Considerado um termo perturbador e desconfortável para muitos, o pronatalismo é um movimento silencioso, mas muito apoiado por bilionários e elites. Elon Musk, um dos homens mais ricos do mundo, pai de 10 filhos, é o pronatalista de maior destaque atualmente, ainda que não de forma oficial. Essa ligação, no entanto, aumentou a curiosidade das pessoas acerca do assunto.
Como o pronatalismo surgiu?
O pronatalismo tem origem na França de Luís XIV. O rei da França cedia privilégios a homens que tivessem mais de 10 filhos legítimos, pois acreditava que a ordem patriarcal era um fundamento social. Conforme os relatórios produzidos pelas Nações Unidas, atualmente, mais de um quarto dos países contam com alguma política de pronatalismo em suas leis. Desde benefícios para tratamentos de infertilidade, até incentivos monetários para as pessoas que desejam ter mais filhos. Ao mesmo tempo, algumas empresas de reprodução assistida também surgem no mercado, atraindo a atenção e dinheiro dos investidores e fomentando a indústria de fertilidade que, segundo a Research and Markets, pode alcançar 78 bilhões de dólares em 2025. Essa tendência tem aumentado de forma discreta nos grupos de tecnologia, o que faz com que o movimento seja cada vez mais respeitado entre as pessoas mais poderosas do mundo — como Elon Musk. Afinal, a queda de natalidade em certos países, como os Estados Unidos da América e algumas regiões da Europa, levará a extinção de culturas, colapsos de economias e da civilização. Ao menos, essa é a teoria que o dono da Tesla apoia no Twitter, rede social que comprou em outubro deste ano. Ele ainda recebe o apoio de outras pessoas importantes do meio, como Ross Douthat, que defendeu o pronatalismo em sua coluna do The New York Times. O humorista Joe Rogan, onde, ao lado do bilionário Marc Andreesen, também comentou sobre o tema no “The Joe Rogan Experience”, programa de podcast disponível na internet. Então, eles se voltam para algo mais palpável e acessível no momento: seus descendentes. Já que, segundo a linha de pensamento dos poderosos, se eles transmitirem seus DNAs superiores para as próximas gerações, o caminho definitivo para continuarem influentes estará completo.
A problemática que o pronatalismo cria
A regra dentro do pronatalismo é clara: reprodução para evitar o declínio populacional. Mas quando deixamos de lado a qualidade de vida e nos concentramos em uma classe de pessoas em específico, o que pode acontecer? Por causa das grandes manifestações de Elon Musk nas redes sociais sobre o problema que algumas regiões podem enfrentar no futuro, por conta da baixa taxa de natalidade, pesquisas sobre “Colapso da População” tiveram um grande aumento no Google. Para aumentar suas populações, alguns governos passam por cima de direitos. A qualidade de vida deixa de ser um fator importante. Crianças passam a ser objetos, e não mais seres pensantes e sensíveis, com o direito de escolha. O paradoxo demográfico e o renascimento do pronatalismo descartam a humanidade, exaltando a reprodução em massa. Não de todos, mas das pessoas consideradas “corretas”. É uma grande conspiração racista da “teoria da grande substituição”. Por exemplo, algumas empresas já conseguem oferecer para os pais o teste PGT-P (pré-implantacional para doenças poligênicas), experimento genético controverso que permite aos progenitores, que estão fazendo fertilização assistida em laboratório, selecionar os “melhores” embriões disponíveis. Isso baseado em diversos fatores: dentre eles, o risco de doenças hereditárias. Toda essa obsessão com pesquisas biotécnicas para que apenas os melhores genes sejam passados adiante, além das campanhas cada vez mais intensas sobre pronatalismo, principalmente entre os ricos, pode levar a nossa sociedade para uma nova onda do Eugenismo. Esse movimento cresceu durante a Segunda Guerra Mundial e visava selecionar algumas pessoas em específico para manter as melhores características nas gerações futuras.
Como o Pronatalismo e o Eugenismo se relacionam?
