Normalmente, sabemos apenas nosso signo solar – ou só “signo”. Com essa informação, a experiência mais comum com a astrologia acaba sendo checar, diariamente, o horóscopo nos jornais. No entanto, eles não são muito específicos. Afinal, são escritos para todas as pessoas de maneira generalizada e superficial. Na astrologia ocidental, temos um modo para descrever toda nossa personalidade. Para aprofundar o conhecimento no assunto e entender mais sobre signos, é essencial fazer um mapa astral.
O que é um mapa astral?
De acordo com a astróloga Chani Nicholas, em entrevista para o Explicando, da Netflix, o mapa astral é a representação gráfica do céu no exato momento de seu nascimento. Para montar ele, são necessários alguns cálculos baseados na data, hora e local que você nasceu. Os dados têm de ser precisos porque alguns minutos podem alterar significativamente a configuração geral do mapa. O mapa astral é dividido em 12 casas, que incluem a posição dos planetas – o que determina como será cada área da sua vida. Quando for analisar o mapa astral, o signo solar é o mais importante. As Casas Astrológicas são divisões variáveis do mapa que representam nossas áreas de experiência na vida. Tecnicamente, são linhas imaginárias que partem da Terra e cortam o céu em doze faixas e indicam as características de cada pessoa. Mas, antes de analisar o motivo pelo qual gostamos tanto da astrologia hoje, vamos por partes.
Como surgiu a astrologia?
Ao observar o céu, nossos ancestrais ficaram fascinados pelos astros que brilhavam toda noite. Perceberam que os movimentos eram previsíveis e causavam efeitos em estações do ano, marés e colheitas, por exemplo. Fazia sentido pensar que esses astros também influenciassem aspectos das nossas vidas, como a personalidade e o modo como agimos em determinadas situações. A ideia de 12 signos do zodíaco remete há mais de 2000 anos, à antiga Babilônia. Eles notaram que havia cerca de 12 luas novas ao longo de um ano, então dividiram a trajetória do sol em 12, cada parte marcada por uma constelação. Mapear símbolos nas estrelas, como um touro ou um escorpião, os ajudava a manter o registro ao longo dos anos. Foi assim que criaram o signo solar: a constelação em que o Sol estava posicionado no momento em que você nasceu. Na busca pelo surgimento da astrologia, não podemos deixar Cláudio Ptolomeu de lado. No Egito, durante o século 2 depois de Cristo, ele escreveu um dos livros mais importantes sobre astronomia e foi o primeiro a mapear com precisão a velocidade e rotação dos planetas ao redor da Terra. O feito de Ptolomeu ganhou popularidade pelo ocidente. A ideia só não ficou popular na China, onde eles já tinham seu próprio zodíaco feito há milhares de anos baseado no ano de nascimento. No século 16, a realeza europeia costumava contar com seus próprios astrólogos para informá-los sobre os astros e a posição das estrelas no céu, como é o caso da Rainha Elizabeth I, que tinha seu próprio astrólogo, John Dee. Nessa época, duas ideias começaram a radicalizar o mundo e o papel da astrologia nele. Durante toda a história, nós presumimos ser o centro do universo, como Ptolomeu expressou na teoria em que a Terra seria o centro do sistema em que vivemos. Até que cientistas como Galileu Galilei ajudou a estabelecer que, na verdade, orbitamos o sol; ele que é o centro do nosso sistema solar. Já no século 17 houve descobertas cientificas como a gravidade, o espectro da luz e o desenvolvimento de novos telescópios que conseguem alcançar novas luas que a humanidade nem sabia que existiam até então. Com esse avanço, começou a ser estabelecido o conceito de verdade e não verdade; se não fosse possível comprovar pela ciência, não era verdade. Com isso, astrologia e astronomia foram separadas, mesmo que tivessem sido estudadas juntas por milhares de anos antes do século 17. Ela ficou sem ser mencionada por anos e anos, até o surgimento de colunas de astrologia.
O que é a astrologia como conhecemos hoje?
