A partir daí, palavras como Skywalker, jedi, Yoda e Darth Vader nunca mais abandonaram nosso imaginário. Em investidas mais ou menos sucedidas, mas sempre com bilheterias astronômicas, o Episódio IV: A Vingança dos Sith em 2005 pareceu cravar de vez o encerramento da franquia nos cinemas. Isso foi uma verdade até 2012, quando a Disney abocanhou os direitos da LucasFilm por um valor nada modesto de US$ 4 bilhões (R$ 16,2 bilhões). Os fãs entraram em alvoroço, já que muito indicava o interesse do estúdio em revitalizar as franquias aos moldes do Universo Cinematográfico Marvel. Na prática, isso significava lançamento de um filme de Star Wars por ano, em uma narrativa associada entre sequências, prequels (obras que se passam cronologicamente antes da trama original, como no caso de Rogue One) e spin-offs (desdobramentos em torno de um personagem específico, com a tentativa de Han Solo). Com uma galáxia inteira para se explorar, as possibilidades eram infinitas e, para todos os envolvidos, havia um consenso de que eles possuíam em mãos uma franquia sem fim. Mas as coisas não funcionaram tão bem assim. Se por um lado, o sucesso da terceira trilogia da saga, graças principalmente a Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força, resgatou o poder da franquia na cultura pop e garantiu à empresa recuperar os generosos gastos com a compra da Lucasfilm., por outro os 7 anos da franquia Star Wars na Disney foi marcado por uma série de turbulências. Diretores se demitiram ou foram demitidos de projetos; refilmagens de última hora mudaram o rumo de obras já na mesa de edição; e o fracasso de bilheteria de Solo fez a empresa repensar o que o público quer — e quanto ele quer. E o que público quer talvez seja algo que a empresa não pode mais oferecer: a família Skywalker. Com a estreia do Episódio IX: A Ascensão Skywalker, que marca em definitivo a ausência dos três personagens principais da saga: Luke, Leia Skywalker e Han Solo, o filme, para além de uma conclusão de uma trilogia, passa a ser visto como um verdadeiro divisor de águas. O que será feito de Star Wars sem os Skywalkers?
Star Wars: superexposição não é a resposta
Enquanto aos olhos do grande público a franquia Star Wars está tão bem quanto antes, aos olhos dos executivos Disney os resultados estão aquém do investimento bilionário. O fracasso do spin-off sobre Han Solo, que arrecadou US$ 325 milhões de bilheteria mundialmente – o que, para qualquer outro filme seria um valor muito bem-vindo – foi faísca o suficiente para fazer com que acontecessem uma série de explosões de dentro para fora da LucasFilm. Primeiro, os executivos entenderam que a franquia e o público de Star Wars é diferente do Universo Cinematográfico Marvel. Logo, o que funciona para um não é necessariamente o que funciona para outro. A palavra da vez é fadiga. Segundo esse pensamento, a trilogia original de George Lucas é especial demais para ser tratada como uma franquia qualquer e a superexposição arruinou essa magia. A espera faz parte do pacto entre franquia e seu público fiel.
Futuro no streaming
Em números práticos, os dois projetos já confirmados que marcam o inicio da nova era de Star Wars na Disney tem nome e casa: é na plataforma de streaming do estúdio que os primeiros resultados positivos que a franquia ganhou um novo fôlego. Com a popularização do The Child, apelidado carinhosamente pela internet de Baby Yoda, a série The Mandalorian, dirigida e idealizada por Jon Favreau (Homem de Ferro, Mogli, O Rei Leão), já é um bom indicativo de que os próximos passos encontraram lugar em telas menores. Para além disso, uma série sobre Obi-Wan Kenobi, estrelada por Ewan McGregor (mesmo ator viveu o personagem na segunda trilogia, que se iniciou em 1999), tem como objetivo preencher as lacunas do personagem e do universo Star Wars no período de tempo que separam a trilogia original da segunda. Talvez a Disney tenha percebido que os spin-offs são bem melhor administrados pela menor escala da televisão do que pela grandiosidade do cinema. Os fãs desejam complexidade, algo que o tempo limitado de tela oferecido pelo cinema faz tudo parecer apressado. Quanto à contratação e demissão de diretores, D.B. Weiss e David Benioff, produtores e criadores de Game of Thrones, deixaram recentemente uma trilogia planejada de filmes devido a um acordo que assinaram com a Netflix. Ao que tudo indicava, D&D planejavam explorar a origem dos jedis, possibilidade essa que fica em aberto e que muito será aproveitada em um futuro próximo. Rian Johnson, outro nome ligado à franquia e diretor de Os Últimos Jedi, foi contratado para idealizar uma outra trilogia, enquanto Kevin Feige, principal idealizador do Universo Cinematográfico Marvel também está desenvolvendo um filme. É muito provável que qualquer um destes nomes se tornem o principal líder criativo da franquia Star Wars, dando a tão necessitada uniformidade que a Disney aparentemente precisa.
Deixe o passado morrer
É com essa frase que Kylo Ren tenta seduzir Rey em Os Últimos Jedi, mas talvez o conselho também sirva para a Disney trabalhar o futuro da franquia. Não há mais como recorrer aos personagens originais, o grande segredo para Star Wars seja exatamente nas possibilidades. Existe uma infinidade de planetas, galáxias e histórias a serem exploradas. Em termos de uma saga ambientada após A Ascensão Skywalker, isso depende muito do que acontece neste novo filme. Mas o que parece provável é que uma nova saga ocorra no futuro ou no passado antigo. Este último tem precedente na forma de série de videogame Knights of the Old Republic, favorita dos fãs, que se passa 4 mil anos antes da ascensão do Império e segue uma guerra devastadora entre os Jedi e os Sith. Em uma franquia em que tempo e espaço não são fatores limitantes, o futuro parece brilhante e infinito. Desapegar parece inevitável. O que será de Star Wars sem os Skywalker? A força nasce em todos os lugares do universo e, em um mundo que tem como principal preceito o equilíbrio entre a força e o lado negro da força, parece que sempre haverá um terrível perigo à espreita, pronto para ser explorado.