A lista mistura produções originais do streaming e filmes de várias distribuidoras. Há espaço para muita reflexão, conhecimentos sobre fatos, descoberta de informações e apresentação de figuras públicas e anônimas. A curiosidade pelo novo ou em rever coisas conhecidas é o que move as sessões.
Humano – Uma Viagem Pela Vida (2015)
As individualidades dos povos demonstram como o planeta reúne diferentes realidades. O diretor, fotógrafo e ambientalista francês Yann Arthus-Bertrand realiza jornada por variados cantos do mundo para ouvir histórias e percepções. Os relatos de milhares de participantes estão espalhados por Humano – Uma Viagem Pela Vida. Nas entrevistas, representantes de mais de 60 países revelam suas experiências. Há homens, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, trabalhadores rurais, ex-combatentes de guerra, nômades, aborígenes e refugiados, apenas para citar algumas figuras.
Make Us Dream (2018)
Não faltam documentários que exploram a vida pessoal e profissional de grandes jogadores de futebol. De uma fase mais contemporânea do esporte, o britânico Steven Gerrard é o foco de Make Us Dream, de Sam Blair. Ele foi estrela do futebol da Inglaterra entre os anos 2000 e 2010 e é considerado uma das maiores figuras da história da equipe do Liverpool, onde atuou entre 1998 e 2015. A trajetória de glórias e títulos e frustrações e derrotas são prato cheio para dramas positivos e negativos na tela. O protagonista cresceu dentro do clube, tendo passado pelas categorias de base até ser chamado para o elenco principal. O passado de glórias e o então presente sem troféus são colocados em perspectiva na medida em que a carreira de Gerrard deslancha. Claro que as cenas em campo são essenciais para falar do meio-campista, mas são os momentos de bastidores que fazem o jogador se revelar. Mesmo no auge, ele se cobrava em nível muito elevado e ainda precisava ter clareza de ideias para lidar com o dia a dia do time, a pressão da torcida e todo o drama do futebol. A produção original Prime Video é bem menos ‘chapa-branca’ do que outros filmes do tipo.
One Child Nation (2019)
Uma estratégia de controle populacional e econômico se mostra muito mais dramática e complexa do que se imagina em One Child Nation. As cineastas Nanfu Wang e Jialing Zhang dividem a direção do documentário que apresenta para o mundo a ‘política de um filho’, em prática na China entre 1979 e 2015 como ideia para reduzir o número de chineses ao longo do tempo e para uma melhor administração de recursos das famílias. A partir do relato pessoal de Wang, o documentário expande detalhes sobre a lei e seus impactos na vida da população longe apenas da questão de haver controle de pessoas e dinheiro. Tráfico de crianças para outros países, mortes realizadas por parteiras e a preferência por filhos homens (com meninas podendo ser colocadas em cestos e descartadas) são alguns dos temas trazidos à tona. Relatos pessoais são colocados em visão mais ampla sobre esse caos vivido em território chinês desde o fim da década de 1970 que começa a ser explorado e analisado por uma visão mais moderna.
Rewind (2019)
O material de Rewind pode ser um gatilho emocional para que sofreu abuso sexual na infância. O diretor Sasha Neulinger faz de seu drama pessoal o universo no qual o tema ganha forma por meio de lembranças dele mesmo e de pessoas ao seu redor. A ideia é que o documentário funcione para apresentar para o público suas análises, investigações e angústias sobre o fato que o atormenta desde pequeno como um pesadelo. O trauma de Neulinger ganha forma a partir de conversas, desenhos antigos e a reunião de vasto acervo de filmagens caseiras feitas pela família. Ele tenta desvendar o que chama de ‘quebra-cabeça’ com peças importantes para a reconstituição dos fatos e para encontrar momentos essenciais para preencher lacunas. Confrontos com familiares, busca por informações de responsáveis, questionamentos sobre seu papel de vítima no crime e os desdobramentos do caso no tribunal fazem parte do filme.
