Nesta 2a feira, a desenvolvedora CD Projekt Red, abreviada também de CDPR, publicou um comunicado oficial reconhecendo a performance em especial nos consoles, com a garantia de que irão fazer o possível para consertar os erros (após este período de festas, claro). Querendo ou não, o jogo está à venda e afirmamos que tem sim certos pontos de destaque. Como forma de entender o desempenho entre gerações, testamos Cyberpunk 2077 nas três plataformas de lançamento e por meio de retrocompatibilidade no PS5 e Xbox Series X, contando nossa experiência na sequência. Vale a pena citar que a base do jogo, sendo história e a mecânica em si, são um padrão dentre todas as gerações. Este review compilará justamente as propostas do Cyberpunk 2077 e como cada elemento funciona na prática.
História
Antes de o jogo iniciar, você tem a opção de customizar seu personagem, tanto de visual como na distribuição de pontos de habilidades. Independente do sexo, ele recebe o mesmo nome: V. Então, há três opções de background de vida para escolher, sendo elas marginal, corporativo ou nômade. Cada uma é importante para ditar como será o seu prólogo, também habilitando opções únicas de diálogo ao longo da história. Falando nisso, a proposta é bem simples. Você é um fora-da-lei ciberneticamente modificado, em busca de deixar sua marca ao cumprir missões para diferentes gangues de Night City. Lutando contra uma grande corporação (como não poderia deixar de ser, em uma narrativa distópica do tipo), você coloca por acidente um biochip infectado na própria cabeça e começa a ter visões de ninguém menos que o roqueiro Johnny Silverhand, interpretado por Keanu Reeves. Porém, se você não conseguir remover este chip, ambos morrerão. A história de Cyberpunk 2077 daí para frente se desenrola em tramas de investigação e corrupção, recheadas de chantagens, ganância e sede de vingança. Lembrando que Cyberpunk foi baseado no universo do RPG de mesa que carrega o mesmo (primeiro) nome. Até onde acompanhei listas e vídeos que dissecam este mundo, o game se prova bem fiel e respeitoso à sua base. O alto padrão está a começar pelas atuações e personagens, todos memoráveis e com backgrounds intrigantes. Cyberpunk 2077 foi separado em uma guia principal e sidequests (ou missões secundárias) que quadriplicam o tempo de jogo gasto até serem finalizadas. Em execução arrojada, o tom sério e quase urgente da história é tomado pelo humor e diversão que vemos nas missões opcionais. Independente do caminho escolhido, são cerca de 25 horas até chegar à missão final. Em adianto, para quem quiser se aventurar: como ocorre às vezes em games de mundo aberto, a missão final te impede de voltar a explorar o mapa, então sugere-se fazer tudo e deixar seu personagem bem equipado antes de iniciá-la. Do contrário, você pode criar um arquivo imediatamente antes e, se optar por isso, ficará feliz com 50 horas adicionais. Uma falácia comunicada desde os primeiros trailers de Cyberpunk 2077 era de que haveria escolhas a se fazer, em uma narrativa dinâmica, como qualquer RPG de respeito. Porém, adianto que são cinco finais possíveis, dentre eles quatro dependem de completar linhas de missões e outra é uma conclusão com base em outra variável (um final secreto que não daremos spoiler aqui). Acontece que para chegar a estes finais, você não precisa fazer escolhas específicas a longo prazo, nem desenvolver relacionamentos, nem nada tão complexo. As variáveis por ironia não estão em diálogos, como muitos pensavam, por ser uma normal de jogos de RPG. Até mesmo os recentes Assassin’s Creed trazem uma fórmula mais criativa, com acontecimentos de “meio” da história ditando exatamente como será sua conclusão. Em Cyberpunk 2077, não importa se você escolhe sacrificar uma pessoa, se começa a namorar com outra ou coisa do tipo, porque a missão final será a mesma. As escolhas de como ela acabará só são possíveis dentro da própria missão – daí vemos os “vários finais“.
Jogabilidade
Única e exclusivamente em primeira pessoa (a não ser dentro de veículos), a proposta da CDPR com Cyberpunk 2077 é uma só: te fazer se sentir na pele do protagonista. A jogabilidade em geral fica à base de loot, para o que certas pessoas podem achar similar ao subgênero “looter-shooter“, como os aclamados Destiny, Borderlands e Tom Clancy’s The Division. Você mata pessoas, coleta itens, cria ou compra outros, e assim por diante.
