Segundo comunicado da companhia, a decisão foi tomada por causa do atual momento cultural, que exige que as marcas tomem medidas funcionais pra criar um ecossistema digital de confiança, e que continuar investindo em anúncios nessas plataformas não adiciona nada a seus clientes ou à sociedade como um todo. Por isso, todos os investimentos nas três redes sociais serão encerrados para o restante de 2020, e após esse período a empresa irá rever essa posição caso seja necessário. A Unilever é a empresa mais recente a retirar seus anúncios dessas redes sociais em apoio à campanha Stop Hate for Profit, e se junta a outras companhias que já tomaram o mesmo posicionamento, como a marca de sorvetes Ben & Jerry e a empresa de mídia e telecomunicações Verizon. Após o anúncio da decisão da Unilever em retirar todas as campanhas publicitárias do Facebook, o valor das ações da rede social caíram cerca de 7%.
Entendendo a decisão da Unilever
A decisão da Unilever em deixar de anunciar no Facebook, Instagram e Twitter não é algo que acontece no vácuo, mas uma resposta de apoio à campanha Stop Hate for Profit — um movimento organizado por grupos como a NAACP, a Anti-Defamation League, o Color for Change e o Free Press, e que tem ligação direta com os protestos anti-racismo e pelo fim da brutalidade policial que tomam conta dos Estados Unidos desde o fim de maio. De acordo com essas organizações, o Facebook atua como cúmplice ao se recusar moderar discursos de ódio que, em sua grande maioria, atingem as populações negras e latinas dos Estados Unidos, e contribuem para manter o racismo estrutural que permite que policiais possam continuar matando negros inocentes — muitas vezes dentro das próprias casas — sem qualquer tipo de punição. Por isso, o Stop Hate for Profit pede que todas as marcas fiquem sem anunciar na rede social durante o mês de julho, como forma de pressionar por mudanças. Com dezenas de marcas acatando ao movimento e anunciando que não irão mais anunciar na plataforma, o Facebook foi obrigado a tomar medidas rápidas para tentar reverter a opinião pública sobre a rede social, e no final da tarde desta sexta-feira (26) o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou uma série de mudanças nas políticas da plataforma sobre como ela irá tratar conteúdos que propagam mensagens de ódio. Uma dessas mudanças é a aplicação de restrições ainda mais pesadas no conteúdo patrocinado, que irá derrubar qualquer postagem que assuma um discurso de ódio, defendendo que um grupo seja superior a outro por conta raça, etnia, local de nascimento, religião, casta, orientação sexual, identidade de gênero ou condição como imigrante, considerando que qualquer postagem deste tipo atenta contra a integridade física e a segurança dessas pessoas. Mas mesmo essa medida pode não ser tão contundente quanto parece. Primeiro porque elas irão valer apenas para conteúdos patrocinados, e não para as postagens em geral na rede social. Segundo, porque Zuckerberg também afirmou que irá criar uma classificação de “importância midiática”, que será usada para marcar publicações que violam as regras do Facebook, que a empresa já revisou, mas que serão mantidas na rede social porque possuem valor de notícia — por exemplo, caso uma postagem extremamente racista seja publicada por uma figura política. Essa medida cria dúvidas sobre se o Facebook está mesmo preocupado em acabar com o uso da rede social para a disseminação de campanhas de ódio e de desinformação, já que muitas delas tem relação direta com campanhas de marketing de figuras políticas. E, com a eleição para presidente dos Estados Unidos acontecendo em novembro deste ano, há um receio de que campanhas políticas baseadas no ódio a minorias sejam mantidas pela rede social por causa deste critério de “valor notícia”. Fonte: The Wall Street Journal, Vox, TechCrunch