A origem da folia momesca
O feriado de carnaval é comemorado 47 dias antes da Páscoa, sempre em uma terça-feira. O nome vem do latim carnis levale, que pode ser traduzido como “adeus à carne”. Acredita-se que o seu significado pode estar diretamente relacionado com o jejum que é feito durante a quaresma, período que tem início na quarta-feira logo a seguir à terça de carnaval. Segundo historiadores, duas festas realizadas na Antiga Babilônia podem ter originado o carnaval. A primeira delas é as Saceias, festejo marcado pela transformação de um prisioneiro em rei, usufruindo dos benefícios dessa posição antes de ser enforcado. O outro rito ocorria no equinócio da primavera, como comemoração ao ano novo. A festa era utilizada para demonstrar submissão a Marduk, um deus mesopotâmico. No templo de Marduk, o rei era surrado e humilhado em frente à estátua do deus, a fim de exaltar a divindade. Após a realização da cerimônia, o rei assumia novamente o trono. No Brasil, a festa estreou em 1723, com a brincadeira de jogar água entre os foliões. Os festejos foram incorporados à cultura brasileira pelos portugueses vindos das regiões dos Açores, Ilha da Madeira e Cabo Verde. Por aqui, os primeiros bailes de carnaval surgiram a partir de 1840 e em 1855 organizaram-se os primeiros clubes carnavalescos, grupos parecidos com as escolas de samba que conhecemos hoje. A primeira escola de samba criada veio da cidade do Rio de Janeiro. Chamada de Deixa Falar, a agremiação surgiu há quase um século, lá em 1928. Grandes compositores brasileiros também fizeram parte da cultura carnavalesca no Brasil, ao criarem as famosas marchinhas de carnaval, tipo de música que se popularizou entre as décadas de 20 e 60, com as vozes de Chiquinha Gonzaga, com a música “Abre, Alas“, e Dalva de Oliveira, cantando “Bandeira Branca“. Com o passar do tempo, o frevo, maracatu, cordões, ranchos, corsos e outras características também foram incorporados à manifestação cultural. Surgido na Antiguidade, o Carnaval foi passando por diversas transformações pelos lugares onde chegou até se tornar o que nós conhecemos hoje.
Impacto na economia
Sendo o principal festejo nacional, o carnaval atrai milhões de pessoas para as ruas das cidades brasileiras, inclusive turistas que desembarcam no país para curtir o evento, que em algumas cidades chegam a durar quase uma semana, a exemplo de Salvador. O turismo do feriado e a festa em si costuma movimentar cerca de R$ 8 bilhões e gerar milhares de empregos temporários. O turismo é, inclusive, o setor mais impactado durante a folia. Em 2020, por exemplo, dos 15 milhões de participantes do carnaval de rua de SP, 26,4% eram turistas. Os dados, divulgados pela Secretaria Especial de Comunicação da cidade, ainda mostram que o gasto médio durante a festa foi de R$ 648,19, incluindo alimentação, transporte, compras, lazer e hospedagem. Além do turismo, outras indústrias também dependem diretamente do carnaval, é o caso das indústrias de instrumentos e de bebidas. No Brasil, os dados divulgados mostram que a festa cresce a cada ano desde 2010. O crescimento expressivo acontece desde 2017, ano em que a folia momesca movimentou R$ 7,73 bilhões na economia do país. Em 2019, as festas geraram um impacto de R$ 7,91 bilhões. Já 2020, último ano em que ocorreu os festejos no país, foi de recorde segundo o Ministério do Turismo. O município de São Paulo, por exemplo, registrou uma movimentação econômica de cerca de R$ 3 bilhões — um crescimento econômico de 31% do carnaval de rua em relação a 2019. O público total foi de 15 milhões, segundo a prefeitura, ante 14 milhões em 2019. Já a cidade de Recife recebeu dois milhões de foliões — 400 mil a mais do que o registrado no anterior. Olinda teve 3,6 milhões de pessoas, com um aumento de 200 mil em comparação com 2019. Em Salvador, terra do trio elétrico e do axé, cerca de 16,5 milhões curtiram a folia. Deste total, 86 mil eram turistas estrangeiros. A receita turística do período é estimada em R$ 2,5 bilhões, segundo o governo baiano. Na cidade maravilhosa, 10 milhões de pessoas movimentaram R$ 4 bilhões durante o carnaval de 2020, 8% a mais que em 2019. Segundo a Riotur, a cidade recebeu 2,1 milhões de turistas, sendo 77% brasileiros e 23% estrangeiros. No carnaval de 2019, foram 1,6 milhão de turistas.