Remanejar itens no inventário pode ser um obstáculo aos desacostumados com RPG, mas calha de ser quase terapêutico após uma missão repleta de ação. Criar itens (craft) e o fazer upgrade nos equipamentos é quase uma rotina a ser estabelecida. Um ponto de destaque: se por acaso você gostar de uma arma logo nas primeiras horas de jogo, pode utilizar peças no seu inventário e modificações para torná-la prioritária até o fim da campanha de Cyberpunk 2077.
No pilar da tecnologia ao falarmos sobre a construção e evolução do personagem, nota-se um bom casamento entre modificações cibernéticas e a pura biologia. Há um sistema operacional, circulatório, nervoso e alterações adicionais mais fantasiosas, como pulo duplo (tendões reforçados), braços fortes (“gorilla arms“) e garras afiadas que podem sair do seu antebraço. Cirurgiões de respeito e alguns clandestinos dão conta do recado, em clínicas espalhadas pela cidade.
Ainda sobre tech, em geral, o game não incentiva o hack de itens. Mesmo que haja a oportunidade disso ao invadir locais, é uma prática dispensável. Você usa sua própria memória RAM (sim, do seu próprio sistema operacional) para abrir portas, desligar câmeras e desviar a atenção de inimigos. Pode até hackear computadores, sob pressão de um cronômetro, para minerar dados em troca de dinheiro, caso ache necessário, mas atirar com sua metralhadora pode resultar em uma experiência bem melhor.
Retomando os elementos de RPG, importante dizer que também há as skill trees (ou árvore de habilidades, mesmo que soe cômico) onde você distribui pontos adquiridos. Abas diferentes te deixam escolher dentre vários atributos, agrupados entre reflexos, corpo e inteligência, por exemplo. Para gastar estes pontos, você precisa chegar a um nível mínimo dentro dos grupos, com opção de ditar se você priorizará ataque corpo-a-corpo, hacks rápidos ou agilidade com armas de fogo. A grande maioria é passiva, então não se impressione pensando que há dezenas de opções de combate.
Muitas vezes Cyberpunk 2077 te obriga a ter certo nível de habilidade para seguir por caminhos únicos – fisicamente, ao abrir portas, ou até por meio de opções específicas de diálogo. Então é uma pena que a escolha mais eficiente seja guardar estes pontos e só utilizar quando necessário, pois sempre pode-se pausar e atribuir ao que achar útil. A partir destas opções diversificadas, você tem liberdade de escolher realizar missões furtivamente, sem alertar inimigos, ou partir para a troca de tiros.
A propósito, em relação ao combate (armado ou corpo-a-corpo), temos questões a serem discutidas tanto para o bem como para o mal. Visto que o jogo é quase 100% em primeira pessoa, a ideia de ele desviar-se de um jogo de tiro em primeira pessoa (FPS), consegue atrair fãs de RPG clássico e espantar viciados em franquias como a de Call of Duty. O feeling das armas não desaponta, porém, poderia ser mais bem calibrado ao pensarmos nas diversas classes à escolha.
Dado que você também pode optar por derrotar inimigos à base do combo esquiva e katana, Cyberpunk 2077 introduz uma lógica forte ao combate. Ao decorrer das sidequests, você se depara com inimigos ágeis demais para “sair atirando”, o que te incentiva a equipar espada ou facas de tamanhos e techs diferentes. As modificações cibernéticas também estão nas armas de fogo: de longe, a mais divertida é a classe com balas teleguiadas.
Do ponto de vista estético da customização de V, temos uma questão trivial de RPG. Nem sempre uma armadura resistente combinará com outra peça de roupa, isso todos sabem. Em Cyberpunk 2077, de visual rico e colorido (desde a caixa do jogo!), esperava-se que opções de vestuário pudessem ser melhores, sem afetar um look que se camufle melhor no contexto de Night City. Por horas, a vestimenta mais resistente que tive, por exemplo, era um short jeans curto, que não combinava nada com a jaqueta militar e meu colete. Nada que não bastasse visitas à lojas de roupa e upgrades de itens para tentar “enganar” os olhos.
Pois bem, se você estranhou os elogios por enquanto, fique tranquilo, pois problemas de gameplay relacionados aos glitches do jogo estão com uma seção específica, logo abaixo. Ademais, precisamos falar sobre uma parte importantíssima e positiva de Cyberpunk 2077: a construção de universo.
