Vindo com limitações de entrega de quadros e com uma jogabilidade meio travada, o jogo pode frustrar bastante as pessoas desavisadas e agradar minimamente os fãs da franquia de sucesso da Warner. Mesmo com uma série de erros e caindo em formatos ultrapassados ou clichês da indústria de games, o jogo traz uma narrativa interessante, uma jogabilidade minimamente divertida e gráficos muito competentes. Confira a seguir como foi minha experiência com Gotham Knights.
Novos protagonistas, mesma Gotham
Batman está morto. No início, o que aconteceu com o Homem Morcego é explicado de forma rápida e alucinante, como em seus clássicos embates do cinema e dos quadrinhos. A Batfamily chega ao local da sua derrocada e fica chocada, e tão logo se reúnem para trabalharem em busca de pistas do seu assassino e de novos crimes em Gotham City. Em meio a uma Gotham City completamente caótica, com crimes acontecendo por todos os lados, os protagonistas Asa Noturna, Batgirl, Capuz Vermelho e Robin saem à noite com seus uniformes e equipamentos tecnológicos para evitar que esses crimes aconteçam e investigar diversas gangues e vilões que possam ter contribuído para a morte de seu tão amado mentor. Acompanhar essa narrativa e descobrir cada vez mais pistas em profundas investigações é extremamente divertido e, em algum momento, um deles irá te conquistar facilmente, sendo que a troca entre os personagens no novo esconderijo, chamado de “Campanário”, garante certo frescor na jogabilidade a qualquer momento. Frescor pouco duradouro, porque o jogo fica repetitivo muito rapidamente (explico daqui a pouco). Lá, Alfred, o mordomo de Bruce Wayne (Batman), estará sempre disposto a dar seu brilhante apoio a essa imparável equipe. De imediato, é possível se impressionar por uma boa desenvoltura narrativa que traz à tona toda uma lore intrigante dos quadrinhos de Batman, mas que com certo tempo avançado de jogo começa a ficar cansativo com as mesmas direções que toma. Há algum exagero de discursos moralistas e de tensões criadas em certas situações, sempre evitando a real causa raiz que as HQs de Batman abordam: todo criminoso tem sua razão e suas motivações de ser. Em outras palavras, faltou apresentar um pouco do passado distante de determinados vilões e pontuar a formação do seu caráter.
Andar em Gotham era mais fácil
A cidade de Gotham no jogo é ambientada somente à noite, o que a faz brilhar e ser muito única. Uma vez que Gotham Knights está categorizado como um título de ação e aventura de mundo aberto (o que não falta em jogos de super-heróis, não?), ele acertou muito nesse ponto, principalmente quando faz uma boa distribuição de eventos aleatórios e eventos mapeados pela cidade. O grande problema espacial aí é a movimentação. Tanto a pé, quanto na incrível Batmoto, ela parece extremamente truncada o tempo inteiro. Se movimentar por Gotham é um grande sacrifício: chegar até os pontos marcados demora, controlar o gancho em prédios é chato e é uma mecânica limitada e não há a mesma fluidez que esperamos de jogos do mesmo gênero. Andar na Batmoto é horrível, não há uma sensação de velocidade (mesmo na velocidade máxima!), principalmente em grandes avenidas e pontes, justamente o oposto de como acontecia em Batman: Arkham Knight, da Rocksteady Studios, por exemplo. São fundamentos tão importantes que só me fazem pensar o tempo inteiro: “Por que não aprenderam nada com seus jogos anteriores, Warner?!”. Isso nos leva a uma rápida imaginação de que algo não vai bem na publicadora de games e que ela não tem dado a atenção necessária aos aprendizados e relações a longo prazo com seus diversos estúdios desenvolvedores. É evidente que Gotham Knights se inspira em jogos do passado não tão recentes publicados pela própria Warner e diversos outros jogos de super-heróis de outras empresas, que são muito consagrados no meio gamer. Os últimos Marvel’s Spider-Man e a trilogia de Batman: Arkham são exemplos. Entretanto, Gotham Knights se perde demais em mecânicas ruins ou pouco polidas, em sistemas de loot ultrapassados e fúteis e diversos escorregões de design que acaba manchando sua própria existência. Um baita potencial perdido e muito boas referências desperdiçadas.
