Country e pop? Sim!
Você pode até não ser um amante de música pop, mas definitivamente já ouviu vários hits que ela proporciona, e eu nem falo sobre os dias atuais, que aparecem sempre na timeline das redes sociais, mas, por exemplo, quem assistiu à novela Laços de Família, da Globo, com certeza se deparou com música “Man! I Feel Like a Woman“, de Shania Twain, e essa música faz muito sucesso em terra nacional, inclusive divertindo e fazendo todo mundo cantar nos karaokês. A faixa é citada em This is Pop, no episódio em que falam sobre como o country e o pop se uniram. Nele, há o depoimento de Shania, falando sobre suas referências e como foi um escândalo ter uma mulher, na época, mostrando o umbigo num clipe. Felizmente a música foi reconhecida pelo hit que é e tornou o CD que faz parte, Come On Over, como o mais vendido no mundo todo — atualmente, ele está entre os dez CDs mais vendidos mundialmente, evidenciando que o impacto cultural de Shania e Man! I feel Like a Woman tivera. O episódio “Quando o country vira pop” é narrado por Orville Peck, um artista de música country que é gay e sabe como funciona o gênero ser tão tradicional e conservador, o que o levou a ser bastante persistente na trajetória de se expressar através de sua arte. Não se fala muito sobre ele, talvez por já ter seu papel designado como narrador, mas com certeza não deixou de lado a história de outro ícone da música pop que teve seu debut (estreia) em lenços countries: Lil Nas X. O garoto, negro e também gay, de apenas 22 anos, lançou seu primeiro single, Old Town Road, e teve reação positiva imediata do público. A música que é bastante country com pitadas pop e até de trap, foi um sucesso. Entretanto, a Billboard, empresa musical que pontua vendas e popularização de músicas no mundo, retirou a faixa que estava em ascensão de melhores músicas countries da época, o motivo? Pop demais para o gênero. Isso chocou a todos, ainda mais pelo óbvio sucesso que a música teve. Então ao mexer uns pauzinhos aqui e outros ali, Lil Nas X conseguiu reinserir a música nas paradas ao relançá-la num remix com Billy Ray Cyrus; você pode não saber quem ele é, mas talvez saiba como ele é popularmente conhecido: o pai de Miley Cyrus, a eterna Hanna Montana. Com a participação do ícone do atual country americano, Old Town Road voltou às paradas da Billboard e se consolidou como a melhor música de 2019, ficando em primeiro lugar em mais de 15 países.
As famigeradas boy bands
BTS é uma boy band (um grupo de garotos, como os Menudos, para quem tiver lendo isso e tiver no mínimo 25 anos de idade) sul-coreana que está em bastante relevância atualmente. Os garotos são fenômeno no mundo todo, fazendo muito sucesso entre garotas adolescentes e pré-adolescentes. Esse modelo artístico com grupos de homens cantando já era visto há décadas e This is Pop evidencia isso com o sucesso e influência que foi a boy band Boyz II Men. Quatro jovens que ficavam cantarolando nos corredores de uma escola pública se juntaram e, com muita força de vontade, formaram este grupo musical. Em meados de 1990, o grupo já tinha reunido uma grande fanbase (grupo de fãs) em todo o mundo, mas principalmente nos Estados Unidos, país em que todos eles nasceram e cresceram. A partir daqui já começaram a surgir eventos em shoppings e sua consequente super lotação, com muitas pessoas querendo ver seus ídolos cantando e dançando as músicas mais tocadas nas rádios e nos clipes da MTV. O responsável pelo grande sucesso de Boyz II Men é Michael Bivin, um dos primeiros integrantes de outra boy band que teve mais notoriedade nos Estados Unidos, New Edition. O episódio retrata o relacionamento entre o grupo e Michael Bivins, sempre evidenciando o respeito que o empresário tinha pela boy band, reconhecendo seu talento, e como os meninos — agora homens, pra quem pegou o trocadilho com o nome do grupo — também têm grande carinho e orgulho de Bivins, uma vez que New Edition foi uma inspiração pra eles, mesmo antes dele se tornar o seu empresário. Mas como toda boy ou girl band, nem tudo são flores. De 1995 em diante, após e durante o auge de Boyz II Men, tivemos outras boy bands, essas mais conhecidas internacionalmente e inclusive tendo muito sucesso no Brasil: Backstreet Boys e NSYNC. Assim como há algumas décadas Elvis Presley roubou a cena de Chuck Berry, as boy bands dos anos 90 pegavam toda a melodia, letra e estilo dos Boyz II Men como uma fórmula para seu próprio sucesso. Uma infeliz apropriação que, sistematicamente, dá a esses grupos mais evidência nacional e internacionalmente. Com um integrante a menos, os três membros de Boyz II Men envelheceram entendendo que suas músicas, apesar de tudo, marcaram uma geração, e muita pessoas que cresceram com eles hoje apreciam a arte criada em todo seu contexto. Assim como muita gente hoje em dia chegou a ir aos shows de artistas dos anos 90, como Sandy & Junior, também há quem faz questão de ir aos shows destes artistas mais nostálgicos para prestigiar e reconhecer sua grande importância, assim como Boyz II Men foi e ainda é.