Sharkwater Extinction (2019)
Documentários sobre a vida marinha e como ela impacta o mundo são chamativos, com os tubarões se mostrando personagens populares nesse tipo de produção. Os poderosos predadores dos mares são o ponto de discussão de Sharkwater Extinction, no qual o diretor e ambientalista Rob Stewart (1979-2017) revela seu amor pela espécie ao mesmo tempo em que alerta sobre a diminuição da sua população ao longo de décadas recentes, a caça ilegal e a matança brutal por conta dos humanos. Segundo o filme, a quantidade de tubarões existentes foi dizimada cerca de 90% nos últimos 30 anos. O cineasta dá detalhes da vida desses protagonistas e como é sua relação com o ser humano, mais amistosa do que se imagina. Mas o material ganha força ao questionar decisões sobre sua pesca predatória mundial e revelar máfias sobre o comércio do peixe, com as investigações da equipe rendendo cenas de perseguição. Uma parte dramática envolve a morte de Stewart durante um de seus mergulhos no meio das gravações. A finalização do projeto acaba por ser uma homenagem ao seu legado.
Standing in The Shadows of Motown (2002)
O estúdio Motown marcou seu nome na história da música ao abrir espaço para artistas negros e apostar em estilos como soul, funk e R&B. Grandes nomes desses gêneros tiveram suas canções desenvolvidas pela gravadora, mas um grupo de apoio da produtora envolvido em dezenas de sucessos é pouco conhecido do público. Trata-se de The Funk Brothers, banda retratada em Standing in The Shadows of Motown, assinado pelo diretor Paul Justman. Muitas imagens antigas são utilizadas para dar visibilidade para os artistas que fizeram parte do projeto. O filme viaja pelos 12 anos em que os músicos tocaram como grupo oficial da Motown e que estavam na base de discos estrelados por figuras como os cantores Stevie Wonder, Marvin Gaye e Diana Ross e os conjuntos The Temptations e The Supremes. Os relatos dos integrantes e de pessoas próximas tentam tirar a banda das sombras da jornada de sucesso da Motown para celebrar sua contribuição musical como uma máquina de hits entre os anos 1960 e 1970.
Stop Making Sense (1984)
Bastidores de apresentações musicais que ganharam notoriedade com o passar do tempo também encontram lugar na lista. E o potencial artístico de Stop Making Sense cresce quando uma espécie de explosão artística da banda Talking Heads é registrada. O então iniciante Jonathan Demme (1944-2017), que venceria o Oscar de melhor diretor, em 1992, por O Silêncio dos Inocentes, explora o que o quarteto tem de melhor em cima do palco, com algumas cenas internas complementando o material. O documentário é resultado da gravação de quatro shows que o grupo realizou em Los Angeles, em 1983. Com mistura de rock, punk e new wave, os artistas têm energias de sobra para apresentar alguns sucessos e faixas menos conhecidas, além de brincar com luzes e imagens durante toda a performance diferenciada que foge do que se espera de uma apresentação comum. O filme serve de base para um disco ao vivo da banda de mesmo nome, também lançado em 1984.
Super Size Me (2004)
A ideia do diretor Morgan Sputlock era expor os males que a comida industrializada poderia causar na vida das pessoas e colocou seu corpo como exemplo. Em Super Size Me, ele passou 30 dias diretos tendo como alimentos somente itens do cardápio do McDonald’s em três refeições ao longo de 24 horas. Os reflexos em seu organismo e as ramificações do tema vêm à tona no filme. O ponto de partida do cineasta é o crescimento da taxa de obesidade na população dos Estados Unidos. Entre análises de dados, gráficos e pesquisas, ele questiona a força da cultura dos fast foods e a forma como ela é um dos pontos centrais dessa realidade pouco saudável. As discussões também buscam possíveis soluções para que o país adote uma cultura com melhor alimentação no dia a dia. A parte informativa de um dos documentários mais populares das últimas décadas divide espaço com a rotina adotada por Sputlock e seu sofrimento físico e psicológico com as consequências de hambúrgueres, batatas fritas, refrigerantes e sorvetes em excesso.