O conceito de Eugenia foi criado por Francis Galton (1822-1911). A etimologia da palavra vem do grego, que significa “Bem Nascido”, misturando os termos “Eu”, que significa “bom”, e “Genia”, que está relacionado ao “nascimento”. Como já dito, essa teoria defende a seleção de membros ideais da sociedade, incentivando-os a se reproduzirem entre si para aperfeiçoar os genes dos filhos. A ideia continua com essa melhoria a cada nova geração. Esse raciocínio lógico também foi baseado nos pensamentos de Charles Darwin, Jean-Baptiste de Lamarck e outros pesquisadores do conceito da “Seleção Natural”. Contudo, apesar da roupagem científica que esse termo tem, o movimento foi mais voltado para o lado social, que visava, na época, impedir a reprodução dos indesejáveis da sociedade – como viciados em drogas, prostitutas ou até mesmo pessoas com doenças hereditárias. Não só, essa “proibição” se estendeu também a populações marginalizadas, como minorias étnicas e afins. O discurso de melhoria da espécie humana, desde sua criação, infelizmente, trouxe diversas consequências para a sociedade ao longo da história. Nos Estados Unidos, a teoria serviu para a criação de leis antimiscigenação, que proibiam o casamento inter-racial e motivavam que mulheres negras, latinas ou indígenas fossem esterilizadas para que não se reproduzissem. Essas políticas vigoraram no país norte-americano nos anos 70. Todavia, o maior exemplo do uso dessa lógica eugenista pôde ser visto durante a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha, liderada pelo movimento nazista, foi pautada pelos conceitos criados por Francis Galton para exterminar a população judia e os outros membros indesejáveis, que não deveriam ter lugar na raça ariana. O movimento também teve força no Brasil, durante a década de 1930. A teoria casou com o pensamento racista de algumas esferas da população nacional e, com apoio de médicos e elite, houve a tentativa de aperfeiçoar o povo brasileiro, influenciando em diversas políticas do país naquela época: desde isolar doentes mentais até a criação de leis anti-imigração de povos não-europeus. Seguindo a lógica dos bilionários que frequentam o Vale do Silício, os incentivos pronatalismo que eles defendem não se diferenciam muito do Eugenismo. Como já foi citado no texto, eles acreditam que a responsabilidade deles é combater o colapso social e econômico ocasionado pelas baixas taxas de natalidade em países desenvolvidos, mas nem todos os descendentes estão aptos a enfrentar esses problemas. Eles precisam ser geneticamente superiores aos demais, pois apenas assim conseguirão combater as ameaças do futuro. Simone e Malcolm Collins, por exemplo, são outros dois grandes milionários defensores do pronatalismo, pois acreditam que o movimento precisa ser visto como moderno e acolhedor, especialmente para certas pessoas. Responsáveis pelo site Pronatalist, o casal ainda cita que, para fazer um futuro melhor, é necessário escolher entre aumentar os resultados educacionais entre a população 10% mais pobre do mundo ou as 0,1% que estão no topo. Para eles, a segunda opção é mais viável. Elon Musk parece gostar dessa ideia também, já que dentre seus diversos projetos criados está a Ad Astra, uma escola que criou primeiramente para seus filhos e os de alguns funcionários da SpaceX. A escola quebrava o método tradicional de ensino, deixando de lado algumas ciências humanas para focar na prática de robótica, ciências exatas e computacionais. Agora, suas ideias de ensino parecem continuar em expansão, já que também existe o projeto Astra Nova, ensino online que foca aplicar o método de ensino pensado por Elon Musk para crianças de 10 a 14 anos. Segundo o site oficial, a escola “se trata de um projeto experimental, dessa forma, espere ideias novas todos os anos”. Eles desejam ter o controle da Evolução Humana, principalmente com as evoluções tecnológicas trazidas. Se os cientistas de empresas como a Conception tiverem sucesso na criação dos embriões a partir de células-tronco, combinado com a triagem genética aprimorada, os pais poderiam escolher o bebê “ideal” entre milhares de opções possíveis.
Considerações finais
Dessa forma, a eugenia e o pronatalismo planejado pelos membros do Vale do Silício se tornam sinônimo de teorias racistas e discriminatórias, controladas por determinados grupos sociais que, na visão deles, desejam exterminar as pessoas consideradas “inferiores”. Essa abordagem já foi utilizada em outros momentos do passado, porém nunca trouxe consequências positivas para a sociedade e ainda parece seguir o mesmo caminho. Tais ideais, defendidos por Elon Musk, promovem a divisão da Raça Humana em espécies que podem ser classificadas, sendo que apenas os melhores são escolhidos para ocuparem as posições de poder do mundo. Isso afeta os Direitos Humanos, influenciando direitos de Liberdade e Igualdade. A Biologia, por exemplo, também não aceita mais que os humanos sejam classificados em categorias diferentes, como acontece com outras espécies, já que nossas características de comportamento e cultura estão mais ligadas ao aprendizado e contexto em que estamos inseridos ao longo da vida, do que herança genética. Além disso, embora as falas de Elon Musk deem a entender que a população parou de crescer, fato é que, por ano, cerca de 80 milhões de pessoas novas passam a popular o mundo e, segundo as projeções da ONU, há poucas chances desses números serem estabilizados até o final desse século. Assim, ainda continuaremos a consumir muito mais do que nosso planeta consegue produzir. Veja Mais: Elon Musk anuncia 3 novos selos de verificação para o Twitter FONTES: Business Insider, UOL, Population Matters