. Até aqui é mais um clichê qualquer, certo? Mas vem aí a reviravolta: quem ajuda a jovem a procurar o pai é Jacob (Bob Odenkirk), o próprio pai. Sim, ele está morto, mas a dupla descobriu uma maneira de viajar juntos no tempo para montar esse quebra-cabeça. Durante a jornada, descobertas indesejadas alteram o presente, as prioridades desalinhadas de Jacob são expostas e a conexão duradoura de Alma com o pai é investigada. Como as decisões dele no passado influenciam as escolhas dela no presente, muitas questões são trazidas à tona e, consequentemente, novas situações são desencadeadas. A segunda temporada retorna não só com uma resposta mas também com a mudança de foco. Alma passa a se voltar para a mãe. O modelo de viagem no tempo é ajustado quando ela e Jacob novamente procuram no passado, só que desta vez é para entender melhor Camila (Constance Marie). Com essas alterações, os criadores Raphael Bob-Waksberg e Kate Purdy conduzem a continuação da narrativa de forma estratégica, mantendo elementos que funcionaram bem na primeira temporada enquanto expandem os mesmos temas e ideias ainda interessantes para a trama.
Sex Lives of College Girls (2ª temporada)
O único defeito desta série é que ela tem apenas 10 episódios de meia hora cada por temporada. São quatro protagonistas com histórias igualmente importantes e interessantes, então o tempo reduzido acaba prejudicando o roteiro e limitando o aprofundamento de cada uma delas. Isso, na verdade, vem a ser uma crítica para o bem porque significa que queremos ver mais de Kimberly (Pauline Chalamet), Bela (Amrit Kaur), Leighton (Renee Rapp) e Whitney (Alyah Chanelle Scott) – até porque, pela correria, principalmente na segunda temporada, alguns rumos acabaram sendo inesperados por não conversarem com a personalidade de cada uma, então tendo mais abordagem, talvez ficaria mais claro o desenrolar da narrativa. Criada pela mente de titânio da Mindy Kaling (The Office), uma das melhores séries do ano explora a sexualidade de uma forma ampla e sem tabus enquanto também apresenta o cotidiano das jovens que lidam com as pressões da faculdade e da vida adulta. Com personalidades distintas, cada uma das protagonistas explora suas relações de acordo com a realidade de cada uma, tentando criar conexões com os outros, mas também em busca de construir suas próprias identidades.
Sandman
Adaptado dos quadrinhos de Neil Gaiman para a Netflix, Sandman é uma das melhores adaptações já feitas do universo literário do escritor. Elenco de peso, narrativa atual e arcos bem estruturados fazem com que essa seja mais uma maratona ávida dos episódios – eu, particularmente, nem senti as horas passarem. Para decidir se achei a produção boa o suficiente, uso como termômetro o número de vezes que passei o mouse sob a tela para ver quanto tempo falta para acabar o episódio ou o filme. Em Sandman realmente não me recordo de ter passado alguma vez. Nessa primeira temporada, após anos aprisionado, Morpheus (Tom Sturridge), o Rei dos Sonhos, embarca em uma jornada entre mundos para recuperar o que lhe foi roubado e restaurar seu poder.
Atlanta (3ª e 4ª temporadas)
Depois de anos de abstinência, “Atlanta” voltou não só com uma mas duas temporadas novas em 2022 – sendo a quarta a última da série. O nível de ambas é extremamente alto e, claro, que não poderia esperar menos da mente brilhante de Donald Glover. Ele simplesmente pegou o conceito de “Twilight Zone” e criou em episódios paralelos e independentes da história principal, contos surreais relacionados ao racismo – que parando para analisar, não são situações tão impossíveis assim e que são tão absurdas, que provavelmente em algum ponto da história já devem de fato ter acontecido. Eram basicamente sobre reparação, identidade e exploração. Para alguns, essa nova estrutura atrapalhou a cadência da história principal. Para outros, foi genial (sigo inclusa nesse grupo). Até porque, em dado momento das temporadas, tudo acaba se cruzando. Foi uma temporada corajosa com sacadas muito inteligentes. Precisamos de mais criadores, roteiristas e diretores com projetos assim. Meses depois, a quarta temporada alterna o foco para o futuro e se distancia da experimentação do arco passado. Alfred (Brian Tyree Henry), Van (Zazie Beetz), Darius (Lakeith Stanfield) e Earn (Glover) enfrentam suas maiores dificuldades, mas sem parecer que esse é um adeus definitivo.