E o carnaval em 2022?
A realização da festa em 2022 continua sendo uma incerteza em diversas cidades do país. Enquanto autoridades de alguns estados brasileiros já confirmaram a retomada do carnaval no ano que vem, outros lugares já afirmaram que os festejos estão cancelados a fim de evitar um novo surto de COVID-19. Confira como está a situação nas principais cidades do país.
São Paulo
No estado de São Paulo, mais de 70 cidades anunciaram que não terão carnaval no ano que vem. Entre elas estão Botucatu, Sorocaba, Mogi das Cruzes, Poá e Suzano. Embora as taxas de ocupação estejam baixas e os índices da doença registrem melhoras no comparativo com os piores meses da pandemia, as prefeituras temem uma piora no quadro com a realização da festa. Confira a lista de cidades que não terão o evento em 2022:
AltinópolisAmparoBarrinhaBorboremaBotucatuBrodowskiCabreúvaCacondeCajuruCampo Limpo PaulistaCássia dos CoqueirosCunhaDobradaDumontFrancaGuaíraGuaribaGuataparáIacangaIbitingaItápolisItatibaItupevaJaboticabalJacareíJarinuJundiaíLinsLucéliaLuís AntônioMaríliaMairinqueMogi das CruzesMonte AltoMonteiro LobatoNatividade da SerraNazaré PaulistaParaibunaPirassunungaPitangueirasPoáPotirendabaPradópolisPresidente PrudenteRifainaRoseiraSalesópolisSales OliveiraSanta Cruz da EsperançaSanta ErnestinaSanta IsabelSanta Rosa de ViterboSanto Antônio da AlegriaSanto Antônio do PinhalSão Bento do SapucaíSão Caetano do SulSão Joaquim da BarraSão Luiz do ParaitingaSão SimãoSorocabaSuzanoTaquaritingaTaubatéUbatubaVárzea PaulistaEspírito Santo do TurvoItapetininga (o desfile de rua foi cancelado, mas outros eventos estão permitidos — inclusive apresentação das escolas de samba, só não na rua)LouveiraMonte Alegre do SulValinhosVinhedo
Na capital, o Carnaval segue marcado e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) planeja montar um comitê com outras capitais do Brasil, como Salvador, Belo Horizonte, Recife e Rio de Janeiro, para coordenar medidas e procedimentos para a festa de 2022.
Rio de Janeiro
No estado do Rio de Janeiro, nenhuma cidade oficializou a não realização do evento em 2022. Por um outro lado, os festejos podem não ocorrer, já que o carnaval do ano que vem ainda depende da liberação das autoridades de saúde do estado. Na capital carioca, ao menos 506 blocos já se inscreveram para realizar cerca de 620 desfiles durante os dias de festa. Entre os que pediram autorização estão blocos tradicionais como o Cordão do Bola Preta, Bafo da Onça e Banda de Ipanema. Já entre os megablocos que pediram autorização estão o Bloco da Anitta, Bloco da Preta, o Fervo da Lud, da cantora Ludmilla, e o Monobloco. Apesar da incerteza, o carnaval deve acontecer na capital carioca, já que o município se aproxima dos índices pré-estabelecidos pelas autoridades para a realização da festa. Segundo o secretário municipal de saúde, Daniel Soranz, até fevereiro do ano que vem ao menos 70% dos adultos já estarão vacinados com a terceira dose. “Nesse momento não há nenhuma evidência científica que indica que o vírus vai superar a barreira vacinal”, afirmou.
