A reivindicação, levantada por profissionais de tecnologia, é válida no Brasil porque os termos em inglês são usados por aqui também. O movimento aponta que “master” e “slave” têm conotação racista e vêm de um histórico escravocrata. Eles também defendem a alteração dos termos “whitelist” (“lista branca”, em tradução livre) e “blacklist” (“lista negra”, em tradução livre), que são usados em programação para permitir ou negar acesso a algum serviço, pelos mesmos motivos.
‘Master’ e ‘slave’: o que significam?
Em informática, os termos são usados para programar os discos rígidos de computadores e notebooks que possuem mais de um HD. O HD “master” é o principal, onde o sistema operacional e os outros softwares estão instalados. Ou seja, é o disco rígido que “comanda” o PC. Já o “slave” é o secundário, geralmente utilizado para backups e para armazenar arquivos como fotos, vídeos e documentos do usuário. Se os dispositivos não forem configurados desta forma, o computador pode não reconhecê-los, o que afetaria seu funcionamento. Já em fotografia, os termos são usados para se referir aos equipamentos de flash. O sentido é parecido com os HDs, em informática. Isso porque o flash “master” é o principal, enquanto o “slave” é o secundário. Eles são usados em situações que o fotógrafo utiliza mais de um flash, de maneira simultânea, na hora de tirar uma foto. Por meio dessa configuração, o flash “slave” entende que deve disparar quando captar a luz disparada pelo flash “master“, para complementá-la. Os equipamentos possuem até botões com esses termos, que ativam essa configuração.
Porque os termos precisam ser alterados
Os profissionais de tecnologia que defendem essa reivindicação acreditam que a alteração desses termos é uma forma de combater o racismo. Para Leah Culver, co-fundadora do aplicativo de podcasts Breaker, “as palavras importam”. Culver disse, num tweet, que se recusa a utilizar os termos “master“, “slave“, “whitelist” e “blacklist” da terminologia informática. Quase 20 mil pessoas concordaram com a reivindicação antirracista. A fotógrafa Theresa Bear é uma das profissionais que defende a alteração dos termos para controlar os equipamentos de flash. “Já imaginou estar no estúdio com uma pessoa negra e o fotógrafo pedir para o assistente colocar [o flash] no modo ‘slave‘?”, questiona Bear. Os profissionais não defendem que alterar essa terminologia vai resolver por completo a questão do racismo. Mas eles acreditam que o esforço em alterar os termos demonstra como o racismo está intrínseco em áreas de uma maneira que a maioria das pessoas não-negras, a princípio, não percebem. No Twitter, Mike Bartlett, vice-presidente da empresa de documentação Slite, citou um pensamento do anticolonialista e especialista em ética política Mahatma Gandhi durante uma discussão sobre essa pauta antirracista. Ele disse: “Suas crenças se tornam seus pensamentos, seus pensamentos se tornam suas palavras, suas palavras se tornam suas ações, suas ações se tornam seus hábitos, seus hábitos se tornam seus valores, seus valores se tornam seu destino”. Em contrapartida, alguns linguistas questionam a efetividade da alteração de terminologias. Segundo um artigo do psicólogo e linguista Steven Pinker, da Universidade de Harvard, publicado no jornal The New York Times, o que geralmente acontece é uma “esteira de eufemismos” que mudam a linguagem, mas, perpetua o significado da bagagem por trás da terminologia.
Saga da mudança antirracista
Essa reivindicação sobre alterar os termos “master” e “slave” ganhou força no movimento antirracista “Black Lives Matter“, que nas últimas duas semanas atingiu proporções gigantescas, motivadas pela morte do ex-segurança negro George Floyd, em Mineápolis, no Minnesota (EUA). Mas a reivindicação em si começou em Los Angeles, em 2003. Em 2018, desenvolvedores que trabalhavam com a linguagem de programação Python deixaram de usar os termos “master” e “slave“. Quatro anos antes, a equipe desenvolvedora por trás do software Drupal substituíram os termos por “primário” e “réplica”. O desenvolvedor John Wilander, da Apple, disse num tweet que substituiu os termos “whitelist” e “blacklist” por “allow list” (“lista de permissão”, em tradução livre) e “block list/deny list” (“lista de bloqueio/lista de negação”, em tradução livre). Já o desenvolvedor Gabriel Csapo, do LinkedIn, disse que encaminhou pedidos para alterar a terminologia na empresa. Segundo Csapo, os termos “excluded list” (“lista de excluídos”, em tradução livre) e “allowed list” (“lista de permitidos”, em tradução livre) são melhores do que os utilizados atualmente. Recentemente, o CEO do LinkedIn pediu desculpas pelos comentários racistas publicados, de maneira anônima, por funcionários da empresa. O caso aconteceu durante um evento sobre diversidade promovido pela própria empresa. Fontes: CNET e PetaPixel