Criação e conceito

O projeto Earth2 foi idealizado pelo australiano Shane Isaac, que, segundo o próprio, tem mais de 20 anos de experiência em desenvolvimento e gerência. A ideia, de acordo com o site, é a de criar um mundo completamente digital, uma representação virtual do planeta Terra, onde os usuários possam construir, viver, comercializar, interagir e ter todo tipo de experiências. Acontecimentos reais, como terremotos ou a descoberta de recursos naturais no terreno, devem refletir no Earth2. Nesse aspecto, o conceito realmente tem características de um jogo – alguns dos desenvolvedores que fazem parte do projeto possuem experiência com jogos de construção de mundo, inclusive. Até o momento, no entanto, o estado do Earth2 está longe de ser o descrito acima. Atualmente, a plataforma tem apenas um mapa da Terra reproduzido em escala 1:1 (ou seja, em tamanho real, como o Google Maps), que é dividido em “terrenos” de 100 metros quadrados (10 por 10 metros). Cada um desses terrenos virtuais é vendido por dinheiro real, sendo que a cotação do E$, moeda virtual do jogo, equivale a um dólar estadunidense (US$). Cada terreno tem preços diferentes e a atualização dos valores é diária. Os preços variam de centavos de dólar – em Camarões, por exemplo – a quase US$60, nos Estados Unidos. A partir disso, há um marketplace próprio onde os usuários podem vender e comprar terrenos, então há um mercado próprio de lotes virtuais acontecendo – com a possibilidade de resgatar o dinheiro ganho com a compra e venda dos mesmos, convertendo a moeda do jogo em dólares reais. Também é possível ganhar bônus dentro do jogo convidando usuários para participar com um código gerado individualmente pelos jogadores. Essa é apenas a Fase 1 do “jogo” – para chegar ao ponto proposto pelo projeto, que pode ser resumido em “Earth2 mistura investimento e realidade virtual”, há de se chegar nas outras fases.

As Fases e o futuro do jogo

Toda a base do universo prometido pelo jogo Earth2 está, na verdade, nas fases 2 e 3. Na Fase 2, o que vai acontecer é que os terrenos virtuais começarão a gerar uma “renda”, baseada nos recursos naturais presentes no território possuído – caso você tenha comprado um lote que tem ouro, petróleo ou até mesmo água, o sistema irá “gerar” esse recurso e aumentar seus dividendos com base nisso. Segundo os desenvolvedores, em algum momento outros recursos não baseados no terreno real poderão ser gerados – de forma randômica – para que todos ganhem algo, não apenas os que obtiveram lotes já definidamente produtivos. Na Fase 3, o jogo realmente deverá atingir o objetivo proposto, que é gerar um modelo 3D do planeta, simulando toda a Terra e trazendo mecânicas de exploração, construção e interação, para que os usuários consigam editar o que há no terreno da forma que desejarem. A partir desse momento, o jogo realmente se tornaria uma “Terra2“, já que seria uma replicação exata do planeta, mas com as modificações dos donos dos terrenos virtuais. Mas aí surge o questionamento… quão factível é o projeto?

Earth2 é confiável?

