Entre os primeiros passos de multiplayer online e os grandes simuladores de estratégia, uma franquia teria seu nascimento também nos PCs: Hitman, a série onde você controla um assassino de aluguel e deve andar pelas mais variadas localizações do mundo sem ser descoberto para eliminar os seus alvos. 21 anos depois, essa série conta com mais de 8 jogos, todos conhecidos por elevar a liberdade e a imersão. Destaque em especial para a trilogia iniciada em 2016, conhecida como “Mundo do Assassinato”. E agora, chegando aos consoles novos, a conclusão desse grande arco, Hitman 3, impressiona.

O mundo de um assassino

Hitman 3 começa deixando claro que as consequências de seu antecessor de 2018 estão fortes no mundo do Agente 47. Agora o assassino faz parte de uma operação clandestina tentando derrotar a Providence, um grupo de grandes magnatas do mundo que controla os rumos da sociedade. Em termos de história, o jogo é basicamente isso, te levando às mais variadas localizações para assassinar seus alvos e poder destruir esse grupo. Porém, é como a história se liga à jogabilidade extremamente aberta que dá vazão a um dos primeiros trunfos do jogo. Ao selecionar uma das localizações do jogo em seu modo história pela primeira vez, suas opções são bem limitadas do que fazer. Você obrigatoriamente irá partir de uma certa localização e ter uma quantidade limitadíssima de armas para escolher. A partir daí, o jogador se vê na situação de explorar e compreender a fase, até que ele acaba se deparando com algum diálogo interessante ocorrendo, e um aviso na interface do jogo explica que, se ele quiser, a partir dessa interação ele pode seguir a “missão de história”. Essa missão é indicada toda vez que o jogador fizer pela primeira vez uma localização, já que a partir de indicadores de objetivos ela irá lhe “introduzir” a algumas das características de cada localização. Um exemplo é na quarta localização do jogo, que se passa numa base secreta em Chongqing, na China. A partir da missão da história, que é um tour dado ao Agente 47 disfarçado de inspetor, o jogador pode descobrir funções como elevadores que não funcionam, salas de fornalha que podem incinerar pessoas e localização de câmeras escondidas. É importante notar também que existem geralmente três missões desse estilo em cada localização, levando e introduzindo diferentes lados e particularidades de cada fase. As missões de história também ajudam a acumular pontuações de experiência da localização de maneira mais rápida, subindo níveis de conhecimento da fase e assim liberando novos pontos iniciais, novas opções de armas e até mesmo localizações onde os aliados podem enviar pacotes com itens. O jogo vai se tornando cada vez mais interessante a cada vez que uma localização é rejogada, já que, com mais noção das áreas, salas e pessoas que estão no lugar, fica cada vez melhor explorar. Em muito tempo, confesso que não jogava algum jogo que incentiva de forma tão orgânica e funcional sua rejogabilidade.

Um rei dos disfarces

Grande parte de ser um assassino como o Agente 47 é sua adaptabilidade enorme para as mais variadas situações, e Hitman 3 mostra isso de forma genial. Duas missões específicas se destacam nisso: a de Berlim e a de Dartmoor. Em Berlim, uma força rival se instala em uma balada underground, e o Agente 47 deve assassinar 5 membros dos 10 presentes para poder fazer eles escaparem do lugar. A festa, contando com 3 andares, áreas de manutenção, convivência, bares e salão de dança, está cheia de gente que não tem nada a ver com a situação, o que pode tornar qualquer coisa ruim um evento catastrófico. Andando pela festa, o Agente 47 tem a opção de incapacitar guardas ou pessoas que só estão dançando, assumir suas roupas e ficar se comportando como eles estariam. Enquanto isso, o jogador observa as rotinas de cada um dos membros do grupo rival, e vai entendendo e planejando como os matar. Um deles fica entre o salão de dança e uma sala de descanso para os guardas, que conta com um pequeno banheiro. Ao entrar nesse banheiro, o assassino tem a opção de abrir a torneira até inundar o cômodo, chamando a atenção de seu alvo. Se escondendo no pequeno armário no sanitário, basta aguardar seu alvo entrar e discretamente o assassinar, escondendo o corpo no armário. Já outro alvo está constantemente no bar no segundo andar. O jogador pode jogar uma moeda ou uma lata de refrigerante para tirar o alvo de seu posto, e o assassinar de forma discreta, ou ainda pode tomar uma distância grande e atirar nele com uma arma silenciosa, embora isso chame bastante atenção. Olhando para cima, porém, uma estrutura suspeita fica suspensa bem em cima de onde o alvo está. Se disfarçando de um membro da manutenção, o agente ganha acesso à área perto da onde a estrutura está suspensa, e com um simples apertar de botão, a solta em cima do alvo. Ele está morto, e as chances de perceberem quem foi o responsável é mínima. A missão de Berlim sempre tem esses tons, com cada vez mais opções e uso de inteligência e percepção do jogador para as variadas adaptações necessárias. Dartmoor, porém, é uma missão mais truncada, mas arrisco dizer que é uma das melhores fases de videogames que eu tive o prazer de jogar nos últimos anos. Se passando em uma mansão onde uma família bem rica vive, o Agente 47, para ganhar acesso a ela e poder chegar em seu alvo, precisa se disfarçar de um detetive particular contratado para investigar um suicídio. Porém, ao chegar lá e ser introduzido ao cenário, descobre que seu alvo, a grande matriarca da família, está trancada em seu escritório e só irá abrir a porta quando o detetive obtiver uma conclusão sobre o suicídio. A partir daí, um verdadeiro filme se desenrola, com o jogador controlando o detetive com segundas intenções. A cada momento dessa fase o jogador está interrogando pessoas, investigando provas com suas câmeras ou invadindo locais trancados para achar provas. É um ritmo completamente diferente do resto do jogo, e é por isso que ela se destaca tanto. Porém, o mais importante disso tudo é que o jogador não é forçado a seguir essa linha para chegar ao alvo: se quiser, ele pode chegar atirando e matando todos ou tentar invadir o escritório sem nem ao menos se disfarçar, entrando pelo lado externo da mansão. É espetacular.