Em 1930, um jornal londrino publicou texto do astrólogo R. H. Naylor para celebrar o nascimento da princesa Margareth. Com base nos astros, Naylor “previu” que, quando Margareth fizesse 7 anos, eventos muito importantes aconteceriam à família real. E daí, pouco antes de Margareth fazer 7 anos, seu tio abdicou do trono para seu pai. Isso fez com que sua irmã mais velha, Elizabeth, fosse a próxima na linha de sucessão ao trono. Esse acerto levou Naylor a ganhar uma coluna no jornal. Só que, em vez de escrever sobre a realeza, ele passou a escrever horóscopo para todas as pessoas do reino, baseando-se em seus signos solares. A moda pegou e outras publicações passaram a veicular diariamente uma coluna sobre os signos e as previsões para cada um. Nesse período, também surgiu outra nova tendência que fez a astrologia se popularizar: a psicanálise. Um dos criadores de alguns conceitos do estudo da psique, Carl Jung, popularizou a ideia de tipos diferentes de personalidades e inspirou vários testes que aumentaram o autoconhecimento das pessoas. Até que, no finzinho dos anos 60, entramos numa era que popularizou ainda mais a astrologia. Nas músicas ouvíamos diversas menções a signos, como em No Matter What Sign You Are (“Não importa de que signo você é”, em tradução livre), de Diana Ross and The Supremes. Mas ninguém popularizou a astrologia nessa época do mesmo jeito de Linda Goodman, que publicou seu livro Signos Solares: Como realmente conhecer seu marido, esposa, amante, filho, chefe, empregado ou você mesmo através da astrologia. O livro de Linda Goodman conquistou o mérito de ser o primeiro sobre astrologia a ficar entre os mais vendidos do New York Times. No total, a publicação vendeu mais de 30 milhões de cópias e ganhou tradução para 15 línguas diferentes. Goodman prometia ajudar a reconhecer e a identificar os sonhos, esperanças e verdadeiras personalidades de alguém baseando-se somente no signo solar. Ela dizia que os signos literalmente poderia mudar a vida das pessoas. Nos Estados Unidos, durante os anos 80, existiam até linhas telefônicas diretas para astrólogos que estavam dispostos a dar dicas e conselhos.
Mas, afinal, por que gostamos de astrologia?
Muitos cientistas famosos criticam a astrologia, como Carl Sagan. Apesar disso, muitas pessoas são fãs dessa teoria que promete revelar tanto a nosso respeito. Uma tentativa de responder a essa questão da razão pela qual gostamos de astrologia pode ser vista durante uma das maiores conferências de astrologia do mundo, exibida pela série Explicando, a astróloga Nadiya Shah disse que talvez a astrologia não se enquadre no conceito moderno de ciência, mas não significa que não possa acrescentar muito à vida das pessoas. A ciência chegou a comprovar que pessoas que acreditam em astrologia conseguem melhorar sua confiança baseada em seu horoscopo. Dessa maneira, observamos um efeito placebo; ou seja, algo não precisa ser real, desde que seu efeito seja real. Stuart Vyse, professor de psicologia em várias universidades americanas e autor de importantes ensaios sobre crenças, acredita que o motivo pelo qual as pessoas se identificam tanto com os horóscopos é porque elas realmente querem se identificar. Esse efeito, chamado Barnum, sugere que todos conseguem se ver em qualquer horóscopo apresentado. As descrições nos horóscopos tendem a ser muito ambíguas e meio que sempre positivas, afinal. Por causa disso, muitos astrólogos passaram a oferecer horóscopos mais detalhados e maiores do que o parágrafo apresentado nas colunas nos jornais. Com isso, a astrologia se popularizou novamente com a onda dessas publicações na internet. O astrólogo Sam Reynolds também opina, na série, sobre a o motivo pelo qual nós somos atraídos pela astrologia. Ele acredita que a astrologia é um canal pelo qual buscamos nos aproximar com o divino, seja ele Deus, deuses variados ou qualquer outro entendimento que as pessoas tenham de divindade. Gostou? Você pode assistir ao episódio de Explicando, da Netflix, em que esse texto foi baseado, clicando aqui (é necessário assinar o serviço de streaming).