É sabido que muito da popularidade de um filme nas salas de cinema dependem do boca a boca. Em tempos de internet é natural que essa cultura tenha sido transferida para comunidades online. A função dos sites especializados de cinema é filtrar todas essas opiniões de maneira a equilibrar a opinião dos fãs e a opinião dos críticos. É um bom termômetro que ajuda a muitos decidir qual é o próximo filme imperdível. Exemplo disso foi Lady Bird, que virou notícia e indicado ao Oscar depois de ter nota 100 no Rotten Tomatoes antes de sua estreia. Mas o seu caso foi uma exceção. Capitã Marvel não foi o primeiro filme a receber uma onda massiva de críticas nos sites especializados antes de sua estreia. O mesmo aconteceu com, por exemplo, o remake dos Caça-Fantasmas. Vale lembrar que opiniões negativas são válidas e bem-vindas, mas, o que faz a decisão ser infalível foi não permitir que usuários possam fazer comentários a respeito do filme antes de sua estreia, e também bloqueou a porcentagem de pessoas interessadas em assistir ao título a fim de dar cabo de campanhas de ódio massivas.
Bombardeio de reviews negativas não é exclusivo do cinema
A maioria das plataformas de análise on-line encontrou algum tipo de review-bombing (bombardeio de revisões, em tradução literal) – um termo que abrange amplamente um esforço coordenado para dar a um projeto um influxo de avaliações negativas, com base em algum problema controverso que é tangencial ao próprio projeto. Revisar este bombardeio não é de todo modo universalmente condenável; no universo gamer, por exemplo, ele é usado para protestar contra características impopulares que afetam os jogadores de maneira genuína, como a proteção contra cópia draconiana. Mas nos últimos dois anos, as campanhas de maior repercussão em termos de revisão de opinião tiveram como alvo grandes produções cinematográficas ao colocar mulheres e negros como protagonistas. Quer exemplo maior disso que a nova franquia de Star Wars? E ela é tão assídua, barulhenta e ostensiva que faz com que alguns sites de resenhas pensem com mais cuidado sobre como criar uma plataforma à prova de haters. Em uma teleconferência com The Verge, um porta-voz disse que o Rotten Tomatoes (que é propriedade da plataforma de venda de ingressos Fandango) enfrentou um novo nível (astronômico, diga-se de passagem) de bombing-review nos últimos 18 meses. Ela disse que apenas alguns filmes foram seriamente alvejados – incluindo Star Wars: O Último Jedi e Pantera Negra, duas grandes franquias que criticam o racismo e o sexismo de forma implícita ou explícita. Mas os haters estão se tornando um risco padrão para qualquer filme grande que seja considerado muito feminista ou anti-racista, a ponto dos estúdios estarem ativamente tentando combate-los. Rotten Tomatoes agora só vai abrir comentários após a estréia de um filme, e não está mudando a maneira como os usuários podem rever filmes – idealmente, quando as pessoas começarem a assistir ao filme, suas críticas positivas e negativas vão eclipsar os comentários de má-fé.
O clímax
Não está claro o quanto o Rotten Tomatoes perde ao fechar os comentários de pré-lançamento. O porta-voz disse que eles forneceram um lugar genuinamente útil para os fãs se reunirem, antes de serem invadidos por pessoas que só querem fazer um filme falhar. Mas o Metacritic e o IMDb, dois outros grandes sites de revisão de filmes on-line, não têm um sistema equivalente. E a Letterboxd, uma comunidade de resenhas de filmes menores, está removendo sua própria opção de avaliação de pré-lançamento nas próximas semanas – não porque tenha sérios problemas de haters, mas porque não quer ajudar a cultivá-los. O cofundador da Letterboxd, Matthew Buchanan, diz que o site foi construído com avaliações antecipadas simplesmente para permitir aos usuários terem acesso a mais opções. “Quando começamos, éramos um pequeno time”, disse ele. Nesse ponto, a plataforma era tão pequena que os trolls e haters não se incomodavam em explorar seus pontos fracos. “Tivemos algumas campanhas de avaliações [ruins] – por exemplo, no remake dos Caça-Fantasmas.” Mas ele continua que elas foram raras e geralmente pouco afetadas dado às avaliações genuínas após o lançamento. Depois de ver Rotten Tomatoes repensar sua política, porém, a equipe decidiu fazer alterações semelhantes de forma preventiva. O Letterboxd vai começar a congelar as classificações até o lançamento de filmes que provavelmente vai atrair campanhas de ódio, depois expandir essa mudança para cobrir toda a plataforma.
A sabotagem do Review-Bombing no Rotten Tomatoes
Em última análise, Rotten Tomatoes argumenta que review-bombing não sabotam as chances de sucesso de um filme. O porta-voz apontou que o Capitã Marvel conseguiu vender mais ingressos na pré-venda no site da Fandango do que quase qualquer outro filme da Marvel – na verdade, é atualmente mais popular na pré-venda do que qualquer filme, exceto Vingadores: Guerra Infinita. Mas, no mínimo, essas campanhas podem tornar os sites de resenhas um lugar desagradável para se passar o tempo – e, como muita raiva on-line, elas não refletem necessariamente como a maioria dos usuários se sente. Ninguém encontrou uma solução perfeita para analisar as campanhas de ódio. Algumas plataformas tentaram criar sistemas técnicos para desativá-las. O IMDb utiliza uma fórmula secreta de ponderação para calcular suas classificações de estrelas, então, no que chama de “casos raros” de revisões não autênticas, “leva em consideração inúmeras técnicas para inflar/ deflacionar artificialmente a classificação de um título e tenta neutralizar seu impacto”. Por outro lado, o Steam pede que os usuários avisem os próprios ataques a eles, verificando padrões e quantidades de avaliações – embora os jogos ainda sejam notoriamente vulneráveis à prática. O porta-voz do Metacritic comentou que o site lida com tal questão não permitindo que os usuários avaliem filmes ou jogos antes do tempo, e após o lançamento, fazem com que moderadores “revisem regularmente o site” para análises suspeitas. Essa é uma postura semelhante à que o Rotten Tomatoes está tomando. É claro que, caso essas plataformas crescerem substancialmente ou os haters aumentarem seus esforços, estes sites podem ter os mesmos problemas que o YouTube ou o Facebook – cujos moderadores humanos estão em grande desvantagem e frequentemente sobrecarregados, desanimados ou até mesmo traumatizados ao lidar com vitimas contínuas. No mundo dos jogos, onde os desenvolvedores costumam atualizar os jogos em resposta ao feedback, às vezes é difícil traçar uma linha entre o protesto significativo e a raiva sem sentido. Mas só sites especializados de cinema estão enfrentando atualmente um problema muito específico: um grupo limitado de pessoas que, por um punhado de razões, optam por boicotar filmes por razões ideológicas amplas. E apesar de suas limitações, essa combinação de moderação humana e remoção de recursos obviamente exploráveis ainda pode ser a melhor solução até agora. fonte: The Verge