Uma experiência diferente na nova geração

Embora disponível para o PS4 e para o Xbox One, e até mesmo disponível em uma edição onde o jogo é jogado por meio de tecnologia de nuvem no Nintendo Switch, o real destaque de Hitman 3 é no PlayStation 5 e no Xbox Series. A versão avaliada aqui é a do novo console da Sony, e foi impressionante. Graficamente, o jogo conta com reflexos e iluminações absurdos, principalmente em fases como o prédio mais alto do mundo em Dubai. Em momentos onde o personagem deve ficar escalando o prédio externamente, um show de raios de iluminações é visto, refletindo tanto no prédio quanto em itens como armas que possam estar sendo carregadas. Até mesmo a careca do Agente 47 conta com efeitos de iluminação impressionantes, por mais “engraçado” que isso possa parecer em uma análise técnica. A densidade de NPCs também impressiona, com tranquilamente mais de 300 modelos ao mesmo tempo na tela em fases como a balada de Berlim, tudo isso sem nenhuma queda de FPS, mantendo o jogo sempre na taxa dos 60. O SSD do PlayStation 5 também entrega uma ótima experiência, com carregamentos das fases não demorando mais que 7-8 segundos. Por último, fica um comentário sobre como o controle DualSense se comporta durante o jogo. Hitman 3 não é um dos jogos que faz o melhor uso do HD Rumble presente no controle, se limitando a vibrações parecidas com a do Dualshock 4 do PlayStation 4, e os gatilhos adaptativos são usados de forma não muito complexa, só apresentando uma pequena pressão em algumas armas para apertar o gatilho. Considerando que jogos como Dirt 5 e Astro Playroom mostram experiências incríveis que o controle pode trazer, esse é um ponto onde Hitman 3 peca.

Muito conteúdo além da história

Terminei todas as fases do jogo em cerca de 10 horas, passando 2 horas em cada uma na média para fazer suas missões de história. Porém, o grosso de meu tempo com Hitman 3 se deu em seus outros modos de jogo, que variam desde jogar as fases com alvos novos ou com limitações como não poder atirar ou não poder se disfarçar de um certo tipo de guarda, para até mesmo criações de minhas próprias missões, escolhendo o ponto de início dentro da fase, o alvo e quais armas o jogador terá acesso durante ela. A IO Interactive também promete atualizações mensais para o jogo com novos conteúdos gratuitos. O primeiro, já disponível, traz novos contatos de assassinato. Trazendo desafios bem diferentes dos encontrados na missão principal e uma dificuldade mais elevada, Hitman 3 irá usar essas atualizações constantes e o próprio conteúdo da comunidade para ser um dos principais representantes de “Jogos como Serviço” nesse começo da nova geração. Mesmo eu tendo jogado já uma boa quantidade de tempo, esses novos conteúdos me empurraram de volta ao jogo, então diria que está funcionando.

Conclusão

Hitman 3 é um jogo excelente, que coloca o jogador num mundo imersivo e que cada vez mais ganha novos tons com cada jogatina. A grande gama de conteúdo, a liberdade de como chegar aos objetivos, os gráficos e otimização excelente constituem um pacote incrível, que sem dúvida alguma irá figurar na lista de melhores do ano de 2021, lá no ainda longe final do ano. Hitman 3 está disponível para PS4 por R$319, com upgrade gratuito para o PS5, para o Xbox One por R$249, com possibilidade de Smart Delivery para a versão de Xbox Series, PC na Epic Store por R$113, e para Nintendo Switch, em uma versão de nuvem onde cada hora jogada custa 1 dólar. As mídias físicas do jogo estão disponíveis para PS4 por R$246,39, Xbox One e Xbox Series por R$251,99 e para PS5 por R$246,79.

REVIEW  Hitman 3   uma experi ncia imersiva impressionante - 56REVIEW  Hitman 3   uma experi ncia imersiva impressionante - 84REVIEW  Hitman 3   uma experi ncia imersiva impressionante - 83REVIEW  Hitman 3   uma experi ncia imersiva impressionante - 1