Atmosfera cyberpunk
O único ponto verdadeiramente forte de Cyberpunk 2077 é o conceito e a direção artística da cidade, na criação deste cenário único. Pegando emprestado de Akira, Ghost in the Shell, Battle Angel Alita, e o esplêndido Blade Runner, a Night City encanta fãs de ficção científica logo nos primeiros minutos. Relembramos aqui que quase todos os elogios a seguir têm crédito exclusivo ao Cyberpunk de RPG de mesa original, do qual a CDPR se apropriou para ilustrar o game multiplataforma. A atenção aos detalhes na criação da atmosfera fica nítida, a começar pelo óbvia moeda do ano, o eurodólar. Grafites marcam presença de gangues; a polícia está de vigia com tecnologias assustadoras; propagandas explicitamente sexualizadas aparecem em cada esquina. Em especial a gamers mais atentos, afirmo que a trilha sonora de Cyberpunk 2077 é fantástica, com composições autorais da fictícia banda Samurai, do Johnny Silverhand (para nosso azar, não são canções cantadas por Keanu Reeves). Ao redor da Night City, temos restaurantes, veículos autônomos, prostitutos(as), bares para encher a cara e oportunidades de esbarrar com opções novas de trabalho. Há pontos de viagem rápida espalhados pelo mapa, junto a todo tipo de comércio imaginável. Meios de transporte são carros e motos, mas só de olhar para o céu e ver carros voadores você compreende o potencial deste mundo futurista, que une tecnologia, poluição e destruição. A única coisa que, em particular, senti falta foi uma explicação para o estado atual deste futuro distópico. Sabemos por meio de um ou outro flashback o que acontece em anos anteriores, mas nada é “mastigado” como poderia. Mesmo quem procurar por arquivos de texto na base de informações do jogo (como este que vos fala) vai ter dificuldade em encontrar um arquivo relevante para aprofundar o universo. Se a CDPR teve a real base em outras obras do gênero (além do RPG de mesa), bastante poderia ser aprendido com o exemplo mais óbvio da cultura pop, que é Blade Runner. A introdução do filme contextualiza o espectador como nenhum outro produto, sem rodeios. Caso a ideia de Cyberpunk tenha sido deixar este intervalo de tempo propositalmente vago, aí encontramos um real problema conceitual. Porém, gostaria de acreditar que este não foi o caso, dado que todo o resto, em termos artísticos, foi feito com maestria.
Falhas mecânicas e glitches
Se ao tratar de arte este jogo impressiona, com os erros gráficos bizarros ele quebra a imersão por completo. Não há nada pior do que se sentir dentro do mundo cyberpunk, dirigindo um veículo à noite, fascinado pelas luzes de neon refletidas na chuva, e colidir de repente com um objeto invisível no meio da rua. Ou sair do seu próprio carro e, quando você voltar, uma pessoa aleatória está no volante – te obrigando a “roubar” o seu próprio veículo. Cyberpunk 2077 foi transbordado de decepções pelo mal polimento, o básico de jogos AAA modernos. O maior dos problemas não está nos glitches visuais (personagens atravessando portas, armas invisíveis, diálogos que saem de bocas fechadas), mas nos erros mecânicos capazes de quebrar Cyberpunk 2077. São dezenas de exemplos, ao ponto que pode-se preencher este review inteiro só com a lista de problemas encontrados no game. Certas missões te impedem de completar o objetivo, pois você precisar acompanhar alguém até um ponto do mapa, mas a animação da pessoa nunca acontece. Ou pior, quando ela chega lá, o status da missão não prossegue. Até mesmo, outro erro comum de jogos com ponto de salvamento automático (como Cyberpunk), é quando você morre imediatamente antes de o jogo salvar. Isso te obriga a retornar minutos no passado, para o jogo que você mesmo salvou, ou para outro arquivo automático que antecede o ocorrido. Por sorte, glitches bizarros acontecem poucas vezes ao longo das missões principais do jogo, o que equilibra de jeito positivo (de certa maneira) a experiência de quem “só” quer aproveitar a narrativa. Mesmo assim, alguns são bem engraçados. No Showmetech Trio publicado esta semana, compilamos alguns deles. Assista: À parte de missões, temos outras falhas de jogabilidade ao tratarmos sobre os controles, independente da plataforma (Xbox, PlayStation ou joysticks para PC). Na maioria das vezes, são problemas