What We Do in the Shadows (4ª temporada)
This fucking guy. Poucas coisas são mais prazerosas que ouvir o sotaque do Nandor (Kayvan Novak) – isso em qualquer uma das temporadas. Mas a quarta, realmente, conseguiu se superar em muita coisa. Teve boate de vampiros, um episódio de paródia do reality canadense “Property Brothers” e Mark Proksch tendo sua cara colocada de uma forma ridícula em montagens de bebê, criança e adolescente. Essa série é totalmente fora de si e uma grande palhaçada entre vampiros. É justamente isso que a faz tão boa. É quase que um Friends versão vampiros (só que bem melhor).
Severance (Ruptura)
O thriller corporativo realizado por Dan Erickson e Ben Stiller bombou no Apple TV + por um bom motivo: ele foi construído com base em uma premissa curiosamente atraente de ficção científica. Se fosse possível separar cirurgicamente memórias de trabalho das suas memórias da vida pessoal, você faria esse procedimento? A partir desse pontapé, Adam Scott, Patricia Arquette, John Turturro, Christopher Walken, Britt Lower, Zach Cherry, Jen Tullock e Trammell Tillman trazem o público para um mundo familiar e único. Em Severance (Ruptura), cinco funcionários de uma empresa chamada Lumen aceitam participar de um procedimento experimental onde suas memórias pessoais e de trabalho são permanentemente separadas. Quando estão no escritório, só terão as lembranças referentes ao trabalho e quando saem do prédio corporativo, não se lembram das situações profissionais. Mas por trás deste estranho procedimento, se escondem vários segredos obscuros que a empresa quer manter em sigilo.
The Rehearsal (O Ensaio)
Está para ser criado um projeto tão maluco e original quanto esse. A comédia documental de Nathan Fielder, disponível na HBO Max, surpreende a cada instante. “The Rehearsal” (O Ensaio) imediatamente chamou a atenção do público com suas reviravoltas surpreendentes, construção inteligente e risadas um tanto quanto desconfortáveis. Fielder, como ele mesmo, embarca em uma jornada para ajudar as pessoas a se prepararem para os desafios assustadores da vida. Seu método consiste em criar o cenário que o participante teme para que possam ensaiar todas as possibilidades que podem acontecer na situação real, antes de realizá-la. Para Fielder, os ensaios são um conforto; eles ajudam a eliminar problemas sociais que ele acredita que podem alienar possíveis amigos. “Disseram-me que minha personalidade pode deixar as pessoas desconfortáveis, então tenho que trabalhar para compensar isso”, ele disse na estreia da série. “O humor é meu instinto preferido, mas toda piada é uma aposta.” Mesmo que suas apostas tenham valido a pena em seis episódios um tanto quanto sombriamente cômicos, é o medo de Fielder em falhar que compõe a base emocional da série. À medida que seus ensaios se tornam cada vez mais elaborados, fator que impede a série de sair do controle (ou parecer nada mais do que uma piada muito cara) é a motivação de Nathan. Ele quer que esse processo funcione porque quer se sentir mais confortável em suas próprias interações. “O Ensaio” foi escolhida como uma das melhores séries porque apresenta discussões mais amplas sobre o que é preciso para conhecer a si mesmo, como tomar decisões cruciais e como saber em quem confiar ao longo do caminho. Também pode ser visto como uma crítica sobre a produção e a cultura de reality shows, bem como nossa obsessão por gamificar a vida.
The White Lotus
Por fim, The White Lotus. “These gays, they’re trying to murder me!” A primeira temporada foi um sucesso. A segunda, um grande estouro. Foi o enredo que gerou milhares de teorias em vídeos de TikTok, em fóruns de Reddit e threads extensas do Twitter. Mike White acertou em cheio com elenco, história e ambientação. A segunda temporada desta comédia dramática é ambientada em um resort extremamente luxuoso em Sicília, na Itália. Inclusive, durante essa temporada, teve muito diálogo em italiano também – foi por pouco que não me inscrevi em italiano no Duolingo. Assim como na primeira temporada, nem tudo é o que parece. Mais uma leva de pessoas ricas chegam com suas discórdias e segredos para atormentar a White Lotus italiana. O melhor é que todos os arcos ao longo dos sete episódios são interessantes, por mais que alguns personagens sejam totalmente odiosos. Além disso, The White Lotus, assim como as demais séries da HBO Max, é a prova de que a melhor fórmula para engajamento do público é o lançamento semanal de episódios, em vez de tudo de uma vez só. Era uma expectativa grande para que os domingos chegassem e comprovassem as teorias profetizadas durante a semana. Veja também: Os 101 melhores filmes de terror de todos os tempos As 10 melhores playlists de trilha sonora no Spotify Fontes: IndieWire e Vogue