Bem, agora entramos na parte mais complicada do projeto – sua confiabilidade. Observando o Earth2 da forma que ele é hoje, o “jogo” se parece mais com uma plataforma de investimento: os jogadores compram e vendem terrenos, aproveitam quedas e aumentos de preço e basicamente trabalham com especulação. Além disso, muita coisa no projeto parece ser feita de forma que incentive a cooptação de usuários e aplicação de um sistema de convites, o que, com outros elementos, dá praticamente todas as características de um Esquema Ponzi, ou Esquema de Pirâmide. Como o canal do YouTube KiraTV aponta, o próprio marketplace do jogo é confuso e tem poucos filtros – basicamente, o que você pode fazer nele é ver os terrenos com maior valor, em ordem decrescente, e os usuários com a maior quantidade de terrenos, também em ordem. Alguém que compre um terreno de valor menor, para começar no jogo, por exemplo, tem chances muitíssimo baixas de aparecer em destaque na plataforma. Para poder fazer uma boa propaganda do lote que se pretende vender, a maneira mais eficiente é divulgar o terreno com seu código de convite – que gera 5% de lucro extra, tanto para o comprador quanto para o vendedor – o que traz mais jogadores para a plataforma. O sistema de convite é uma estratégia inteligente para atrair mais usuários, mas deixa o jogo muito semelhante a um esquema de pirâmide, não acha? Além disso, é notável que os 5% de lucro em cima da venda do terreno saiam, na prática, de lugar nenhum – já que não parte do comprador e nem do vendedor. Como os jogadores podem sacar o dinheiro que ganham no jogo, isso significa que a empresa tem de pegar esse dinheiro de algum lugar. O que esse e outros negócios fazem, no início, é bancar esse lucro do próprio bolso, para atrair mais usuários e dar um ar de confiabilidade ao projeto. Isso, no entanto, não é muito lucrativo, e especula-se que os desenvolvedores possam estar usando o dinheiro que outros usuários pagam nos terrenos para bancar o lucro e os resgates para dinheiro real que outros jogadores fazem. Esse ato de pagar os rendimentos com o capital de novos “investidores” é um dos sinais mais claros de um Esquema Ponzi – não sabemos se é isto o que está ocorrendo, mas a probabilidade é grande. Isso, em teoria, não é ilegal e não vai de encontro às promessas do jogo, no entanto. Outra coisa no mínimo esquisita são as promessas da Fase 3. Ao mesmo tempo que um mundo 3D simulado é um conceito interessante e até plausível, o nível de detalhes e a escala do projeto é algo que deixa qualquer conhecedor de jogos eletrônicos no mínimo desconfiado. Segundo o próprio site: Suspeito, não é? Essa promessa quer dizer que o jogo Earth2 seria, basicamente, maior e melhor do que todos os jogos sandbox (“caixa de areia”, em tradução literal, onde se pode explorar o mapa livremente), já que abarcaria o planeta todo e faria isso sem precisar sequer de carregamentos e funcionando em computadores mais modestos. No mínimo, é uma promessa que vai dar muita dor de cabeça aos desenvolvedores e programadores do jogo, que teriam de fazer algo inédito para que tal sistema funcione. No máximo, é simplesmente uma promessa vazia. As coisas ficam mais estranhas quando vemos como funciona o sistema de pagamento do site. Para enviar dinheiro e comprar, é bem fácil – basta ter uma conta no PayPal para comprar créditos no jogo e usá-los nas transações. Para receber, é outra história: até o momento, o único modo que os desenvolvedores têm à disposição é um e-mail para o qual você deve enviar uma mensagem. Dentro de um tempo indefinido, você será respondido e deverá receber o dinheiro. Alguns usuários disseram ter esperado por semanas ou até meses – depende muito do caso e do valor a receber. Mais uma suspeita. Além disso, apesar do fato do CEO Shane Isaac dizer que possui mais de 20 anos de experiência de trabalho, seu LinkedIn mostra apenas o trabalho com o Earth2 e cerca de quatro anos de experiência com XYZ Social Media, empresa de Sidney, Austrália. Porque ele não deixaria pública sua experiência anterior com desenvolvimento e gerência, é um mistério que ninguém sabe e apenas adiciona mais suspeição ao negócio. Finalmente, há a questão dos termos de serviço da plataforma. Neles, pode-se ler que “a completude, precisão e adequação das informações contidas neste site não é garantida por nós”, e também que “não nos comprometemos a manter este site atualizado”. Coisas estranhas para se colocar nos termos de serviço de um website que envolve transações financeiras, não é?

Conclusão

O jogo Earth2 – ou marketplace, como aparenta ser até o momento – é, até agora, no mínimo um investimento de risco. Não temos provas definitivas de que o negócio é de fato um Esquema Ponzi ou tenha qualquer atividade fraudulenta, mas há suspeitas o suficiente para que não tenhamos certeza de que é seguro. Encorajamos que você mesmo procure informações antes de decidir comprar um terreno no site – procuramos juntar o máximo de informações para você ter alguma ideia de como funciona e quais são os riscos envolvidos, mas conhecimento nunca é demais. A maior parte dos conteúdos disponíveis está em inglês, mas há algumas fontes em português também. Muitos usuários esperam que o jogo Earth2, em algum momento, transforme sua moeda interna em algum tipo de criptomoeda – o que poderia facilitar algumas coisas e bem, sinceramente, o sistema já funciona de forma semelhante no que tange a especulações e compra e venda de itens. O site certamente utiliza várias técnicas para atrair usuário, mais gritantemente o FOMO (“fear of missing out”, ou traduzindo, o medo de ficar de fora das últimas tendências) e, indiretamente, o sistema de indicações ou convites. Caso o site realmente consiga cumprir todas as promessas no final, ótimo – todos saem ganhando. Há, no entanto, sinais o suficiente para que peçamos cautela na hora de lidar com ele. O Earth2 é confiável? Só o futuro dirá. E aí, o que achou da matéria sobre o jogo Earth2? Fique de olho no Showmetech para continuar informado sobre criptomoedas e negócios online no geral. Fontes: Earth2.io | KiraTV | Tech We Want

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