Time (2020)
A realidade de Fox Rich é marcada por muitas superações. Negra, ela precisa lutar contra o preconceito, contra as dificuldades para criar os filhos sozinha e contra os obstáculos para que a justiça possa rever a prisão do marido. A jornada pessoal da protagonista de Time revela muita perseverança ao longo de diferentes fases da vida e a perspectiva batalhadora da norte-americana ganha força na visão de Garrett Bradley. O foco sobre Fox é o questionamento sobre a situação do companheiro, condenado a 60 anos em uma penitenciária por roubo realizado na década de 1990. Detalhes da trama puxam discussões sobre a prisão em massa de negros nos Estados Unidos. Sem o marido, a matriarca vê os seis filhos crescerem sem a figura paterna no dia a dia e precisa comandar o grupo em meio a diversas incertezas. Ela diz que o sucesso é a melhor vingança contra o sistema ao seu redor, montado para vê-los fracassar. O filme concorreu ao Oscar de melhor documentário na edição de 2021 do mais prestigiado prêmio do cinema internacional.
Val (2021)
Val Kilmer é um ator norte-americano que fez sucesso principalmente entre os anos 1980 e 1990, com passagens por filmes como Top Gun: Ases Indomáveis (1986), The Doors (1991) e Batman Eternamente (1995), por exemplo. Sua relação com as câmeras, sejam elas de cinema ou caseiras, criaram acervo que está reunido no documentário Val, que viaja pela vida pessoal e profissional do homenageado, além de apresentar sua visão de mundo após sobreviver a um câncer na garganta que afeta sua voz desde 2016. O material tem certo ar poético ao revelar o biografado, de 61 anos, além do status de estrela das telas. Os grandes momentos familiares e no trabalho são mostrados, com os pontos baixos tendo espaço relevante no filme e são eles que o deixam vulnerável como qualquer pessoa. A figura do antigo galã do cinema é quebrada de forma que o público possa criar um interesse mais genuíno por seus acertos e erros, além de descobrir que a família é peça fundamental em seus pensamentos no passado, no presente e no futuro.
Dicas de documentários brasileiros
Belo Monte: Anúncio de Uma Guerra (2012)
O diretor André D’Elia apresenta os impactos ambientais e sociais da construção da usina de Belo Monte, na cidade de Altamira, no Pará, em Belo Monte: Anúncio de Uma Guerra. Considerada a maior e mais cara hidrelétrica brasileira, ela teve sua montagem na região como centro de discussões que levam em conta a desestruturação do ecossistema e a vida da comunidade indígena dessa região da Floresta Amazônica. A usina foi idealizada na década de 1980 e sempre esteve envolvida em polêmicas. Debates sobre a necessidade real do complexo, a estranheza sobre dados, questões técnicas sobre o projeto e os desafios dos índios em tentar impedir as mudanças fazem parte do material montado ao longo de dois anos. As atividades da hidrelétrica começaram em 2016, após cinco temporadas de montagem.
Mussum: Um Filme do Cacildis (2019)
Um dos grandes humoristas brasileiros de todos os tempos tem sua história revelada em Mussum: Um Filme do Cacildis. Conhecido principalmente por seu trabalho e brincadeiras como integrante do grupo Os Trapalhões, Antônio Carlos Bernado Gomes (1941-1994) também foi sambista respeitado e sua popularidade junto ao público faz com que o filme seja bem-vindo entre espectadores de diferentes gerações, principalmente os mais velhos. A diretora Susanna Lira conta com a ajuda do ator Lázaro Ramos para narrar detalhes da jornada pessoal e profissional do artista carioca. Claro que entrevistas antigas com o biografado e a conversa com amigos e familiares ajudam a lembrar da figura pública marcante, mas parte do destaque da obra ajuda a destacar a figura longe das câmeras e das palhaçadas. Detalhe para a explicação de termos que ele imortalizou, como cacildis e forévis.
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O gênero de documentação audiovisual sobre histórias, momentos, casos e personalidades especiais também movimenta outros serviços de streaming. Algumas dessas produções estão reunidas na lista dos 10 melhores filmes de documentários na Netflix. Fonte: Thrillist, Digital Trends