Lançada em maio de 2020, a linha consiste de 14 produtos de variadas funções desde o resguardo seguro do portão que dá acesso à rua, até sensores de entrada de cômodos específicos. Da lista completa abaixo, os oito que estão em negrito foram enviados pela empresa ao Showmetech para avaliação (os preços na segunda coluna seguem a data desta publicação):
Apresentação
Os dispositivos Multilaser Liv de Casa Inteligente trazem um visual limpo, onde a cor branca predomina na maioria dos itens enviados — salvo pelo vídeo porteiro e uma das câmeras. Todos os itens que testamos trazem, evidentemente, parafusos, buchas e adesivos que permitem a fixação dos produtos em pontos estratégicos verticais e horizontais – parece bobagem mencionar algo tão óbvio, mas boa parte das empresas do setor não faz nem isso, então pontos à Multilaser por levar isso em consideração. Em listagem dos produtos, devemos elogiar a facilidade de instalação, pois ele se conectam ao app/wi-fi e têm energia por meio de bateria ou de conexão USB (mesmo que não incluam baterias de nenhum tipo nas embalagens). Destes, o sensor de abertura de porta, sensor de presença, porteiro e sirene de alarme funcionam com uma pilha, por exemplo. A câmera portátil supostamente funciona por até 3 meses (em modo standby, com detecção de movimento). Já a câmera robô, porteiro e câmera interna se diferenciam por poder guardar imagens na nuvem ou em um cartão SD. O visual de alguns itens, porém, farão você lembrar de equipamentos de outras marcas – especialmente a câmera robô, que tem uma carcaça perigosamente similar à Mi Smart Cam 360º da Xiaomi, com uma ou outra pequena diferença. Não é exatamente uma “pirataria” de design, já que nenhuma destas empresas detém qualquer patente do tipo e o formato “cabeçudo” deste item específico favorece a sua função de monitorar todas as direções possíveis, mas ainda assim, não pude deixar de lembrar do meme do “pode copiar, só não faz igual” que vemos pelo Twitter. O aplicativo Multilaser Liv, disponível para smartphones Android ou iOS, segue a mesma estética, priorizando a apresentação mais clean, sem muitos detalhes na tela, o que facilita a navegação. Ainda bem, porque o que vem a seguir é algo relativamente chato de se reportar.
Conectividade e sensibilidade
Quando você baixa e instala o aplicativo necessário para configurar e utilizar os dispositivos, a Multilaser pedirá que você crie uma conta para utilizá-lo. É um processo bem rápido, nada diferente do que você já está acostumado. A partir daí, o app exibirá ícones correspondentes aos 14 itens que compõem a linha de produtos, bastando que você clique em um deles para iniciar o processo de conexão do produto à sua conexão wi-fi. Uma vez entendido como funciona o procedimento de adicionar dispositivos, a experiência torna-se mais fluída. “Entender” o procedimento é que causa uma certa dor de cabeça: o manual de instruções, por exemplo, lista coisas que são ou desnecessárias para isso ou, ao menos nos dispositivos que utilizamos, inexistentes, como indicadores LED que não iluminavam em momentos que o manual dizia que isso seria feito. Até aí, tudo bem: um ou dois minutos a mais que o necessário foi o tempo que levamos para descobrir, por conta própria, os detalhes que nos serviriam de confirmação do funcionamento de alguns dos dispositivos. Mas na hora de posicioná-los é que veio a primeira pancada. Nenhum — repetindo: nenhum — dos dispositivos possui um alcance muito longo. A configuração inicial pede que smartphone e produto estejam próximos ao roteador, por razões óbvias, mas depois disso você é, teoricamente, livre para posicioná-lo por onde quiser pela casa. E bom, dependendo do produto, isso acabava minando o seu funcionamento de forma bem grave. O maior culpado disso foi o vídeo porteiro: a casa onde os produtos foram testados é grande, mas possui roteadores e repetidores espalhados por vários cômodos. Então “falta de conexão” não foi o problema. Isso não impediu, porém, que o porteiro digital ficasse por vezes offline, sem motivo algum. Por duas ocasiões, foram pedidos a um dos moradores da casa que caminhassem em direção ao roteador para identificar o ponto otimizado de onde a conexão tornar-se-ia novamente estável. Para o porteiro, isso foi “longe do portão”, o que derrotou