O talento não se concentra nos Estados Unidos
Muitas músicas, artistas e referências que possuímos são dos Estados Unidos. Quando falo isso, me refiro ao fato de citar Beyoncé, Britney Spears, Imagine Dragon, Justin Bieber e você não ficar sem saber quem é quem. Mas o que você provavelmente não sabia, é que nada do que eles cantam de fato foi composto por eles mesmos. OK, talvez você soubesse porque hoje em dia é um tanto comum ver um cantor com letras compostas por diversos outros artistas, mas o ponto aqui é que, em sua maioria, as músicas foram compostas na Suécia. Sim, naquele país no norte do planeta fica concentrado algo como “o centro da música pop mundial”. Pra confirmar isso, tenho certeza que você conhece a música Dancing Queen, do ABBA. Essa música de 1976 já foi e é ouvida por milhares de pessoas ao redor do mundo, isso graças a essa terra que não pode falar de seu sucesso. This is Pop também traz essa curiosidade: os suecos não podem falar de seu próprio sucesso e isso faz parte de sua cultura, então, como Ludwig Göransson — responsável pelo Oscar de Melhor Trilha Sonora por Pantera Negra e Música/Gravação do ano por This is America — diz, pra você descobrir sobre os talentos da Suécia, o melhor mesmo é fazer muita pesquisa. Outra banda que apareceu alguns anos depois de ABBA e também foi de fruto da Suécia, foi Roxette, com suas melodias, letras e ritmos únicos, reafirmando a genialidade e capacidade dos compositores e produtores suecos para com a música pop. Denniz Pop (produtor) e Max Martin (compositor) foram grandes nomes por trás destes e outros sucessos. Posterior e atualmente, Shellback é o sueco que encabeça grandes hits que ouvimos. Um dos marcos de Shellback foi ter colocado 10 músicas em primeiro lugar na Billboard top 100. Hoje, ao invés dos artistas estrangeiros irem para a Suécia gravarem, o país é quem está exportando artistas..
Auto-Tune
Apesar da sua utilidade no mundo da música, o Auto-Tune tem sua origem de um engenheiro chamado Andy Hildebrand. Durante um jantar despretensioso, uma mulher perguntou se Andy não podia fazer um software que melhorasse sua voz ao cantar e isso foi um gatilho para o então empresário. Algum tempo depois Andy vem com a engenhoca que denominou “Auto-Tune”. Nele você pode, após capturar algum som, como uma voz, realizar edições como as que vemos em algumas músicas. Provavelmente a utilização mais famosa no mundo todo do Auto-Tune é a vista em Believe, música de 1998 da icônica e lendária Cher. Desde que iniciou sua carreira artística, Cher teve seus altos e baixos, inclusive quando lançou Believe com a voz completamente distorcida pelo Auto-Tune, deixando todos se questionando se naquela música realmente era a cantora. O produtor da faixa, à época, alegou que o artifício não havia sido usado, mas desmentiu alguns anos depois, quando a ferramenta ficou em maior evidência. Entretanto, This is Pop fala mais sobre a utilização do Auto-Tune pelo rapper T-Pain. O artista explica que, durante um voo, recebeu uma ligação de Usher afirmando, em tom triste, que ele estava acabando com toda a indústria da música, uma vez que ele não fazia músicas com sua voz, mas sim através do Auto-Tune. Houve um tempo de reclusão do cantor por conta dessa e outras opiniões acerca do assunto; logo depois, no entanto, ele reapareceu e fez uma apresentação sem a utilização de qualquer artifício terceiro, apenas sua voz e um teclado de fundo instrumental, provando — mesmo sabendo que não era necessário — que conseguia cantar naturalmente. Também é abordado, pra quem usava a internet em 2009 mais ou menos, os vídeos em que haviam paródias de notícias com Auto-Tune. Pra mim a mais famosa foi a Bed Intruder, falando sobre o caso de um homem que invadia casas e as roubava, daí fizeram um remix com Auto-Tune da notícia. Não só essas, na época muitos vídeos viralizaram com as mais diversas versões remixadas, geralmente de noticiários. Provavelmente o equivalente às versões de várias músicas em brega funk.