contextuais. Caso você freie o seu carro e saia dele em seguida, sua mira estará travada com zoom; o botão de pular linhas de diálogo e agachar é o mesmo, o que pode resultar em exercícios físicos intensos no meio de uma conversa; menus onde basta apertar X (controle de Xbox) ou quadrado (PlayStation) para confirmar seleção às vezes não funciona; dentre outros desastres completos. De longe, o tipo de glitch mais frustrante é quando um personagem vira invencível, e você deveria combatê-lo para concluir o objetivo da missão. Corridas de carro compõem uma das linhas de sidequests igualmente quebradas, pois não importa que você esteja na liderança, os carros dos competidores sempre estarão a poucos metros, na retaguarda. Se você ativar o modo foto, vê que eles podem até flutuar antes de reaparecer. A lógica de vantagem de ser líder não é aplicada no Cyberpunk 2077, com corridas 100% roteirizadas. E pelo lado “positivo”, jogadores de todas as plataformas podem abusar das falhas para duplicar itens, somar pontos de experiência e arrecadar mais dinheiro de diversas formas – basta uma rápida pesquisa online em canais do YouTube para encontrar os chamados exploits. Quem optar por este estilo de jogatina pode achar ainda mais divertido (mesmo que seja explorar de maneira errada os glitches) finalizar o game, até a CDPR consertar a maioria dos problemas.
Performance de Cyberpunk 2077 nas plataformas
Como se não bastasse a lista de problemas, pontos fracos sobre performance de Cyberpunk 2077 se encontram em todas as gerações de console e, pelos nossos testes, inclusive no PC. Em uma visão geral, ele foi pessimamente otimizado para os consoles, tanto da antiga como nova geração. Para relembrar, as versões lançadas (que testamos aqui no Showmetech) foram todas de Xbox One e PS4 e retrocompatíveis no Xbox Series X e PS5, pois o Cyberpunk 2077 só deverá chegar para os consoles novos a partir do ano que vem. Ao que aparenta, a CDPR têm muito a fazer ainda na geração atual. A seguir, confira os relatos de quem jogou, nos consoles e no PC.
Xbox Series X — por Allan Camilo
Minha primeira jogatina de Cyberpunk 2077 na madrugada de lançamento antecipou qualquer ponto negativo da chuva de críticas que viria (por mim e pelo resto da internet). Com a primeira atualização, do total de duas que vieram até esta publicação ir ao ar, fui tomado pela ansiedade de jogar o game que esperei por tanto tempo. Em um console recém-lançado, não há motivo para problemas, certo?
Ao longo das minhas 35+ horas de jogo, eu não poderia estar mais equivocado ao elogiar (e comprar em pré-venda) o Cyberpunk 2077. A história, curta, pelo menos funcionou sem tantos problemas de mecânica, mas este foi o único ponto do jogo onde não me deparei com uma experiência completamente quebrada. Qualquer sidequest à parte tinha pelo menos um erro capaz de destruí-las por inteiro.
Somente na 2a feira desta semana, tive mais erros que o comum, em especial tratando de acesso ao mapa. O game congelou e foi encerrado sozinho por um total de 4 vezes em menos de duas horas, só por navegar entre pontos de viagem rápida (e consultar missões próximas). Como consequência, precisei me guiar basicamente sem abrir o menu. À parte destes congelamentos, ao andar pela cidade, vez ou outra fui obrigado a ver a imagem congelar por cerca de 10 segundos – várias vezes, independente de onde estivesse. Nas 35 horas, creio que isso tenha acontecido 10 ou 12 vezes.
Aos brasileiros donos de Xbox, um problema logo no lançamento foi a ausência de linhas de diálogo: no primeiro dia, a legenda até apareceu, porém, sem ser acompanhada de áudio. Este foi inclusive priorizado na primeira grande atualização do game, como informa a extensa lista da CDPR. Para resolver o problema antes de a atualização ir ao ar, precisei baixar o arquivo de idioma inglês e restaurar o jogo.
O único ponto que merece destaque (positivo) foi o loading ágil, com no máximo 10 segundos entre carregar um save e fazer viagens rápidas para o outro lado do mapa. Mas, de novo: do que adianta abrir rápido um jogo cuja performance está quebrada? Para compensar, a opção de optar por priorizar fluidez (frames por segundo) ao invés de resolução gráfica me trouxe menos dor de cabeça – no sentido literal e figurado.
