O golpe fatal foi o sucesso absoluto das plataformas de streaming, que contabilizam nada mais que 38% da receita global da indústria musical, que se reinventou e se reinventa, a duras penas, junto com a tecnologia que a precede. Desde o ano passado, a árdua batalha entre as vendas digitais e as físicas determina o streaming como vencedor absoluto. E o CD, por sua vez, encara seu irremediável fim. Aparentemente. Aos seus entusiastas, não é o caso necessariamente. Em uma matéria detalhada para o The Guardian, o jornalista Jumi Akinfenwa mostra que a premissa está equivocada e é enfático: os discos não estão tão fora de moda assim. Lojas com uma abordagem moderna como a Urban Outfitters, encontrou no vinil e cassetes um viés que os torna atrativos para um grupo demográfico mais jovem, e a popularidade dos artigos colecionáveis no Record Store Day anual mostra que o vinil teve um renascimento em grande escala. Mas enquanto os compactos representam apenas 30% do mercado global da música, 42% da população do Reino Unido ainda escolhem os discos como formato preferido, de acordo com um relatório da YouGov. Desses 42%, dois terços disseram que provavelmente ainda os ouviriam em cinco anos. Mesmo difamados por suas embalagens rígidas e pouco atrativa, se comparado aos discos de vinil, talvez no futuro os álbuns se tornem um item retrô Embora os álbuns físicos sejam frequentemente difamados por suas embalagens rígidas e muitas vezes, pouco atrativas para sua nova proposta, alguns também veem isso como um recurso atraente. Isso é o que acontece para Stephen Thomas Erlewine, o editor sênior da AllMusic, que diz ao The Guardian: “Eu quero ter encarte por aí. Descobri que as anotações do CD, especialmente para reedições nos anos 90 e além, podem ser a única redação detalhada disponível para certos artistas, cenas, eras e selos. ”. Discos compactos de segunda mão estão se mostrando tão populares quanto: é o formato de vendas que mais cresce segundo o Discogs, registrando um crescimento de 28% no ano passado. O especialista em discografia da empresa, Brent Greissle, afirma: “Como alguém que está sempre em busca de música nova, a falta geral de atenção aos álbuns significa que geralmente posso encontrar muito mais do que gosto sem ter que pagar um pacote premium.”.
CDs são uma mina de ouro a espreita
Apesar do compacto de segunda mão se tornar uma alternativa cada vez mais popular para o vinil, sua relativa acessibilidade também serve como um sinal de seu declínio. Richard Farnell, co-proprietário da Vinyl Exchange, uma loja de discos em Manchester, conta que: “Ainda vendemos muitos compactos, mas a preços muito mais baratos do que cinco a dez anos atrás. Não há evidências para um revival de CDs – a maioria das lojas de discos recém abertas não costuma tê-los (para venda). ” Em vez disso, essas lojas optam pelo vinil – para DJs, para os nostálgicos também e os seus clientes mais jovens, assíduos por consumir mercadoria retro. Nenhuma dessas funções está sendo preenchida por CDs atualmente. “Os CDs não têm esse quê único do vinil tanto quanto o cativante desajeitamento dos cassetes”, diz Rebecca Tuhus-Dubrow, autora do Personal Stereo. “Eles podem não ser tão propícios à nostalgia porque talvez não tenhamos tido a chance de sentir tanto a falta deles. Da mesma forma, nós não podemos associá-los fortemente a qualquer época passada.”. Mas isso pode estar começando a mudar. “A geração Z está entrando na zona da nostalgia”, enfatiza Greissle. “É provável que as pessoas reconectem com a juventude e comprem a música que amavam nos formatos em que originalmente a criaram. Eu já vi algumas evidências de pessoas se reconectando com essa época comprando iPods de primeira geração atualizados”.” Como tantos outros, o hipster está no comando desses revivals. “Algo que já foi o formato dominante se desvanece do espírito da época, antes que alguém a redescubra para se diferenciar do resto da multidão”, comenta. “Para ser honesto, sempre achei que os CDs eram algo que eu chamo como ‘kryptonita hipster’, mas isso poderia estar mudando. O tempo vai dizer.”. Se o futuro parece incerto, o mercado de discos físicos ainda mostra sinais de perseverança como cantoras pop como Adele e Taylor Swift batendo a marca de um milhão de CDs vendidos apenas nos EUA com seus últimos lançamentos de acordo com a Billboard 200 chart, que contabiliza a venda dos álbuns mais vendidos no país. Do outro lado do mundo, o grupo sul coreano BTS somou cerca de 1.5 milhões de discos compactos vendidos apenas na pré-venda em seu país, quebrando o seu próprio recorde.
Sucesso meteórico na Ásia
Se por um lado os artistas ocidentais tentam se reinventar e buscar por novas maneiras de não abandonar de vez o lançamento físico, os artistas orientais, em contrapartida, parecem ter encontrado a solução: os CDs tornaram-se artigo de fidelização entre grupos e fãs. Apostando em design arrojados e cards colecionáveis de cada integrante do grupo, as vendas físicas de discos na Ásia tornam-se uma parcela significativa de lucro e os relançamentos com a adição de músicas inéditas é um recurso natural para a indústria. Um mesmo artista pode oferecer aos fãs uma série de embalagens diferenciadas para um mesmo lançamento por exemplo e especiais da estação não são dispensados. Os esforços recompensam em números. O já citado grupo coreano BTS venderam apenas da pré-venda mais de três milhões de cópias com a série Love Yourself. Seus conterrâneos, Big Bang, são a boyband que mais venderam discos mundialmente e seus números superam sucessos como Backstreet Boys e One Direction. Em dez anos de carreiras eles somam cerca de 160 milhões de discos compactos vendidos. No Japão, os números são ainda mais expressivos. As vendas de CDs correspondem a 85% do mercado, reforçadas pela resistência do próprio público em abrir mão do recurso. Mas há mais: ao comprar um CD por exemplo, existem chances de concorrer a um evento em que os próprios artistas estão presentes. Estes eventos são chamados de Fansign, onde os idols autografam os físicos e aproveitam para conversar com os fãs por um breve momento, e o Hi Touch, onde se é possível dar um “high five” em seu artista do coração. Não é estranho um mesmo individuo comprar uma série de álbuns na fissura pelo tal ticket dourado. Funciona. E todos ficam satisfeitos. Talvez o futuro iminente dos CDs não seja tão obscuro assim. Fonte: The Guardian