A categoria é uma das mais importantes da premiação Hollywoodiana, embora não seja considerada uma das principais (Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro). O Oscar surgiu em 1929, mas a categoria feita para premiar o melhor documentário estreou apenas em 1941. Atualmente, ela se divide em duas: Melhor Curta-Documentário e Melhor Documentário. A indicação de “Democracia em Vertigem” foi uma surpresa boa para o cinema brasileiro, que depositava suas esperanças em “A Vida Invisível“, dirigido por Karim Aïnouz e com a participação de Fernanda Montenegro, a dama da dramaturgia nacional. Assim como outros filmes brasileiros nos últimos anos – incluindo “Bingo”, uma das melhores produções da década, e até se pensarmos na atuação de Fernanda em “Central do Brasil” – “A Vida Invisível” foi esnobada pela Academia. A indicação de Melhor Documentário é uma vitória para o país, que costuma ser menosprezado pelos integrantes do comitê da premiação de Hollywood. O longa brasileiro na disputa narra o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, apontando o ato como bode expiatório para o denominado golpe que visava colocar Michel Temer no poder, e em retaliação às atitudes de Dilma ao não negociar com a Câmara e com o Congresso. No contexto de golpe, o ato é visto como um forte soco na recente democracia brasileira, já que a Ditadura Militar acabou em 1985. Mas será que o documentário possui chances reais de levar a estatueta para casa?
O que faz um documentário ganhar o Oscar?
Alguns pontos principais são técnicos, estrutura narrativa e a maneira como é contada a história. Ainda assim, não existe uma fórmula: afinal, depende dos votos do comitê do Oscar para que o vencedor seja escolhido. Como qualquer filme da competição, é importante ressaltar que uma forte campanha em Hollywood é, muitas vezes, o fator definitivo para conseguir a estatueta, assim como pensar que o longa deve se adequar aos padrões do comitê ou ao conceito que eles possuem do que é um documentário.
As polêmicas envolvendo “Democracia em Vertigem”
Como estamos falando do filme, é impossível deixar de abordar as polêmicas entre os brasileiros que esquentam as redes sociais desde que foi lançado e muito mais agora, com o documentário nos holofotes do mundo do cinema.
O amor e o ódio ao PT
O ponto principal que gerou críticas ao filme é o fato de Petra Costa defender e enaltecer o ex-presidente Lula, mostrando seu impacto na classe trabalhadora e como o ex-presidente se tornou um ícone popular. A diretora aparece utilizando adesivos de Lula quando vota pela primeira vez, além de narrar a história do começo ao que ela chama de fim da democracia, quando ocorre o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, apontado como um golpe, para que Michel Temer chegasse ao poder. Em época de polarização política, é natural que os antipetistas e bolsonaristas critiquem ferozmente o filme sem nem tê-lo visto. Portanto, essa reação polarizada em relação ao documentário é “nada menos do que o esperado”, pois é assim que o Brasil se encontra desde as eleições de 2014. Como o Governo Bolsonaro se põe, principalmente, como antipetista, tratou logo de criticar e desmerecer o documentário de Petra Costa. Através da conta oficial da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, o governo criticou a diretora e o documentário:
O sumiço das armas
Uma das outras polêmicas do filme é o apagamento digital das armas que foram implementadas na cena de morte do jornalista Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar (mentor dos pais de Petra Costa na luta contra a Ditadura Militar) e de Ângelo Arroyo. Os dois eram dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e foram executados pela Ditadura no do dia 16 de dezembro de 1976. Conforme apontado pela Revista Piauí, a foto exibida no filme aparece sem um revólver e sem uma carabina. Segundo a revista, as armas aparecem uma fotografia que está anexada ao laudo de morte de Pomar, com a data de 27 de dezembro de 1976. Em resposta à Piauí, na mesma matéria, Petra justificou a ausência das armas: “Foi amplamente reconhecido que a polícia plantou armas ao redor dos corpos dos ativistas assassinados, como uma desculpa para seus assassinatos brutais.” Na mesma entrevista, a diretora também disse que a própria Comissão da Verdade apresentou que as armas foram plantadas após a morte de Pedro e que, por isso, decidiu remover as armas para homenagear o mentor dos pais.
As críticas de Bial
O apresentador Pedro Bial usou seu espaço em uma entrevista à Rádio Gaúcha para criticar ferozmente o documentário de Petra Costa. Ele disse que o filme é “insuportável” e que “vai contando as coisas num pé com bunda danado”, ainda dizendo que a narração de Petra é “miada, insuportável, onde ela fica choramingando o filme inteiro”. A ex-presidente Dilma rebateu o apresentador em seu Twitter, apontando-o como “misógino e sexista”:
Afinal, “Democracia em Vertigem” pode ganhar o Oscar?
Não é a primeira vez que o Brasil é representado nesta categoria. Na verdade, antes de “Democracia em Vertigem”, já foram indicados os longas “Lixo Extraordinário“, de Lucy Walker, em 2011, e o filme “O Sal da Terra“, de Juliano Ribeiro Salgado, em 2015. O tom pessoal do documentário, ao relacionar o público do cenário da política brasileira com o privado da vida de Petra Costa dá um toque especial ao longa, o que pode ser um grande ponto a seu favor. A direção de fotografia e as imagens exclusivas de Ricardo Stuckert também: o talento dele é um dos as aspectos técnicos que mais impressionam em “Democracia em Vertigem”. Stuckert acompanhou as campanhas eleitorais do PT, incluindo a de Fernando Haddad, realizada em 2018. Além de trabalhar com fotografia política, ele também é conhecido pelo seus retratos e imagens dos povos indígenas. Mesmo assim, é importante lembrar: estamos falando de um documentário brasileiro em meio a vários concorrentes que falam sobre guerra (que é um tema conhecidamente favorito dos votantes da Academia) e um longa produzido pelo casal Barack e Michelle Obama – ex-presidente e ex-primeira-dama dos Estados Unidos. É importante lembrar que a vitória do Oscar também é fundamentada na campanha feita para que o filme ganhe nos Estados Unidos, já que a premiação “não é um festival de cinema internacional, mas sim extremamente local” – citando o diretor Bong Joon-ho, de “Parasita”. Portanto, mesmo que “Democracia em Vertigem” possa se destacar por sua narrativa em primeira pessoa e imagens que reproduzem a história política das últimas duas décadas no país, o favorito para a categoria é “Indústria Americana”. Afinal, é só lembrarmos o foco do Oscar: Hollywood, a indústria estadunidense de cinema. O longa é a aposta da Revista Time, que argumenta que, “assim que os votantes verem o nome ‘Obama’, votarão em ‘Indústria Americana’.” E acredito que não devemos ter dúvidas quanto a isso. O New York Times também aposta nesse filme. Agora, é só esperar o dia 9 de fevereiro para descobrir quem será o grande vencedor. Para quem você está torcendo no Oscar 2020?