A “vacina” desenvolvida pelo grupo não é do tipo injetável, mas de aplicação via nasal via spray. Outro ponto interessante é que essa “vacina” poderia ser desenvolvida sem a necessidade de uma laboratório especial — claro, não é algo que possa ser feito na cozinha de casa como um xarope de guaco com mel e limão, mas qualquer estudante universitário de química ou de áreas biológicas com acesso ao laboratório da universidade poderia desenvolver a receita sem muitos problemas. Ela utiliza cinco ingredientes principais em sua composição: um epítopo peptídeo (biomoléculas formadas pela ligação de dois ou mais aminoácidos com potencial para gerar resposta imune), quitosana (um produto natural derivado da quitina), tripolifosfato de sódio, cloreto de sódio e água deionizada — todos que podem ser encontrados a venda sem muito esforço. De acordo com os criadores, esta “vacina” teria o objetivo de fazer com que as mucosas do nariz e do pulmão (os locais de entrada mais comuns do vírus causador da COVID-19) ofereçam uma resposta imune ao novo coronavírus, destruindo ele antes que possa se multiplicar dentro do corpo. Além disso, esta “solução” foi cadastrada sob uma licença Creative Commons, o que permite que qualquer pessoa compartilhe e modifique a receita de qualquer modo e para quaisquer fins sem precisar se preocupar em pagar algo para os criadores da receita.
As dúvidas sobre a vacina da RaDVaC
Uma vacina fácil de fabricar, fácil de aplicar e que qualquer um pode fazer em casa sem se preocupar com o pagamento de comissões e direitos autorais parece algo muito bom para ser verdade — porque, provavelmente, é. Ainda que a RaDVaC seja formada por cientistas e engenheiros reais — muitos deles com diplomas e trabalhos de pesquisa em algumas das melhores universidades do mundo — há alguns pontos que precisamos ficar atentos antes de considerarmos esta como uma solução para a pandemia que aflige o mundo todo. O primeiro deles é quanto à própria eficácia da “vacina”, já que ela foi testada apenas entre os próprios criadores — um grupo de cerca de 20 pessoas. Eles dizem que a “vacina” funciona e que o único efeito colateral sentido foi um certo desconforto no nariz, mas 20 pessoas é um grupo de teste muito pequeno para se tirar conclusões sobre qualquer remédio. Este é mais ou menos o mesmo número de pessoas testadas no famoso “estudo” francês que foi o primeiro a defender a hidroxicloroquina como uma “cura” para a COVID-19, e que posteriormente foi desmentido por outros inúmeros estudos, que indicaram que fazer uso do medicamento pode ser até mais perigoso do que o próprio vírus em alguns casos. Outro ponto de desconfiança é o fato desses pesquisadores terem publicado a receita para essa “vacina” sem que o estudo original deles tenha sido revisado por outros cientistas. A chamada “revisão por pares” é uma das fundações de todo o processo científico, e é usado para publicação de artigos científicos e na concessão de verbas de pesquisa porque é uma forma de garantir a qualidade do trabalho e dar segurança de que aquele estudo seguiu todo o rigor exigido de uma pesquisa acadêmica, e que o experimento possa ser replicado com o mesmo resultado por qualquer pessoa que siga exatamente o mesmo processo. Junte-se isso ao fato dessa “vacina” ter sido disponibilizada ao público antes de mesmo de ser submetida à aprovação de qualquer órgão governamental de segurança (como a FDA, que precisa aprovar a qualidade de todos os remédios que são disponibilizados para comercialização nos Estados Unidos) e toda essa história se torna ainda mais estranha, principalmente porque certamente os cientistas responsáveis pela “vacina” sabem a importância de seguir todos esses passos. Isso não quer dizer necessariamente que a “vacina” desenvolvida pela RaDVaC é uma farsa completa, mas que, hoje, não há nenhuma garantia de que ela realmente funcione além da própria palavra de seus criadores. Então, até que mais estudos sérios sejam feitos e ela seja testada em um número maior de pessoas, ela na teoria é tão eficaz quanto uma receita de chá anti-COVID que você viu um adolescente sem qualquer formação farmacêutica fazer no YouTube. Fonte: RaDVaC