Desde o primeiro iPhone, há pouco mais de 10 anos, os smartphones evoluíram bastante, tanto em mercado, quanto em tecnologia. Conforme os modelos ficaram mais sofisticados e suas principais novidades ficaram mais acessíveis, estes aparelhinhos tomaram o mundo e, desde 2011, este mercado gera mais vendas e lucros que o mercado de computadores. Quem diria, hein? Então, vamos ao que interessa? Se liga no processo de produção dos celulares desde a idealização até o lançamento no mercado:
Pesquisa e desenvolvimento
Pouca gente lembra desta parte, mas a principal fase na produção de um smartphone é a pesquisa e o desenvolvimento do mesmo. A fabricante precisa idealizar o produto com base no seu preço de venda e custo de produção. É justamente neste momento que a companhia decidirá como lucrará com determinado lançamento depois que todas as despesas com a produção dele forem pagas. Claro, a estética e funcionalidade que devem ser inovadoras para conquistar o público também são consideradas nessa hora, mas precisam estar aliadas ao lucro financeiro desejado. Ou seja, planejamento estratégico! Por isso, o custo de produção não envolve apenas o custo de montagem e dos componentes em si. Todo o dinheiro investido no projeto e no que vem após o lançamento (marketing, distribuição e infraestrutura), precisam estar no orçamento e serem cobertos pelo retorno financeiro estimado. Um caso curioso é o da Xiaomi. A fabricante afirma que consegue entregar preços tão baixos porque inverte a lógica habitual das concorrentes. Enquanto uma concorrente infla os preços no início das vendas para pagar as custas do projeto, a Xiaomi paga o desenvolvimento com a queda do custo de produção, que ocorre meses depois. Em contrapartida, os preços da Xiaomi costumam cair menos de tempos em tempos.
Parcerias para produção das peças
No caso de um topo de linha, que costuma embarcar sensores e hardware mais sofisticados, normalmente é preciso estabelecer contratos com fornecedores para que tudo esteja pronto até o início da produção. Em outras palavras, é aí que Qualcomm, Sony, Samsung e afins, na intenção de vender seus processadores, sensores de imagem e memórias, entram na jogada como parceiras da fabricante dita como ‘principal’. É por isso que o iPhone, por exemplo, tem memórias, displays, câmeras e sensores produzidos por terceiros e não pela própria Apple. Em determinados casos, a fabricante em questão pode até desenvolver o componente, porém, na grande maioria das situações, uma terceira será a responsável pela produção da peça.
E o que sobra para as fabricantes,então?
Resumidamente falando: o conceito e a logística. A fabricante será responsável por todo o valor agregado a aquele produto, o que inclui a marca e o seu valor, o design, os recursos exclusivos, a distribuição do produto, os testes de qualidade, o suporte pós-compra e, principalmente, o marketing envolvendo aquele lançamento. Em determinados casos, a fabricante também será responsável pela produção de determinadas peças do aparelho, mas isto não é uma regra. Normalmente, empresas como a Samsung e LG, que possuem suas próprias divisões de tela, por exemplo, realizam negócios com suas subsidiárias, o que mantém o dinheiro em movimento, mas sempre dentro da mesma empresa. Por outro lado, smartphones embarcam uma série de componentes diferentes e nem sempre a fabricante em questão também os produz. Noutros casos, ainda acaba sendo mais barato comprar de terceiros do que ‘de si mesmo’. Um bom exemplo deste fenômeno é a própria Samsung, que divide a produção dos sensores de imagem dos seus aparelhos entre uma companhia terceira, a Sony, e sua própria divisão de sensores, a ISOCELL. Determinadas regiões recebem smartphones com câmeras ISOCELL, enquanto outros países, por sua vez, recebem câmeras da Sony em seus aparelhos. E sim, as câmeras são idênticas. Isto acontece por vários motivos, mas principalmente por causa da região onde aquele smartphone será vendido. Em uma fábrica do Brasil, por exemplo, pode ser muito mais caro importar componentes Samsung da Coréia do Sul ou China. Nestes casos, acaba sendo mais viável comprar de produtores locais (ou mais próximos). Com isso, a grande maioria das fábricas não produz praticamente nada, apenas monta e distribui. No caso do Brasil, que é pouco expressivo na indústria de semicondutores, as fábricas de alta tecnologia costumam receber os chips, sensores e as demais peças completamente prontas. O trabalho dessas ‘fábricas’ é unir estas peças num aparelho funcional e de qualidade.
