Essa primeira exibição é lembrada nos anais da história por um “causo” bem engraçado que ocorreu nela: por causa do plano utilizado pelos diretores para a filmagem – que consistia de um trem indo em direção às pessoas que assistiam o filme – muita gente achou que um trem de verdade estava vindo na direção delas e pulou de suas cadeiras, correndo para os lados e para o fundo da sala a fim de se protegerem. Apesar de ter produzido esse efeito nas pessoas, o filme estava longe de ter uma grande qualidade de imagem – afinal, havia sido produzido com equipamentos que estavam disponíveis no final do século XIX, e hoje qualquer smartphone possui uma câmera muito melhor do que a usada pelos irmãos Lumière na gravação deste filme. E fica uma dúvida no ar: como seria este mesmo filme se ele fosse gravado com as câmeras atuais?
Aplicando inteligência artificial no cinema clássico
Utilizando atuais tecnologias de redes neurais e softwares de inteligência artificial, o YouTuber Denis Shiryaev conseguiu transformar o filme em preto e branco (e que, como pode ser visto no vídeo abaixo, originalmente era incrivelmente granulado e com uma velocidade de reprodução bem irregular) em uma nova versão com resolução 4K e que é reproduzido a uma velocidade estável de 60 fps. Para isso, Shiryaev usou como base não a versão original dos Lumière (aquela que foi exibida em 1896 e que pode ser vista logo acima), mas uma versão que já havia passado por uma certa “limpeza” na qualidade da imagem – e que, mesmo assim, ainda estava longe de ser considerada como um uma gravação de qualidade para os padrões atuais, como é possível ver no vídeo abaixo. Usando essa segunda versão como base, o youtuber utilizou dois métodos distintos para melhorar o filme dos Lumière: o primeiro deles foi o uso da técnica conhecida como Depth-Aware Video Frame Interpolation (Interpolação de Quadros de um Vídeo com Informações de Profundidade, em Tradução Livre) ou DAIN, que permite a sintetização de novos quadros (ou frames) que serão inseridos entre dois quadros já existentes de um vídeo. Essa técnica utiliza sistemas neurais para analisar dois quadros em sequência de um vídeo e, então, inserir entre eles um novo “quadro de transição” criado pelo computador, desenvolvendo assim o que deveria ser um terceiro quadro que não existe no vídeo original, mas se existisse estaria presente entre os dois analisados. Ela permite que se aumente a taxa de quadros de um filme de forma que se pareça natural e não cause “estranhamento” ao olho humano, permitindo transformar, por exemplo, um vídeo gravado a uma taxa de 24 fps em uma nova versão com a mesma duração e qualidade do original, mas que pode ser reproduzido a 60 fps. O segundo método foi passar o vídeo pelo software Gigapixel AI, que utiliza inteligência artificial para aumentar o tamanho de imagens sem que elas percam qualidade. Este programa utiliza o poder de redes neurais para realizar uma análise profunda das imagens originais e não somente ampliá-las, mas também destacar detalhes dos objetos filmados que não existem na imagem original, como a textura do solo por onde os trilhos passam e até mesmo a identificação das feições das pessoas que aparecem em cena, algo que fica bem borrado no filme dos Lumière. O resultado final – uma versão de L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat em resolução 4K e rodando a estáveis 60fps – pode ser visto no vídeo abaixo, e mostra o quão poderosos são alguns dos softwares de inteligência artificial para vídeos disponíveis hoje no mercado. Gostou do resultado? Qual filme clássico você gostaria de ver em qualidade 4K? Escreva nos comentários! Fonte: Engadget