Em entrevista para o podcast This Is Working (um programa oficial do Linkedin que entrevista alguns dos principais executivos do mundo), Bill Gates comenta que, sendo bastante otimista, será possível começar a retomar aos poucos as atividades normais nos Estados Unidos no começo de junho, mas de forma gradual e ainda evitando ao máximo aglomerações de pessoas. Ele afirma também que, até que tenhamos uma vacina contra a doença com eficácia comprovada, produzida em larga escala e distribuída para todo o mundo, será impossível termos um “retorno à normalidade”, e qualquer “pausa” que fizermos na quarentena enquanto essa vacina não existir será uma “semi-normalidade”, onde ainda teremos que ficar atentos ao uso de equipamentos de segurança e a manter um distanciamento social. Mas, mesmo depois da vacina contra o COVID-19 estar disponível para as pessoas, Bill Gates acredita que algumas coisas nunca serão retomadas – e um exemplo disso são as viagens de negócios. Durante a entrevista, ele afirma que algumas atividades essenciais deverão continuar existindo mesmo que envolva a aglomeração de pessoas. Um exemplo citado são o das escolas, que deverão continuar funcionando como antes porque possuem um papel importantíssimo no desenvolvimento das crianças, sendo responsáveis não apenas pelo ensino de conteúdos como português e matemática, mas também por ser o local onde elas aprendem a conviver em sociedade. Agora, algo que o bilionário acredita que deverá “morrer” junto com a pandemia são as viagens de negócios. Não que elas vão deixar de existir completamente, mas ele acredita que, depois deste período de isolamento, as pessoas só irão viajar a trabalho se for algo estritamente necessário, e tenderão a resolver um número maior de questões por chamadas em vídeo.
Quarentena até 2022
As falas de Bill Gates estão em concordância com um estudo recente da Universidade de Harvard, publicado nesta terça-feira (14) na revista Science, que afirma que podem ser necessárias a manutenção de medidas preventivas de distanciamento até 2022 caso não haja um aumento exponencial no número de leitos em hospitais preparados para lidar com casos de doenças respiratórias graves, ou então a disponibilização de uma vacina eficiente contra a doença. Nestes casos, o estudo sugere a manutenção prolongada de um sistema bem parecido com aquele que Bill Gates chamou de “semi-normalidade”, onde as atividades irão gradualmente retornar ao normal, mas sempre evitando criar aglomerações de pessoas em qualquer lugar. O estudo determinou essa data de 2022 baseado em estimativas de sazonalidade, imunidade e imunidade cruzada de outros dois tipos de coronavírus que já afetaram a sociedade, e alerta que, mesmo após essa primeira onda de contaminação mais forte (que é a que estamos vivendo), a doença deverá continuar retornando sazonalmente, possibilitando novos surtos caso uma vacina com eficácia comprovada contra ela não for desenvolvida.
Doença perene
E é justamente na possibilidade de que o COVID-19 nunca seja exatamente superado que alguns médicos e acadêmicos acreditam. De acordo com Michael Osterholm, epidemiologista da Universidade de Minnesota, as pessoas ainda não estão entendendo que o combate à atual pandemia não é uma questão de semanas até chegar ao fim, mas sim de anos, e o período até 2022 é onde estará concentrado toda a porção crítica deste combate. Enquanto isso Amesh Adalja, um especialista em doenças infecciosas do Centro John Hopkins For Health Security, comentou em entrevista para a Business Insider em março que o COVID-19 é uma doença endêmica à população humana – ou seja, só poderá ser dizimada com o uso de vacinas, e poderá voltar caso as pessoas parem de se proteger contra ela. Assim, mesmo com a existência de uma vacina, o COVID-19 pode se tornar uma doença com comportamento semelhante ao do sarampo, que durante décadas foi considerada uma doença “extinta” mas que, com o aumento de grupos anti-vacina nos últimos anos, ressurgiu com força em alguns países, com um número de infectados em níveis que não eram vistos há muito tempo. Por isso, é necessário que não só fiquemos dentro de casa durante este período, mas também que mantenhamos as medidas de distanciamento social mesmo depois que as coisas começarem a normalizar, pois só assim deveremos evitar que novos períodos de isolamento total sejam necessários. Fonte: Business Insider, Linkedin, New York Magazine, The Guardian