Testes e homologação
Depois que a fabricante analisa todos os custos e projeta toda a infraestrutura de produção, o que inclui selecionar parceiras, preparar fábricas – e acima de tudo: ter o produto idealizado e projetado, o que há de se fazer é produzir as unidades de protótipo e testá-las. Este processo é um intermediário entre o desenvolvimento e a produção final. A companhia deve realizar uma série de testes com aquilo que concebeu e, nos países que possuem um órgão regulador, homologar a produção daquele produto. Os testes deste processo não devem ser confundidos com os chamados ‘testes de qualidade‘, feitos na fase de produção do aparelho. Nesta fase, o que será testado não é a qualidade do processo de fabricação, mas o bom funcionamento do projeto. Em suma, esta é a hora em que se vê se o tudo aquilo que foi imaginado para o modelo é realmente aplicável ao mundo real e suas condições mais adversas. É neste momento que a fabricante testa se o componentes vendidos por parceiras funcionam em todas as regiões onde o produto será comercializado; se aquele determinado modem é realmente compatível com as bandas de rede utilizadas num país.
E as falhas?
Também é nesta etapa que as falhas e vazamentos têm mais chances de surgir. Se levarmos em conta que os protótipos costumam ter boa parte dos componentes e características do modelo final, dá pra entender o porquê de tantos aparelhos vazarem nesta fase. Após analisar se os materiais e componentes selecionados funcionam bem na prática (em várias regiões do mundo, sob várias condições térmicas, umidade e sob vários tipos de uso), o aparelho segue para ter a sua validação registrada no mercado. No Brasil, isto acontece por meio da Anatel. Apesar de tratar especificamente do que tange a telecomunicação (e dos riscos envolvendo esta parte de um telefone), a Anatel exige uma série de requisitos para que um smartphone ou outros equipamentos dotados de telecomunicação sem fio sejam regulamentados e aceitos no Brasil.
Produção e distribuição
Por mais que essa fase da fabricação de smartphones pareça ser a mais complexa, os processos de montagem costumam ser relativamente simples. Para isso, as companhias investem em automação e equipamentos de ponta – menos complicação, menos chances de algo dar errado. Na maioria das cadeias de produção, inclusive nas que operam no nosso país, em Manaus, grande parte do trabalho é feito da forma como citamos antes: nenhum componente é realmente fabricado dentro da fábrica (por mais irônico que isso soe). Sem nenhum chip acoplado, a placa-mãe é a primeira a fazer parte da montagem: robôs e máquinas extremamente precisas posicionam o material de solda em pontos específicos e que, mais tarde, dentro de um forno, permitirão a fixação de cada um dos chips, sensores e demais conexões em seu devido lugar. Este processo precisa ser automatizado e simplificado, pois evita despesas e aumenta a capacidade de produção. No caminho para o fim da linha de montagem, outras partes do smartphone serão acopladas, como chassi que abriga a placa, agora com todos os seus componentes, o vidro frontal, junto do display, e, por fim, a carcaça que envolve tudo isso. Aos poucos, o que era só uma chapa de circuitos vai virando o que é um smartphone de verdade. Minutos depois, o aparelho está praticamente pronto.
Testes de qualidade
Em seguida, nos testes de qualidade, os aparelhos são ligados e operados num sistema que permite testar todas as funções essenciais rapidamente. Uma única interface permite testar a câmera, os botões, o touchscreen, os alto-falantes, a vibração, a exibição de diferentes cores na tela e outros recursos, que não necessariamente existirão em todos os smartphones. Se tudo for constatado como OK nesta fase, é muito provável que, numa linha de produção comum, este aparelho já siga para os processos finais da montagem, recebendo a sua identificação (etiqueta com informações do número de série e afins), e, posteriormente, a sua embalagem.
Embalagem e lançamento
Chegamos ao fim do processo de como é feito o celular. Mas vale ressaltar que para chegar até você, ele precisa te conquistar antes. É aí que entra todo o desenvolvimento de campanhas de marketing, tanto com apelo visual quanto emocional, capazes de despertar o desejo de compra quase que imediato. E a embalagem, além de incluir a garantia de que todos os acessórios aplicáveis estejam disponíveis, também exerce a função estética de ser irresistível. Hoje em dia, empresas como Apple aperfeiçoaram a arte da embalagem a ponto de ser difícil imaginar um smartphone mal embalado. Incrível todo o processo de como é feito o celular, não é? É claro que não há como abordar toda a minuciosidade do processo de fabricação tão complexo como esse, seja porque demoraríamos uma eternidade para falar de tudo, seja porque as etapas podem variar de acordo com o modelo do eletrônico em questão. Para coletar todas essas e as demais informações sobre como é feito o celular, o Showmetech esteve com o gerente de produtos da Samsung Brasil em 2017. Durante uma entrevista bem divertida, ele nos contou um pouco mais sobre todo o trabalho de produzir um aparelho do zero e entregá-lo nas suas mãos. Dá uma olhada!
Veja também:
Agora que você é feito o celular, dá uma olhada nos smartphones com 5G no Brasil! Fontes: CoolSmartphone e Medium.