Um dos BatJogos já feitos
Mesmo com um bom histórico de jogos do Batman feitos no passado, Gotham Knights consegue ser bem mediano e dispensável para a atualidade. Ele se destaca por trazer uma boa história originária dos quadrinhos mais recentes de Batman, invocando toda a lore da Corte das Corujas e um ótimo elenco de vilões clássicos das HQs, como Pinguim, Arlequina, Cara-de-barro e Sr. Frio. O luto dos personagens heróis e seus aliados é muito bem trabalhado a todo momento e causa impacto verdadeiro no storytelling, condicionando e fortalecendo a todos eles. Talvez possa soar exagerado, mas Gotham Knights fica repetitivo rapidamente no seu combate, principalmente, e no vai-e-vem de missões cansativas e pouco equilibradas dentro de uma cidade difícil de se locomover com os protagonistas. Na realidade, não se soube explorar bem os fatores espaciais dessa cidade que é vazia em vários pontos e a variação dos inimigos dentro de gangues. Surpreendentemente, há apenas 3 ou 4 padrões de inimigos para cada gangue de Gotham. Ao se deparar com chefes e mini-chefes pouco criativos, também geram-se mais frustrações. Refém de um combate tão maçante, as únicas alternativas são explorar bem os modificadores de itens (chips implantáveis nos equipamentos de combate dos heróis), que, em termos de jogabilidade, não mudam muita coisa; escolher as melhores habilidades dos heróis; e intercalar entre cada personagem com frequência. Mesmo assim, nada disso tira o gosto amargo que o jogo deixa em pouco tempo. Restrito a infelizes 30 fps nos consoles (até nos da nova geração), sem uma performance fluída em alguns momentos, é muito perceptível seu potencial perdido com toda a disposição da sua beleza gráfica, mas não é nada que afete a experiência como um todo. Sem contar alguns bugs presentes em certos pontos e uma IA do mundo aberto nada convincente. A navegação pelo mapa também não é das melhores. É preciso destravar pontos de viagem rápida por todas as regiões de Gotham, em pequenas espécies de minigames para encontrar 3 drones e suas respectivas bases de carregamento no topo dos prédios (!). Trabalhoso e desprazeroso demais. Além disso, a interface do usuário (UI) dos menus é mal organizada, mostrando um excesso de informações que tendem a confundir muito a pessoa jogadora. Muita complexidade desnecessária em um jogo simples. Num sistema de evolução de trajes, armas corpo a corpo e de distância, em que é possível adaptar e comprar novos itens, o jogo se complica mais ainda: inserido com elementos de RPG somados a dinâmicas de loots espalhados pelo cenário, essa evolução se faz extremamente confusa e de difícil domínio, ao passo que a UI também não corrobora para o entendimento do funcionamento dessa evolução. Apesar de muitos contras, Gotham Knights possui uma progressão satisfatória, mesmo que lenta por vários momentos (nos sentidos de evoluir os heróis e de avançar na história), que te faz sentir o poder e o peso das habilidades de cada personagem.
A era pós-Batman merecia mais
Gotham Knights é uma boa opção entre os jogos temáticos de heróis e heroínas da indústria. Conquista rapidamente e se equilibra bem em suas premissas, narrativas e em seus atributos de jogabilidade que podem até ser compartilhados em cooperação online, mesmo com uma quantidade muito desnecessária de erros, elementos truncados e, claro, muita repetição. A expectativa era de que fosse entregar muito mais até esse ponto, mas se trata de um jogo apenas aceitável que está sendo vendido a preços de triple AAAs nas lojas (a partir de R$299). Ao mesmo tempo em que ele traz uma trama muito instigante e personagens fortes, fica muito desengonçado em termos de jogabilidade e performance. É como se todo aquele ambiente de Gotham e suas narrativas te conquistassem, mas os combates, a movimentação, informações dispersas e mecânicas fúteis ou confusas te afastassem completamente deste mundo. São fatores que jogam o tempo todo contra suas vontades. O título é o primeiro que trata da Corte das Corujas nos jogos, inclusive, mas desculpá-lo enquanto produto com muitas falhas seria ingenuidade em pleno 2022. Com certeza merecia muito mais atenção e carinho da Warner Bros. para esse acontecimento inédito que faz brilhar os olhos dos fãs de Batman. Por isso, ele merece ser jogado, ainda que esteja carregando uma série de defeitos. O jogo está disponível nas lojas online da Epic Games Store, Steam, PlayStation Store, Xbox Store. Veja também: Multiversus: 5 dicas para se dar bem no insano jogo de luta