O primeiro jogo do estúdio foi anunciado inesperadamente durante o Xbox & Bethesda Games Showcase 2022, com day-one no Xbox Game Pass para o dia 19 de julho. Ali, foram revelados alguns trechos da história e a possibilidade de ser jogado no modo cooperativo com até oito jogadores, algo que pudesse ser compartilhado entre amigos. Assim, o hype foi instaurado! Particularmente, fiquei bastante interessada por conta do estilo de arte, mas foi só depois de finalizar Detroit: Become Human na última semana, que a vontade de viver uma nova narrativa – repleta de escolhas, finais alternativos e profundos arrependimentos – foi verdadeiramente despertada. Sinto que foi o timing ideal para inevitáveis comparações, mas As Dusk Falls atingiu o patamar que apenas obras únicas alcançam. Confira como ele faz isso no nosso review completo!
Sobre escolhas, riscos e colisões
A produção é uma aventura baseada em escolhas difíceis que envolvem família, resiliência e sacrifício, impactando dois grupos na pequena Two Rock, cidade do Arizona. Nossa jornada começa em 1998 e, de acordo com o que decidimos para cada personagem controlado, encaramos as consequências nas vidas das pessoas. Como define a criadora, Caroline Marchal, é uma história para todos – jogadores e não jogadores – que gostam narrativas maduras e profundas. O primeiro grupo é uma família de quatro pessoas que está numa viagem de mudança e param no hotel Desert Dream por conta de uma falha no carro. Suas vidas são interrompidas pelo segundo grupo, três irmãos que acabaram de cometer um assalto à casa do xerife e estão procurando um lugar para fugir da polícia. Os acontecimentos escalam rapidamente, sem muito tempo para distrações. Pelo contrário, em vários momentos, o jogo vai cobrar sua atenção. Quando digo que o jogo cativa ao arriscar, me refiro tanto ao enredo, quanto às escolhas para jogabilidade e estilo de arte, fortemente inspirado em animações stop-motion. Logo, é fácil dizer que não vai agradar uma grande parcela de jogadores. Entretanto, ao mesmo tempo que é um ponto fora da curva, ele também aproveita o consumo compulsivo por séries ao tomar a direção episódica e ter influências de grandes nomes da TV, como Breaking Bad. O gameplay leva cerca de seis horas, que estão divididas em dois livros ao longo de três décadas: Colisão e Expansão. Nestes livros, estão seis capítulos episódicos e uma teia de escolhas que provam o quão expansiva a história pode ser. Ainda falando sobre os riscos tomados pela desenvolvedora, o foco no multiplayer é quase que uma experiência social. Twitch Performs Pokémon, que consiste na colaboração coletiva de jogadores em uma tentativa de jogar jogos da série Pokémon a partir de comandos enviados por usuários na sala de chat, foi citado como uma influência.
História complexa com controles simples
Em As Dusk Falls, você terá o controle sobre a vida de pessoas que, longe de serem perfeitas, convidam os jogadores a ter empatia com suas lutas e aspirações da vida real. Com início em 1998 a partir de um roubo que deu errado em uma pequena cidade do Arizona, as escolhas que você faz possuem um impacto poderoso na vida dos personagens da história. Alguns tópicos complexos são tocados para nos deixar reflexivos o suficiente a ponto de não saber o que fazer. Por exemplo, você consegue se libertar da influência tóxica da sua família? O que você está disposto a sacrificar por aqueles que você ama? Você consegue superar seu passado? Jay, um dos irmãos Holt, junto a Zoe, filha da família feita de refém, são os maiores portadores de todas essas questões. Assim, precisamos acompanhar duas famílias em suas lutas para sobreviver, proteger e suportar desafios enraizados nas gerações anteriores. O jeito que isso é aplicado na jogabilidade é o mais ousado de tudo, já que a proposta é jogar com amigos e familiares a fim de compartilhar a experiência, trocando decisões e questionando as escolhas uns dos outros. No modo multiplayer, as escolhas são votadas por até oito jogadores, por meio de um cursor na tela. Ah, e sempre fique atento às falas dos personagens, pois algumas das informações serão cruciais para os resultados da trama. Outro recurso legal é o rastreio de escolhas individuais que, ao fim dos capítulos, resume os valores e características de cada jogador. O objetivo é “envolver os corações e as entranhas dos jogadores, não os polegares”, diz Marchal em comunicado oficial. Isso faz total sentido, pois os eventos quicktime permitem que você deslize e toque nos botões, tudo de maneira muito simples, inclusive, podendo ser alterados nas opções de acessibilidade. O limite de tempo sob o qual os jogadores devem tomar decisões é uma fonte intencional de estresse. Porém, a intensidade de As Dusk Falls não está no gameplay, mas sim na narrativa. Foram 5 horas e 43 minutos de diversão e alguns arrependimentos que renderam várias caretas.