Cyberpunk 2077 foi um desastre no lançamento para consoles. Em particular, o melhor cenário possível é que ocorra algo similar a No Man’s Sky. Dentro de alguns anos e, quem sabe, até nos próximos meses de 2021, teremos aquilo que nos foi prometido com o game. Será mesmo?
PC — por Felipe Vidal
O ano de 2015 foi marcado pelo lançamento de ótimos jogos, e de ótimos jogos com incontáveis problemas técnicos. Batman Arkham Knight talvez seja o exemplo perfeito. A conclusão de uma saga fenomenal marcada por tantas adversidades nos computadores e consoles, manchando consideravelmente um lançamento único. Naquele mesmo ano, peculiarmente, era lançado The Witcher 3: Wild Hunt, uma das mais incríveis obras de arte do mundo dos games, e curiosamente com um lançamento também complicado, mas esquecido pela genialidade de seu conteúdo. Anos depois o público e os fãs da CDPR esperavam um lançamento a altura para a plataforma, que sempre teve bons olhos da desenvolvedora. Em troca de confiança, pre-orders, e muita espera por parte dos jogadores, esses mesmos receberam um game que beira o inaceitável. Problemas, pedras no caminho e pequenos deslizes são normais, porém lançar Cyberpunk 2077 com tantas falhas para a comunidade de PC é um erro imensurável. Meses antes do seu badalado lançamento, a CDPR já pregava ilusão nos fãs ao prometer especificações mínimas recomendadas totalmente ilusórias. Rodar um game de tamanha magnitude em um AMD Ryzen 3 3200g, ou pedir 8 GB de memória RAM soava impossível demais para ser verdade. Fatidicamente, o processador solicitado não aguenta ambientes externos e 8 GB de RAM vão gerar engasgos constantes. Entretanto, o maior problema não são as configurações mínimas recomendadas não baterem com a realidade. O grande problema é a uma otimização enfadonha e pautada para hardwares de ponta, excluindo parte da base de jogadores com especificações modestas, e que convenhamos, engloba um espaço universo assustadoramente grande. Em nossos testes usamos um processador de entrada, i5 6600, 16 GB de RAM e uma RX 480 de 8 GB de VRAM. Os resultados foram uma jogatina horripilante na qualidade baixa com stutterings entre 30 e 40 quadros, caindo constantemente para 24 frames em resolução Full HD. É certo que games de mundo aberto tendem a consumir bastante da CPU, a final de contas temos um mundo para processar, IA, NPCs, eventos aleatórios, etc, e apenas 4 núcleos não são o bastante para isso. Para a placa de vídeo o resultado também foi minimamente diferente do que ela poderia entregar. Meu maior espanto não é Cyberpunk 2077 não ter rodado em nossas configurações de teste. Meu maior espanto é Cyberpunk 2077 não conseguir até mesmo o que Red Dead Redemption 2 consegue fazer, e estamos falando de outro jogo mal otimizado, mas que encara hardwares em uma proporção muito superior. O game da Rockstar consegue ser rodado neste mesmo hardware no alto (com um ou outro filtro desabilitado) a 60 frames constantemente, mas Cyberpunk 2077, que não é nada inovador ou surpreendente no quesito de qualidade gráfica, não consegue. O problema total não se resume a apenas um jogo mal otimizado ou bugado, mas sim a um jogo mal otimizado e bugado que de nada de singular tem a oferecer em questões técnicas e gráficas, tornando-se apenas um peso de papel para jogadores com PCs mais modestos. E no fim, diferentemente de Batman Arkham Knight, este sim, mesmo com suas centenas de problemas, foi mais prazeroso de se jogar.