Bahia
Entre os principais carnavais do estado da Bahia, o único confirmado até o momento é o de Porto Seguro. A festa, no entanto, contará com medidas que visam descentralizá-la. Entre as medidas anunciadas pela prefeitura está a criação de um segundo circuito para a festa. O objetivo é reduzir o número de pessoas na Passarela do Álcool, onde desfilam os blocos mais tradicionais da cidade. O novo circuito, localizado na orla da cidade, terá 3,2 quilômetros de extensão. Apesar disso, a festa ainda depende do aval do governo do Estado da Bahia para acontecer. Atualmente, todo e qualquer tipo de evento realizado no estado deve ficar restrito a um público máximo de 3 mil pessoas. Em entrevista a emissoras locais, o governador Rui Costa disse que ainda não há uma definição sobre a festa e criticou a pressão sofrida por empresários que querem a realização do carnaval no ano que vem. “Eu também quero realizar o Carnaval na Bahia, mas só vou fazer se eu não tiver que encarar depois milhares de pessoas morrendo de Covid. Eu não quero botar a cabeça no meu travesseiro e imaginar que parte daquelas mortes foi por conta da minha decisão de permitir o Carnaval”, afirmou Costa. Na capital baiana, ainda não há uma definição sobre a realização da folia em 2022. O prefeito Bruno Reis afirmou, em nota divulgada no início desta semana, que a resposta deve chegar até o final do mês de novembro. Entre as principais cidades da Bahia, nenhuma cancelou oficialmente o carnaval em 2022.
Pernambuco
Outros lugares nos quais a realização do carnaval segue incerta em 2022 são nas cidades de Recife e Olinda. Na capital pernambucana, a prefeitura já informou que a decisão sobre a folia ficará a cargo das autoridades sanitárias. “O Recife entende que apenas com a superação da pandemia será possível assegurar o evento, com as características deste ciclo cultural da capital pernambucana”, disse a gestão municipal. A decisão foi parecida com a tomada pela Prefeitura de Olinda, cidade localizada na região metropolitana do Recife. Em nota, a gestão municipal afirmou que seguirá recomendações do Ministério da Saúde e da Secretária de Saúde de Pernambuco sobre promover ou não festas carnavalescas. Na última quinta-feira (18), o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, disse que “não há segurança sanitária” no momento para a promoção de grandes eventos. “Ainda é cedo para tomarmos decisões acerca desses eventos, especialmente do Carnaval, que se realiza de forma concomitante com o período de sazonalidade de ocorrência de doenças respiratórias”, afirmou Longo. Apesar das declarações, tanto Recife quanto Olinda já iniciaram movimentos de preparo para o carnaval no ano que vem. Na capital, por exemplo, desde de setembro um comitê da gestão articula a estrutura e montagem da programação caso a festa seja liberada. Em Olinda, os trâmites oficiais estão sendo encaminhados normalmente, segundo a administração da cidade.
Minas Gerais
O carnaval de 2022 foi oficialmente cancelado em ao menos oito municípios mineiros. A lista, que cresce a cada dia, tem Borda da Mata, Brazópolis, Cambuí, Córrego do Bom Jesus, Gonçalves, Paraisópolis, Poços de Caldas e Sapucaí Mirim. Em notas divulgadas à imprensa, as prefeituras atribuíram os cancelamentos ao momento delicado vivido com a pandemia e informaram que o intuito é preservar a saúde da população, evitando aglomerações. Alguns municípios, como Paraisópolis, ainda cancelaram festas públicas de réveillon e do aniversário da cidade. Já na capital Belo Horizonte, a folia ainda é incerta. Na segunda-feira (22), o Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da capital recomendou que a prefeitura não patrocine o carnaval nem o Ano Novo, além de desaconselhar a população a participar de eventos com grandes aglomerações. “Por entender que, no momento, tais ações possam vir a ter consequências negativas importantes para a saúde do povo de Belo Horizonte”. No texto, ainda são apontados alguns motivos para a recomendação de não realização dos festejos. Entre eles, a diminuição da imunidade obtida pela vacinação depois de passados seis meses da aplicação da segunda dose e o fato de grande parte da população ainda estar sem a dose de reforço. As autoridades mineiras ainda não conseguem prever quando haverá uma decisão final sobre o assunto. Apesar da incerteza, ao menos 30% das vagas na hotelaria de Belo Horizonte e Região Metropolitana já estão reservadas para o período carnavalesco.
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Festival MITA é confirmado no Brasil e terá shows de Gorillaz, The Kooks e outros. Fontes: Mundo Educação, Brasil Escola, G1.