Visual é capaz de definir a experiência de cada jogador
Sem dúvidas, o estilo de arte de As Dusk Falls merece destaque na construção de uma obra que tem tudo para ocupar um lugar único entre os jogos narrativos. Funciona como uma graphic novel em movimento, muito mais estático do que fluído, o que não tira nem um pouco da agradabilidade aos olhos, claro, se você não é um fanático por movimentos e gráficos realistas. Objetos inanimados como veículos, bandeiras e outros elementos de background apresentam fluidez, enquanto os movimentos dos personagens são mostrados por quadros de diferentes poses. A trama foi trazida à vida por uma equipe de atores que foram gravados em tela verde, para terem suas performances inseridas no estilo de animação, que combina centenas de imagens bidimensionais com traços de pincéis bem marcados, desenhados com planos de fundo em movimento. É compreensível que não seja um visual capaz de atrair a atenção de alguns, mas não falha em continuar arriscando com sucesso, ao meu ver.
Modo Multiplayer de As Dusk Falls é inovador
Como dito acima, o jogo suporta até 8 jogadores, tanto cooperativo local quanto online, ou até mesmo uma mistura de ambos. Ao longo da história, temos a tarefa de tomar decisões que afetam o resultado do enredo. Todos os jogadores compartilham o mesmo ponto de vista, mas votarão individualmente em qual decisão eles gostariam de ver acontecer. Isso é legal porque os jogadores devem discutir rapidamente seus raciocínios para escolher certas respostas e ações nos momentos cronometrados. Caso haja divergência, é provável que um ou outro saiam da jogatina meio estressados, por isso, se comunique e convença seus amigos! A experiência se torna bem mais intensa do que tomar as decisões por conta própria. E a cada capítulo, os companheiros podem refletir sobre as escolhas e se divertirem com os relatórios de personalidade e estilo de jogo individuais que são gerados pelo sistema.
Veredito de As Dusk Falls
A interação, que se limita à praticamente escolhas, sem exploração de ambientes ou controles dos movimentos dos personagens, faz com que As Dusk Falls tenha mais semelhança com o filme interativo da Netflix, Black Mirror: Bandersnatch, do que com outros jogos interativos, como os da Telltale ou Quantic Dream. Seguindo essa premissa, é um dos títulos mais experimentais nos últimos anos, imperdível para quem adora narrativas profundas e até mesmo para os fãs de dramas criminais. A experiência individual é incrível, mas é no multiplayer que ele se torna um grande sucesso. Com certeza, é um título que, apesar de preferências pessoais diante das escolhas criativas, se destaca por ser ousado e inovar no mundo dos games. As Dusk Falls está disponível para Xbox Series X|S e PC com Xbox Game Pass, PC Game Pass, Windows e Steam, e no Xbox One e em celulares, tablets e PCs via Xbox Cloud Gaming. Se você está em busca de mais jogos incríveis com opção multiplayer, confira nossa análise de TMNT: Shredder’s Revenge.