God save the Queen
Já vou começar dizendo que me decepcionei por não terem falado das Spice Girls aqui em This is Pop. Ainda assim é interessante como o documentário cita o cenário pop na Europa, evidenciando a briga entre Oasis e Blur na terra da rainha. E realmente não tem muito o que se aprofundar aqui, o documentário literalmente fala sobre quando as bandas disputaram o primeiro lugar nos charts, uma delas venceu e posteriormente cada uma lançou uma música tão boa quanto a outra, sendo elas Wonderwall e Song 2, respectivamente de Oasis e Blur. Apesar de darem espaço exclusivo para expor a rivalidade entre as bandas britânicas, houve um momento em que foi dito que o cenário grunge era o que dominava as paradas mundiais, tendo Nirvana em constante destaque e sucesso, fazendo com que as bandas tentassem alcançar sucesso em sua própria terra, o que acabou dando certo, afinal, todo mundo já ouviu o famoso “woo-hoo” em alguma trilha sonora. E apesar de ter citado as Spice Girls no início, o This is Pop também poderia ter mencionado outras figuras de valor relevante como Amy Winehouse, George Michael, Elton John e outros que são bastante importantes para a música pop da época e atual.
O poder da música
A música pop chega à massa de forma contagiante com refrões chicletes, fazendo com que lembremos sempre daquela batida. Outras vezes a música possui um papel, que também deve ser contagiante, mas trazendo alguma mensagem e/ou significado mais profundo. This is Pop é um documentário que, sim, retrata um bocado da história da música pop, mas também fala sobre a capacidade dessa arte em tocar as pessoas sobre assuntos que podem ser tabus em alguns momentos e até mesmo proibidos em outros, libertando as pessoas de suas amarras pessoais, sociais ou religiosas, oferecendo uma visão mais ampliada do mundo como ele é — ou talvez gostaríamos que fosse. É muito interessante como eles abordam histórias de protestos que foram marcados pelas músicas que compuseram esses feitos, em sua maioria, que falam sobre a resistência de pessoas negras e outras minorias, assim como a sua importância de lembrar a essas e outras pessoas que pertencem a pequenos grupos sociais, que elas podem e devem clamar seus direitos, pois não é o tom da sua pele ou o gênero pelo qual você pertence que você deve aceitar ser menosprezado por pessoas privilegiadas. Apesar do foco necessário sobre movimentos negros, como o Black Lives Matter, também são abordados temas como a resistência dos povos indígenas no Canadá (que foi um assunto recente nos jornais) e o movimento Riot Grrrl, onde mulheres compunham letras inspiradoras, falando sobre sua liberdade que há séculos vem sendo interrompida e corrompida pela sociedade cada vez mais machista. Também fala sobre Hozier e sua famosa música Take me to Church, onde ele retrata os abusos, hipocrisia e relação discriminatória que a igreja católica tem desde sua concepção até os dias atuais. O documentário This is Pop também fala sobre outros assuntos como a importância do Brill Building, algo como o “centro de composição americana”, e também a importância dos festivais, desde Woodstock até os vistos hoje em dia, como o Coachella e Lollapalooza. Se você ficou curioso pra conferir mais sobre este documentário maravilhoso, você encontra o This is Pop na Netflix. Com tanta coisa interessante na primeira temporada, já estamos aguardando ansiosamente a próxima!
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