completamente seu propósito. As câmeras também sofrem deste mesmo problema, ainda que em menor grau: quebras na resolução nos dispositivos mais distantes eram constantes e, uma ou outra vez, elas ficaram offline. Nos momentos em que estavam online, mesmo próximas ao roteador (uma das câmeras ficou posicionada ao lado dele), ainda que exibissem uma imagem cristalina mesmo no modo noturno (mais sobre isso no parágrafo seguinte, aliás), traziam um atraso notável — pelo menos dois segundos — nos elementos interativos, como por exemplo “conversar” pela câmera ou o acionamento automático da detecção de movimento. Falando no modo noturno, essa foi outra incógnita bastante incômoda no Multilaser Liv: a fabricante não especificou o que faz ele começar a trabalhar, mas presumimos que seu acionamento automático deve se dar quando a lente capta um local escuro. Isso é ótimo, claro: em uma das câmeras, a escada que ela monitorava é realmente escura e ficou bem evidente no modo escuro, que remove cores e reforça brilho e contraste a fim de marcar linhas de definição de objetos e pessoas. Entretanto, uma outra câmera estava em favor da iluminação natural – um quarto cheio de janelas – acionando o modo noturno sem motivo algum, já que mal havíamos passado das 10h de um dia particularmente ensolarado. O leitor deve saber disso, mas “ambiente noturno” e “luz ambiente” são uma péssima combinação, e por várias vezes, a imagem desta câmera ficou ofuscada por um brilho excessivo, perdendo totalmente o objeto marcado. No geral, não foi uma boa experiência.
Interatividade
Embora o funcionamento do Multilaser Liv não tenha sido dos melhores em nossa experiência, isso não significa que ele não traz pontos positivos: o primeiro é o conjunto de elementos interativos que ele traz dentro de cada produto. As câmeras permitem a gravação, registro fotográfico e alarme sonoro de objetos rastreados em ótima resolução e armazenamento em nuvem. A Multilaser recomenda o uso de um cartão extra de memória (alguns dos produtos trazem uma baia de expansão que comporta micro SDs) a fim de aprimorar a capacidade de armazenamento local, mas essa capacidade dupla entre salvar arquivos no dispositivo e também na nuvem adicionam um grau de portabilidade. Não é algo inédito – a já citada Mi Smart Cam 360º também faz isso – mas considerando as falhas que vimos até aqui, esse foi um alívio. Mais além, quase todos os produtos trazem interatividade com o Google Assistente e Alexa. Isso traz uma camada de automação ainda mais aprofundada, já que os produtos em si permitem o estabelecimento de rotinas automáticas de comportamento, como programar horários específicos para certas tarefas — todas estas, programáveis com um simples comando de voz.
Conclusão
O kit Multilaser Liv tinha tudo para ser uma ótima opção para quem busca uma entrada na automação de tarefas do lar sem ter o conhecimento técnico necessário para isso. É relativamente fácil de configurar, os produtos favorecem diversos posicionamentos estratégicos e a estética visual de cada um traz um ar profissional que agrada aos olhos e passa uma segurança maior. Entretanto, as falhas de conectividade e sensibilidade dos dispositivos são seus problemas mais graves: quando você instala um porteiro eletrônico ou uma câmera externa que dependem do seu wi-fi para funcionarem plenamente, a ideia é que você posicione os produtos e se esqueça deles, não que você tenha que revisar seu funcionamento de cinco em cinco minutos com medo de um deles estar offline. Mais além, tem a questão do preço: embora a Multilaser seja conhecida por lançar produtos com preço mais atraente que os similares, esta linha não traz tanta diferença nos valores dos dispositivos. Além disso, a empresa não disponibiliza kits para você montar sua casa conectada, sendo necessário comprar todos os produtos individualmente. A saber: itens como o porteiro eletrônico (R$ 399,00) e a câmera de bateria autônoma (R$ 899,00) estão entre os produtos mais caros na loja oficial, enquanto câmeras comuns variam (R$ 269,00 até R$ 399,00). Ou seja, por mais que sejam produtos da Multilaser, a experiência de autonomia da sua casa será consideravelmente cara – e isso é um problemão para a empresa, já que existem outras opções em concorrentes, por preços bem menores.