PlayStation 5 — por Luís Antônio Costa
Desde seu anúncio em 2012, Cyberpunk 2077 se tornou um dos games com maior hype da indústria do entretenimento digital. Com seu desenvolvimento iniciado após a conclusão do último DLC de The Witcher 3 (Blood and Wine), não se esperava menos que uma obra de arte digital da desenvolvedora CD Projekt Red. Infelizmente, o resultado de quase 8 anos de desenvolvimento foi um game quebrado que falhou em entregar várias promessas aos jogadores. Porém, ao contrário do péssimo desempenho do game tanto no PS4 original quanto no modelo Pro, os mesmos problemas técnicos não ocorrem quando Cyberpunk está rodando em um PS5. A taxa de quadros se mantém nos 60 FPS boa parte do tempo, a resolução é acima de 1080p e o carregamento das texturas não sofre problemas. No entanto, fica o questionamento de o porquê a versão para PS4 estar rodando de forma tão satisfatória no PS5 sendo que a versão para este último console nem foi lançada ainda. Definitivamente, se você tiver a oportunidade de poder jogar o game em um PS5, mergulhe no mundo distópico de Night City criado pela CD Projekt Red. Caso você somente possa jogar o game em um PS4 base ou Pro, é altamente recomendável que você espere as próximas atualizações do game para ter uma experiência, no mínimo, satisfatória. Apesar dos problemas na parte técnica é inegável o feito impressionante da CD Projekt Red em criar um mundo com atmosfera cyberpunk inspirado nos melhores aspectos de filmes como Blade Runner e animes como Akira e Ghost in the Shell. O gameplay simples mas refinado que combina ação com RPG junto de uma história de boa qualidade e personagens marcantes cria uma experiência que poderia ser quase perfeita não fosse pela quantidade de bugs e glitches que, mesmo ocorrendo em menor quantidade no PS5, podem prejudicam a jornada do jogador. Ter um lançamento tão conturbado não é exclusividade de Cyberpunk 2077, pois um exemplo mais recente desse mesmo problema no mundo dos games pode ser encontrado no caso de No Man’s Sky, lançado em 2016. Mesmo sem muitos problemas técnicos, o game não cumpria boa parte das promessas de lançamento e, após críticas pesadas, sofreu diversas atualizações e recentemente foi eleito pelo The Game Awards o “Melhor Jogo em Andamento”. Assim como em No Man’s Sky, Cyberpunk 2077 tem uma proposta incrível e inovadora, mas falha gravemente na execução dela. Mesmo assim, se um esforço for realizado e os desenvolvedores dedicarem o tempo necessário para corrigir os problemas, Cyberpunk 2077 ainda tem muitas chances de ganhar uma vida nova e ser visto com outros olhos em um futuro não muito distante.
Conclusão
Cyberpunk 2077 acertou no conceito e errou feio na execução. Todo o potencial de um universo distópico, futurista e imersivo foi batido no liquidificador de forma grosseira, resultando em um produto desleixado. Isso é crucial ao sumarizarmos que um dos títulos mais aguardados do ano basicamente não funciona em nenhuma máquina. Quer dizer, a não ser que você tenha um desktop gamer equipado com o que há de melhor no mercado, dificilmente você terá uma performance razoável de Cyberpunk 2077. Mesmo sem queda de frames e visual de boa resolução, é preciso reiterar que há um forte potencial de jogo, mas ninguém pode ignorar as falhas técnicas e terríveis glitches – capazes de frustrar até o mais paciente dos monges tibetanos. Porém, quem optou por relevar os erros por completo e jogou uma vez até o final, se divertindo pelo menos 70% do tempo, pode até encontrar um “gás” extra para arriscar uma segunda ou terceira jogatina. Isso se o jogador quiser matar a curiosidade das introduções alternativas por conta própria, nos primeiros minutos do game, já que o final pode muito bem ser o mesmo. Bastante foi prometido e dezenas de equívocos foram ditos (e repetidos) pela desenvolvedora CD Projekt Red, em termos de liberdade de escolha, performance do game e até sobre a profundidade do universo – este último, o único ponto forte do jogo, que foi apropriado de um RPG de mesa (ou seja, a única qualidade não é nem original ao jogo). De fato: uma pena os poucos atributos do game serem sufocados pelo desempenho lamentável, em qualquer plataforma. Por conclusão irônica, Cyberpunk 2077 embala a reta final de 2020, um ano que por si só daria uma “bela” história de distopia. Você encontra Cyberpunk 2077 para PC na Steam (R$199), Epic Games (R$199) e GOG (R$199); para Xbox em versão digital na Microsoft Store (R$ 249) e mídia física na Americanas (R$ 251); e PS4 apenas mídia física nas Americanas (R$ 251) — a Sony suspendeu a venda de cópias digitais do jogo, devido aos problemas apresentados. E aí, você jogou Cyberpunk 2077 em alguma plataforma? Se decepcionou com a experiência ou conseguiu desfrutar este título? Conte para a gente nos comentários!